Com a impossibilidade de realizar feiras devido à pandemia do novo coronavírus, a Rede Ubuntu, composta por grupos ligados a povos tradicionais de matriz africana, indígenas, quilombolas, pescadores, camponeses e da economia solidária do Rio Grande do Sul preparou um espaço virtual para comercialização de seus produtos. A Feira da Rede Ubuntu de Cooperação Solidária será realizada entre os dias 5 e 7 de junho, em evento no Facebook, oferecendo itens como artesanato, produtos afro, alimentos orgânicos, serviços e brechós.
Lisbet Santos Pinheiro é responsável pelo empreendimento Alecrim Dourado, que compõe a Rede. Ela conta que a Rede existe desde antes da pandemia, mas com o isolamento social, o grupo precisou se reinventar para recompor as fontes de renda. “Desde que iniciou a pandemia, os empreendimentos sentiram a necessidade de vender seus produtos, porque todo mundo ficou parado, e as necessidades batendo na porta, então começamos a nos coordenar e compartilhar os produtos pela internet”, assinala.
Foi em busca de estratégias coletivas que surgiu a ideia da feira virtual, aponta Gilciane Neves, que é oriunda do Movimento das Mulheres Negras e integrante do Centro de Assessoria Multiprofissional (CAMP). Ela explica que a Rede Ubuntu é um projeto desenvolvido pelo CAMP, em parceria com o Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana (FONSAPOTMA), a partir de edital do governo federal. Iniciou em 2018, com atividades de formação e assessoria técnica através da metodologia da educação popular, construção de feiras locais, entre outras ações, e segue por mais dois anos, quando a Rede se tornará autônoma.
“A Rede Ubuntu foi pensada a partir da demanda de empreendimentos da economia solidaria de povos tradicionais dos camponeses, indígenas e quilombolas para pensar formas de organização do consumo entre esses empreendimentos que se identificam com a economia solidária”, conta Gilciane. Ela relata que a iniciativa já conta com mais de 117 empreendimentos associados e realizou feiras em cidades como Santa Maria, Rio Grande e Porto Alegre.
É o caso de Lisbet, que é artesã há mais de 25 anos. Ela conta que já fez muitas feiras, mas aos poucos foi percebendo a necessidade de um trabalho mais solidário e coletivo, ainda mais quando se busca trabalhar de forma sustentável. “Fui sentindo a necessidade de me associar, ter grupos que se ajudem e se apoiem e abram mais caminhos, porque sozinho fica muito difícil.”
Ela destaca a importância da solidariedade. “Tu tem que olhar o outro com olhar de carinho, de irmandade e acolhimento. Se tem uma vizinha que faz crochê, uma faz tricô e outra bordado, buscamos nos unir para conjuntamente ter mais força para vender os produtos. Nessa cooperação, sempre respeitando o que o outro pensa e o que tu precisa e quer. É isso que o sistema capitalista não respeita, porque só vê o lado do patrão, do banqueiro, e não o outro lado. Nisso a gente tem nossa autonomia de escolher em trabalhar com coleta seletiva, produtos orgânicos, sustentabilidade, e tu vai montando teu grupo na economia solidaria.”
“A gente acredita numa economia popular e solidaria. Popular porque as pessoas que prestam serviços que são fundamentais para nossa sociedade também precisam ser incluídas nessa nova economia que a gente acredita”, afirma Gilciane. Ela reforça que as práticas não são baseadas no sistema capitalista, “mas no princípio da autonomia, autogestão, cooperação, solidariedade, valor do trabalho humano e respeito à natureza”.
Conforme Gilciane, a Rede Ubuntu é um desses espaços que vêm qualificando grupos, fazendo formações onde as pessoas se empoderam para criar estratégias de sobrevivência. “Não esqueçam, de 5 a 7, o dia inteiro, nós teremos produtos qualificados e serviços personalizados para oferecer”, conclui, reforçando o convite para a Feira da Rede Ubuntu de Cooperação Solidária.
A Rede Soberania promoveu um bate papo com Gilciane e Lisbet, nesta terça-feira (2), onde elas deram mais detalhes sobre a importância da economia solidaria e a Rede Ubuntu. Assista:
Edição: Katia Marko