Uma faísca de indignação se espalha pelas ruas do Brasil em plena pandemia. Nas últimas semanas, cresce a revolta contra o governo Bolsonaro, contra suas medidas desastrosas frente à pandemia do novo coronavírus que aprofundam a crise vivida no país e contra os atos protagonizados por seus apoiadores pedindo medidas antidemocráticas e inconstitucionais.
Soma-se a isso a indignação com os casos recentes de assassinatos do povo negro no país, inclusive de crianças. A onda de protestos contra o assassinato do norte-americano George Floyd, que se alastrou pelo mundo, contribuiu para que a sociedade brasileira colocasse em pauta a alarmante situação brasileira, onde o número de pessoas negras mortas polícia é 17 vezes maior do que nos Estados Unidos, insuflando a indignação contra o racismo estrutural.
Situação que gera um dilema para as frentes de oposição, que até então têm defendido a manutenção do isolamento social. Senadores de partidos de oposição publicaram uma nota recomendando que as pessoas não compareçam aos protestos e há quem veja nas convocações uma armadilha, como o sociólogo Luiz Eduardo Soares, para quem as manifestações seriam usadas para justificar um golpe, como a dupla Bolsonaro e Mourão demonstrou recorrendo às tradicionais acusações de que os manifestantes são baderneiros, marginais e terroristas. Já o deputado Glauber Braga (PSOL) pergunta: se nós recuarmos, os fascistas recuarão? Se nós avançarmos, eles recuarão?
Nesta sexta-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro sugeriu usar repressão policial para os protestos antifascistas marcados neste domingo (7) e prometeu usar forças de segurança federais contra quem “extrapolar os limites da lei” em atos contra seu governo. Durante uma inauguração, na cidade de Águas Lindas de Goiás, Bolsonaro pediu que a Polícia Militar faça “seu devido trabalho”. Ele ainda acrescentou que a Força Nacional vai atuar em manifestações que se denominam antifascistas.
Sábado tem “Fora Bolsonaro” na Redenção
Em meio a isso, novas manifestações estão sendo convocadas pedindo o “Fora Bolsonaro” em todo o país. Em Porto Alegre, foram convocados atos para o sábado e o domingo, por diferentes grupos.
No sábado (6), das 14h às 15h, será realizado um ato pela vida, emprego, renda e democracia no Parque da Redenção, junto ao Monumento ao Expedicionário. Convocada pela CUT-RS, a Intersindical, o Fórum pelos Direitos e Liberdades Democráticas, as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, a manifestação visa reforçar a luta pelo afastamento do presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL).
Segundo os organizadores, os manifestantes usarão máscaras e respeitarão o distanciamento, evitando a aglomeração de pessoas, conforme as recomendações sanitárias da Organização Mundial de Saúde (OMS). Quem for de grupo de risco deve continuar em casa e acompanhar a transmissão pelas páginas do Brasil de Fato RS e Rede Soberania e no Facebook, com retransmissão pelas páginas das organizações.
Haverá soltura de balões pretos em memória às vítimas do coronavírus no Rio Grande do Sul, cobrando uma revisão da política de “distanciamento controlado” do governador Eduardo Leite (PSDB), que os organizadores do ato afirmam que está sendo insuficiente para garantir a vida do povo gaúcho.
A manifestação também terá um caráter solidário. As entidades pedem que cada participante leve um quilo de alimento. As arrecadações serão destinados à campanha de solidariedade para quem mais precisa nestes tempos de pandemia. Promovida pela CUT-RS e sindicatos de sua base, a campanha já distribuiu mais de 40 toneladas de alimentos produzidos pela agricultura familiar na periferia de Porto Alegre, Novo Hamburgo, Esteio, Pelotas, Taquara e Lajeado, dentre outras cidades gaúchas. Em caso de chuva, o ato será remarcado.
Domingo tem antifascista na Esquina Democrática
Assim como nos domingos anteriores, neste dia 7 será realizado mais um ato anfitascista pela democracia e contra o racismo na capital. A concentração será a partir das 13h30, na Esquina Democrática, no centro de Porto Alegre. Os organizadores destacam que será um ato pacífico e pedem a todas e todos que observem algumas precauções para evitar o contágio pelo novo coronavírus. Além do uso obrigatório de máscara, pedem que se leve álcool em gel para higienização e que seja mantida a distância de 2 metros entre outras pessoas. Solicitam ainda que os manifestantes voltem para casa depois do ato e que se for de grupo de risco, ou residir com alguém que seja, que não vá.
Os protestos antifascistas denunciam as medidas do presidente Bolsonaro frente à covid-19, que contrariam as recomendações, e de seus apoiadores, que tem realizado manifestações contra a democracia. No último domingo, entre 100 e 150 pessoas compareceram ao ato, todos devidamente mascarados e buscando manter um distanciamento entre si.
Com apitos, bateria, cartazes e faixas, os manifestantes ficaram restritos por grades de bloqueio da Brigada Militar, onde permaneceram ecoando o grito antifascista: “Machistas, fascistas, não passarão”. Próximo dali, dezenas de outros manifestantes, vestindo verde-amarelo e carregando faixas que pediam “intervenção militar já, com Bolsonaro no poder” e “intervenção militar com Bolsonaro”, demonstravam apoio irrestrito ao presidente. Por cerca de duas horas, permaneceram em frente ao prédio do Comando Militar do Sul.
Edição: Katia Marko