Rio Grande do Sul

CORONAVÍRUS

Primeira etapa do estudo da UFPel aponta 7 vezes mais casos de covid-19 no Brasil

Já a quarta etapa do estudo no RS indica que número de casos no estado é três vezes maior do que os registros oficiais

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Pesquisa é feita a partir da coleta de uma gota de sangue para identificar anticorpos - Daniela Xu / UFPel

A pesquisa de prevalência da covid-19 no Brasil, coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com apoio do Ministério da Saúde, aponta subnotificação da doença no país. O resultado da primeira etapa do estudo foi divulgado na segunda-feira (25) e estima que podem haver até sete vezes mais casos de contaminação pelo novo coronavírus do que os apontados pelos balanços oficiais do Ministério da Saúde.

A UFPel divulgou também, nesta quarta-feira (27), os resultados da quarta etapa da pesquisa no Rio Grande do Sul. Os dados sugerem estabilidade da prevalência de pessoas com anticorpos para o coronavírus nas últimas semanas no estado. A estimativa é que existe um infectado a cada 562 habitantes e que o número total de pessoas que já contraíram o vírus é de 20,2 mil, três vezes mais do que aponta o levantamento oficial do governo estadual.

Brasil: várias epidemias num só país

Denominado EPICOVID19-BR, o estudo nacional foi realizado entre os dias 14 e 21 de maio, quando mais de 25 mil pessoas foram testadas em 90 cidades brasileiras, incluindo 21 das 27 capitais. A proporção de pessoas com anticorpos foi estimada em 1,4%, o que indica que 760 mil brasileiros já foram infectados nessas cidades. Na véspera da publicação do resultado, os dados do Ministério da Saúde apontavam 104 mil casos confirmados nestas 90 cidades.

O número de sete vezes mais casos na população do que o apresentado nas estatísticas oficiais preocupa os pesquisadores: “De cada sete pessoas com o coronavírus, apenas uma sabe que está ou esteve infectada. Isso é preocupante, visto que as demais pessoas que não sabem da infecção podem, involuntariamente, transmitir o vírus para outras pessoas”.

A pesquisa destaca que a diferença por regiões do Brasil é marcante. As 15 cidades com maiores prevalências incluem 11 da Região Norte, 2 do Nordeste (Fortaleza e Recife) e 2 do Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo). Na Região Sul, apenas Florianópolis apresentou prevalência superior a 0,5%. Na Região Centro-Oeste, a pesquisa não encontrou nenhum caso positivo nas 9 cidades estudadas, embora já existam casos e óbitos notificados.

Segundo os pesquisadores, “esse resultado confirma o que já vinha sendo sugerido pelas estatísticas oficiais, de que a Região Norte tem o cenário epidemiológico mais preocupante do Brasil”. As diferenças entre as cidades do Brasil foram ainda mais marcantes. Na cidade de Breves (PA), a proporção da população que tem ou já teve coronavírus foi estimada em 24,8%, ou seja, cerca de 25 mil dos 103 mil habitantes da cidade estão ou já estiveram infectados.

O segundo resultado mais alto foi observado em Tefé (AM), onde estima-se que 19,6% da população tenha anticorpos para o coronavírus. Isso significa que 12 mil dos 60 mil habitantes do município estão ou já estiveram com o novo coronavírus.

15 cidades com maior proporção da população com anticorpos para o coronavírus. / Divulgação UFPel

Os resultados da primeira fase do EPICOVID19-BR para a cidade mais populosa do Brasil, São Paulo, com 12,2 milhões de habitantes e 3,1% da população com anticorpos, estimam que 380 mil moradores da capital paulista tenham anticorpos contra o coronavírus. Ou seja, somente uma cidade tem mais casos do que as estatísticas oficiais mostravam para todo o país no dia da divulgação dos resultados da pesquisa. No Rio de Janeiro, com 6,7 milhões de habitantes e 2,2% da população com anticorpos, o número estimado de pessoas que têm ou já tiveram o coronavírus é de 147 mil.

10 capitais com maior proporção de anticorpos na sua população / Divulgação UFPel

“Essas diferenças entre as cidades demonstram que existem várias epidemias num único país. Enquanto algumas cidades apresentam resultados altos, comparáveis aos de Nova Iorque (Estados Unidos) e da Espanha, outras apresentam resultados baixos, comparáveis a outros países da América Latina, por exemplo”, destacam os pesquisadores.

O estudo avaliou ainda o grau de cumprimento da população com as medidas de distanciamento social. Os dados são referentes ao período de coleta dos dados (14 a 21 de maio) e foram obtidos diretamente por meio das respostas dos participantes ao questionário aplicado pelos pesquisadores. Nos estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina, mais de 65% dos entrevistados relataram cumprir com as medidas de distanciamento social. Em Alagoas, no Maranhão e em Roraima, menos da metade dos entrevistados relatou cumprir as medidas de distanciamento.

RS: estabilidade de infectados e pouca exposição ao vírus


Resultado foi divulgado pelo governo estadual / Divulgação Gov RS

A quarta fase do estudo no estado revela que a prevalência do coronavírus segue baixa, indicando um infectado para cada 562 habitantes, ou 0,18% da população já exposta ao vírus, com anticorpos. Os números foram apresentados nesta quarta-feira (27) pelo governador Eduardo Leite e pelo reitor da UFPel e coordenador da pesquisa, Pedro Hallal, em transmissão ao vivo pelas redes sociais.

As estimativas apontam 1.778 infectados reais para cada um milhão de habitantes, contra 580 casos notificados. Essa relação de estimativas de casos reais e casos notificados era de oito vezes na primeira fase, subiu para 12 vezes, quinze dias depois, e passou para nove vezes na terceira fase. Agora, essa proporção é de três casos não notificados para cada caso notificado, apontando diminuição da subnotificação por aumento da testagem.

Conforme Hallal, os resultados são positivos mas não autorizam ninguém a dizer que a “epidemia não é tão grave assim”. Na avaliação do governador, os números mostram uma efetiva estabilidade no quadro de contágios. Porém, ele destacou a proximidade do inverno no estado, "quando ficamos mais tempo em locais fechados. Por isso vai ser muito importante mantermos essa parceria”, afirmou, referindo-se à pesquisa da UFPel.

No que se refere ao isolamento social, o estudo mostra que apenas 31,5% da população sai de casa diariamente, uma variação de 1,1 ponto percentual em relação à fase anterior da pesquisa. Considerando todas as fases da pesquisa até aqui, observa-se que há um movimento suave na retomada das atividades, sendo que a proporção de pessoas que nunca saem de casa diminuiu dois pontos percentuais em relação à fase anterior, passando de 16,5% para 14,5%.

Do total de oito testes positivos encontrados nessa quarta fase da pesquisa, quatro foram em Passo Fundo, dois em Uruguaiana, um em Pelotas e um em Porto Alegre. Nesse sentido, a região de Passo Fundo segue sendo um caso a ser observado mais de perto.

O teste utilizado (WONDFO SARS CoV 2 Antibody Test) avalia anticorpos produzidos pelo organismo após a infecção, e não identifica o vírus ativo logo após o contágio. Ele pode produzir 15% de falsos negativos e 1% de falsos positivos. Ainda assim, foi recentemente avaliado como uns dos melhores no mercado. A pesquisa terá ainda outras quatro fases. A previsão é realizar até 16 de agosto, entrevistas e testes com mais 18 mil pessoas nas nove cidades sentinelas.

Edição: Marcelo Ferreira