Na enfermagem, a maioria das vítimas são mulheres. Na medicina, a predominância é dos homens. Os dados foram levantados e atualizados pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e o Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp).
Entre o pessoal de enfermagem, 17.628 profissionais haviam contraído a doença ou estavam sob suspeita de infecção ou, ainda, foram examinados e liberados sem confirmação, segundo o levantamento do Cofen. Deste total, 5.557 permaneciam em quarentena, 10.678 em observação e 896 com exame negativado. E 333 enfermeiros e enfermeiras estavam hospitalizados.
Sudeste lidera em casos e mortes
Tanto em termos de casos ou de óbitos, há uma maioria de mulheres. Representam 84,8% dos casos e 63,4 das mortes. Os óbitos por idade da vítima mostram que a maioria aconteceu nas faixas de 41 a 50 anos (45) e de 51 a 60 anos (41). Mas foram expressivos também entre 31 e 40 anos (34).
A região Sudeste lidera em contaminações (48,4%) e mortes (44,5%), seguida pela Nordeste, responsável por 31,6% dos casos e 26,2% dos óbitos. O Rio de Janeiro aparece com 36 vidas perdidas, acompanhado por São Paulo (35), Pernambuco (24), Amapá (13) e Amazonas (11). Enfermeiras e enfermeiros infectados são 3.917 em São Paulo, 3.633 no Rio, 2.004 na Bahia e 1.064 em Pernambuco, estados mais afetados.
Salário baixo e alto contágio
“Com os mais baixos salários, condições de vida difíceis e jornada dura, as (os) técnicas(os) e auxiliares sentem, de forma desproporcional e alarmante, os efeitos da pandemia”, afirmam o Coren e a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) no Manifesto em Defesa da Enfermagem e do SUS. “São as (os) mais expostas (os) ao contágio, com pouca proteção e retaguarda”, advertem. “São as (os) grandes heroínas(ois) do cuidado, mas são também seres humanos, que têm as mesmas necessidades e estão sujeitas (os) aos mesmos fatores de risco da população”, acentuam.
O texto pede a aprovação urgente do pagamento de insalubridade para os profissionais de enfermagem e da pensão para familiares de mortos em serviço. “É hora do Congresso Nacional discutir, enfim, o piso salarial nacional, e desengavetar a jornada de 30 horas, proposta aprovada em todas as comissões, que chegou à maioridade sem votação”, enfatiza.
Indenização para a família
Nota afirma ainda que “a pandemia demonstra, de maneira alarmante, para os ideólogos do individualismo sem limites, que a Saúde não pode ser tratada sem dimensão de coletividade. O SUS, mesmo subfinanciado por três décadas e desfinanciado sob a vigência da Emenda Constitucional 95, está na vanguarda do enfrentamento da covid-19 no Brasil. Defendemos a revogação da EC 95, que congelou por 20 anos o financiamento do SUS”.
No dia 21, a Câmara dos Deputados aprovou, em sessão virtual, o projeto de lei 1826/2020, que autoriza o Executivo a criar o programa de apoio para atenuar possíveis consequências para os profissionais que enfrentam a covid-19. A proposta foi apresentada pelos deputados Reginaldo Lopes (PT/MG) e Fernanda Melchionna (PSOL/RS), recebeu parecer favorável do deputado Mauro Nazif (PSB/RO) em todas as comissões, e seguiu para apreciação do Senado.
O programa vai financiar indenização de R$ 50 mil para familiares de enfermeiras e enfermeiros que atuam diretamente no combate à pandemia e venham a falecer. Além disso, profissionais do SUS que vierem a ser contaminados também terão direito a auxílio.
Pouco equipamento e muito trabalho
No levantamento do Simesp, a primeira morte de médico por coronavírus aconteceu no Rio, no dia 22 de março. Naquele mês, ocorreram apenas duas mortes. No mês seguinte, porém, foram 58. Em maio, até o dia 25, aconteceram 64. É uma média, nota o sindicato, de quase duas mortes por dia. Os locais mais afetados são o Rio (36 óbitos), São Paulo (28) e o estado do Pará (25). Quarenta e um por cento das vítimas tinham mais de 60 anos. Oitenta e três por cento eram homens e 17% mulheres.
Além da idade e das comorbidades, o Simesp entende que as mortes estão também relacionadas com “a falta de equipamentos de segurança individual (EPIs), serviços mal estruturados e cargas de trabalho extenuantes”.
Edição: Katia Marko