Rio Grande do Sul

CAUTELA

Cremers e governo do RS destacam autonomia do médico na prescrição de cloroquina

Ministério da Saúde publicou protocolo de uso do remédio para casos leves de covid-19, mesmo sem comprovação científica

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Cerca de 27,8% dos pacientes que tomaram hidroxicloroquina paralelamente ao tratamento padrão morreram; entre os que não tomaram, percentual de mortes foi de 11,4% - GERARD JULIEN / AFP

Após o Ministério da Saúde publicar, nesta quarta-feira (20), um protocolo para a ampliação do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento “precoce” contra covid-19, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers) manifestou cautela COM o uso do medicamento. “O Cremers manifesta seu posicionamento técnico, que aponta que não existem evidências científicas que demonstrem real benefício na utilização do medicamento”, diz nota da entidade, assinada pelo seu presidente, o Dr. Eduardo Neubarth Trindade.

Conforme a nota, fica reforçada a autonomia do médico na prescrição de medicamentos no tratamento de pacientes com covid-19. “Não se pode politizar o uso da cloroquina. Até o presente momento, não há um tratamento específico para a Covid-19. Temos que ter cuidado na recomendação de tratamentos sem evidências, no sentido de criar uma falsa sensação de segurança na população”, alerta o presidente do Conselho.

A nova orientação do Ministério da Saúde designa a medicação para tratar também infectados com sintomas leves ou moderados. Antes, a medicação só era prevista pelo governo para casos graves e críticos em hospitais. O próprio texto, que apresenta recomendações sem a assinatura de qualquer profissional da saúde, alerta que “não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica para a covid-19”.

O Ministério da Saúde publicou, ainda, um modelo de termo de consentimento a ser assinado pelos pacientes submetidos ao medicamento. Conforme o acordo de consentimento proposto, o paciente que deve aceitar os riscos e concordar que “não existe garantia de resultados positivos, e que o medicamento proposto pode inclusive agravar minha condição clínica, pois não há estudos demonstrando benefícios clínicos”.

Governo do RS diz que protocolos no estado não mudam

Em videoconferência realizada também nesta quarta-feira, a secretária de Saúde, Arita Bergmann, se posicionou com a mesma cautela com relação a prescrição do medicamento. Destacou que cabe ao médico determinar a sua aplicação. A mesma posição foi manifestada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) durante a transmissão. O governo compreende que a medida é uma recomendação e por isso os protocolos de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina não devem ser alterados no estado.

Conforme a secretária, "o que se sabe, e o governo do estado tem um comitê científico pra isso, é que alguns estudos demonstram que não tem eficácia”. Já o governador afirmou que “quem deve tomar a decisão sobre a administração da cloroquina é o médico que trata seu paciente de acordo e em com o acordo dele e ciente dos efeitos colaterais que pode ter segundo a ciência apura”.

 

 

Edição: Marcelo Ferreira