Os ataques contra jornalistas aumentaram 54% de 2018 para 2019, primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro. O mais impressionante é que do total de agressões, 58% foram originadas pelo próprio Bolsonaro. Os dois percentuais, presentes no Relatório da Violência contra Jornalistas e da Liberdade de Imprensa no Brasil, foram relembrados pela presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Maria José Braga. Ela citou os dois números durante a live Violência contra jornalistas: as fake news e o ataque ao papel social do jornalismo, realizada ontem (1), Dia Nacional da Imprensa.
“O monitoramento da FENAJ acompanhou essencialmente os discursos oficiais do presidente e suas postagens no twitter da presidência”, observou. Diante das agressões, a federação tem procurado as empresas jornalísticas, onde entrou encontrou “uma atitude positiva”, e o Ministério Público. Como consequência das agressões, parte das empresas retirou seus profissionais do cercadinho na porta do Palácio da Alvorada onde Bolsonaro, de passagem, faz breves declarações, sempre recebidas aos gritos de aprovação de apoiadores que, diariamente, também se postam ali e hostilizam igualmente a imprensa.
Bolsonaro dá a senha
“O ambiente – notou a presidente – é propício para que aconteçam os ataques e as tentativas de descrédito da profissão”. E o que ocorre ali serve a outra finalidade. “Os ataques de Bolsonaro são a senha aos seus seguidores no país inteiro para agredirem os jornalistas física ou virtualmente”, interpretou.
Abordando a questão das fake news, Maria José disse que a indústria de informações falsas, operando principalmente nas redes sociais, além de disseminar mentiras ou notícias distorcidas ou até criminosas, busca também criar confusão e desacreditar o jornalismo.
Ataques às mulheres
Outra das participantes do debate virtual, a presidente do Sindicato de Jornalistas de Roraima, Adriana Cruz, acrescentou que, na maior parte das vezes, “quem produz notícias falsas não é jornalista”. A professora Ada Cristina Silveira, do Curso de Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ponderou que o ressentimento com a atividade jornalística também está apoiado na rejeição à maior diversidade e à alteridade promovidas pelos governos do PT. “Há pessoas que nunca concordaram com isso. Foram mobilizadas forças muito conservadoras”, opinou.
“A internet democratizou mas também degenerou”, destacou a jornalista e advogada Florany Mota, do Movimento Mais Mulheres na OAB (MMMOAB). Recordando as agressões especialmente contra as mulheres jornalistas, citou os casos de Patrícia Campos Mello e de Míriam Leitão. “É preciso processar judicialmente os agressores”, recomendou.
O Relatório da FENAJ de 2019 sobre a ofensiva contra os jornalistas e o jornalismo cita que, do total de casos, 114 foram de “descredibilização da imprensa”, enquanto 94 de agressões diretas a profissionais. Também registra dois assassinatos, 28 casos de ameaça e intimidação, 15 agressões físicas, 10 casos de censura ou impedimento do exercício profissional, cinco ocorrências de cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais, dois episódios de injúria racial e duas ações de violência contra a organização sindical da categoria.
Edição: Marcelo Ferreira