Morreu nesta manhã de 29 de maio, o jornalista Gilberto Dimenstein, fundador da Catraca Livre, aos 63 anos, em decorrência de câncer. É outra dor nestes tempos tão doloridos. Dimenstein se foi, tão jovem ainda, combativo até o fim, posicionado, ético, às vezes politicamente controverso – mas sempre no campo da disputa democrática.
No início da minha trajetória como jornalista, Dimenstein era dos meus colunistas favoritos na Folha de S.Paulo – pela qualidade, pela acidez, pela profundidade da informação, pelo contexto que dava à coluna, pela defesa dos Direitos Humanos.
Dimenstein me influenciou profundamente na militância política na área dos Direitos Humanos; assim como o jornalista Marcos Rolim – de quem fui estagiário na época em ele presidiu a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia gaúcha como deputado pelo PT. Foi também por gostar do trabalho do Dimenstein e de Elio Gaspari – e do tipo de jornalismo que era praticado na Folha em meados dos anos 90 – que me inscrevi, fiz os testes, fui aprovado e passei um breve período em São Paulo, no Programa de Trainee da Folha, em 1998. Só por uma razão como esta eu deixaria o trabalho com o Rolim e a sua grande equipe do PT na Assembleia Legislativa.
Numa das fotos, o volume “Democracia em Pedaços – Direitos Humanos no Brasil”, de Dimenstein cuja a introdução é do diplomata Paulo Sérgio Pinheiro que, anos depois, presidiu a Comissão da Verdade no primeiro governo Dilma. Este é um dos livros essenciais na minha formação de jornalista e militante dos Direitos Humanos – comprei em abril de 1996, quando estava começando a carreira de repórter no Jornal NH, de Novo Hamburgo (RS) e trabalhava na Editoria de Polícia.
Depois fui me distanciando politicamente do Dimenstein pelas suas posições de defesa do PSDB em contraposição a uma crítica cada vez mais frequente aos governo do PT, criticava com qualidade, mas com a insistência de quem escreve com lado – o que sempre achei legítimo, justo e necessário no jornalismo. Nos últimos tempos, o Catraca Livre, criado por ele, tinha virado uma das pedras nos coturnos da máfia miliciana que nos (des)governa.
Esteja em paz, Gilberto. Obrigado pelas lições de humanismo, de contraditório democrático e de ativismo através do bom jornalismo.
* Jornalista
Edição: Katia Marko