Gritos de “Fora Bolsonaro” ecoaram pelas ruas de capitais como Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro neste final de semana. Manifestantes de movimentos e coletivos sociais e políticos, de torcidas organizadas, estudantes e pessoas sem vínculo com nenhuma organização realizaram, neste domingo (31), novas manifestações contra o fascismo e contra o fechamento da democracia. Nesses atos, os manifestantes usavam máscaras de proteção. Já em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro voltou a prestigiar manifestações antidemocráticas, onde cumprimentou manifestantes sem fazer uso de máscara, contrariando a exigência do governo distrital para o combate à covid-19.
Na capital gaúcha, a estimativa é que entre 100 e 150 pessoas compareceram ao quarto domingo consecutivo de atos, todos devidamente mascarados e buscando manter um distanciamento entre si. Um cerco foi montado entre os manifestantes antifascistas e manifestantes pró-Bolsonaro, com mais de uma quadra de distância entre eles, no Centro Histórico de Porto Alegre, na rua dos Andradas, perto da rua General Bento Martins, onde está localizado o Comando Militar do Sul.
Com apitos, bateria, cartazes e faixas, os manifestantes se concentraram na Casa de Cultura Mário Quintana. Ficaram restritos por grades de bloqueio da Brigada Militar, onde permaneceram ecoando o grito antifascista: “Machistas, fascistas, não passarão”. Próximo dali, dezenas de outros manifestantes, vestindo verde-amarelo e carregando faixas que pediam “intervenção militar já, com Bolsonaro no poder” e “intervenção militar com Bolsonaro”, demonstravam apoio irrestrito ao presidente. Por cerca de duas horas, permaneceram em frente ao prédio do Comando Militar do Sul.
Para o dirigente estadual do PSOL/RS Mário Augusto de Azeredo as manifestações de domingo demonstram que as forças democráticas, populares e de esquerda têm o entendimento da urgência no enfrentamento aos fascistas e setores da direita golpista. “Não o fizeram antes por compreensão da necessidade de manter o isolamento no combate à covid-19. Porém, a luz vermelha acendeu com as declarações de Bolsonaro e seu filho Eduardo instigando seus apoiadores a fazer manifestações antidemocráticas e ameaçando as instituições do Estado”, avalia. Salientou ainda que, apesar da preocupação com a manutenção do isolamento e todos os cuidados de distanciamento e de higiene, não se pode deixar de contrapor os objetivos dos bolsonaristas.
“Já sofremos com uma ditadura civil-militar no nosso país. Não vamos permitir que isso aconteça novamente, em nome daqueles que tiveram seus corpos torturados combatendo o regime militar. Defendemos memória, verdade e justiça”, afirma Fernanda Pegorini, do diretório municipal da Unidade Popular pelo Socialismo. Segundo ela, “um governo que serve aos generais e aos banqueiros e escolhe abandonar a população à miséria, à fome e à morte, tem que cair pelas nossas mãos. Vencer esse projeto fascista de política e de sociedade é uma questão de sobrevivência”.
Com a dispersão do grupo verde-amarelo, os manifestantes antifascistas caminharam pelas ruas do centro histórico, onde pessoas nas janelas dos prédios manifestavam apoio. O ato foi concluído na Praça do Tambor, perto da Usina do Gasômetro, quando os manifestantes prometeram que “domingo que vem vai ser maior”.
São Paulo
Diferente da capital gaúcha, onde o ato transcorreu sem nenhum incidente, em São Paulo a Polícia Militar reprimiu o ato por democracia realizado também neste domingo (31). A manifestação foi puxada pela Gaviões da Fiel Torcida, Democracia Corinthiana e outros movimentos antifacistas, que se organizaram para impedir que o grupo pró-Bolsonaro protestasse na Avenida Paulista.
Segundo Sheila de Carvalho, advogada que está acompanhando a manifestação, o ato iniciou pacífico. Ela explica que em dado momento, a PM realizou a escolta de uma manifestante identificado com Bolsonaro. Antes disso, duas mulheres bolsonaristas entraram em meio à multidão das torcidas organizadas e proferiram algumas palavras contra o ato. Integrantes das torcidas organizadas reagiram a esses gestos, e nesse momento, a polícia tomou a iniciativa de atirar bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.
Questionada pelo Brasil de Fato sobre o que levou a PM a atirar bombas contras os manifestantes, a Secretaria de de Segurança Pública (SSP) respondeu que "durante os trabalhos, houve briga generalizada e a PM atuou para impedir o conflito entre os grupos antagonistas". A SSP informou que cinco pessoas foram detidas e não disse qual é a situação nem o nome das pessoas. Um homem, de 43 anos, foi agredido pelos investigados e socorrido à Santa Casa.
Rio de Janeiro
Já no Rio de Janeiro os atos aconteceram em Copacabana e em Laranjeiras. Em Copacabana, os atos pró e contra Bolsonaro terminaram com a Polícia Militar (PM) utilizando spray de pimenta e bombas de gás para dispersar os militantes.
Em Laranjeiras, as manifestações aconteceram em frente do Palácio Guanabara. Com a bandeira “Vidas Negras Importam”, mesmo lema impulsionado por uma série de protestos que estão acontecendo desde a última segunda-feira (25) nos Estados Unidos, após um homem negro ter sido morto durante uma abordagem policial, manifestantes no Rio pediram o fim de operações violentas em favelas. Durante os protestos, via-se uma foto do menino João Pedro, morto no último dia 18 de maio em sua casa, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do RJ.
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. Familiares afirmam que o menino foi morto por policiais. Na última sexta-feira (29), o laudo da morte de João Pedro apontou que ele foi assassinado com um tiro pelas costas.
Paraná
Em Curitiba, capital paranaense, cerca de 100 manifestantes, na maioria integrantes de coletivos antifascistas de torcedores do Atlético Paranaense, Coritiba e Paraná, além de militantes do Partido da Causa Operária (PCO), bloquearam no início da tarde a Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico, de onde partiria uma carreata convocada por bolsonaristas. A Polícia Militar foi acionada e fez um cordão de isolamento separando os dois grupos.
Bolsonaristas em Brasília
No ato bolsonarista em Brasília, que defendeu medidas inconstitucionais e antidemocráticas, além de circular a pé e sem máscara junto de seus apoiadores, Bolsonaro requisitou um helicóptero oficial para sobrevoar a Esplanada dos Ministérios. Em outro momento, o presidente montou em um cavalo da patrulha militar e cavalgou entre os manifestantes.
Pelo Twitter, Bolsonaro publicou um print de uma mensagem de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, em que o estadunidense diz que classificará "Antifa" como organização terrorista. Antifa é uma abreviação de antifascista e refere-se a grupos que lutam contra o fascismo no mundo, como é o caso dos atos antifascistas realizados no Brasil.
Nos Estados Unidos, Trump enfrenta, após o assassinato de George Floyd por policiais militares, uma série de protestos contra o racismo e o genocídio da população negra.
* Com informações do Sul21, Brasil de Fato e Diário do Rio
Edição: Marcelo Ferreira