Rio Grande do Sul

EDUCAÇÃO

Mobilização nacional estudantil pelo adiamento do Enem tem Tsunami Solidário no RS

No dia em que completa um ano do Tsunami da Educação, ato denuncia que manter o exame desconsidera situação de pandemia

Brasil de Fato | Porto Alegre |
UNE e UBES promovem agenda de mobilização virtual nesta sexta-feira (15) com debates e ação nas redes sociais - Reprodução

Nesta sexta-feira (15), dia em que marca um ano do Tsunami da Educação, protesto que mobilizou milhares de estudantes brasileiros contra os ataques do governo Bolsonaro às instituições públicas de ensino, a União Nacional dos Estudantes (UNE) organiza uma mobilização nacional contra a manutenção do calendário do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano. A organização, ao lado da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e diversos setores da juventude de movimentos sociais, entidades, partidos e sindicatos, defende o adiamento da data da prova por conta da pandemia do coronavírus e a criação de um grupo amplo para discutir novas datas que levem em consideração condições de estudo mais adequadas.

As entidades estão com uma programação de atividades para esta sexta. A partir das 10h, iniciou a ação Tsunami de comentários nas redes do Ministério da Educação (MEC) com a tag #AdiaENEM. À tarde, duas lives serão transmitidas pelo YouTube da Ubes (@ubesoficial): às 14h30 ocorre o Tsunami da Educação virtual e às 16h ocorre um debate sobre o adiamento do exame. Às 18h, as organizações promovem um twitaço, uma campanha incentivando que todos postem fotos com cartazes e ilustrações com a tag #AdiaENEM.


Card das entidades com a programação virtual do ato nacional / Divulgação

Na segunda-feira (11), as entidades protocolaram um mandado de segurança no Superior Tribunal de Justiça (STJ), solicitando o adiamento do Enem. De acordo com Iago Montalvão, presidente da UNE, a decisão da pasta não considera as condições enfrentadas pelos estudantes, principalmente aqueles das redes públicas de ensino, durante a pandemia. “São milhões de estudantes que se preparam para essa prova e com uma insensibilidade total do Ministério da Educação em não adiar as datas, sendo que os estudantes estão com as aulas suspensas. E justamente aqueles estudantes mais pobres é que, nesse momento, se prejudicam, porque não têm as condições necessárias para estudar em casa”, argumenta.

Tsunami da Solidariedade no RS


Manifestação em frente a uma agência da Caixa em Porto Alegre na manhã desta sexta-feira / Divulgação UEE-RS

No Rio Grande do Sul, além da mobilização virtual, entidades do movimento estudantil e social do estado se somam à campanha nacional realizando um Tsunami da Solidariedade. Conforme explica o 2º diretor da UNE, Lucas Gertz Monteiro, o ato é unitário e reúne no estado diversas organizações,: UNE, UEE, JPT, UJS, Levante Popular da Juventude, Afronte, Rua e UJR. “A juventude gaúcha em unidade fará um dia de distribuição de máscaras no centro de Porto Alegre e trará o debate em torno da necessidade do adiamento do Enem, da desigualdade no ensino brasileiro, da necessidade de investimentos na Educação Básica e Superior do país e do papel da ciência no combate à covid-19”.

Lucas também afirma que a realização da prova não cabe na realidade do momento que o Brasil e o mundo estão vivendo, reforçando a importância do isolamento social para a preservação da vida das pessoas. Destaca ainda que “uma parcela significativa da juventude brasileira não possui as mesmas condições de acesso às ferramentas essenciais para atividades virtuais. E mesmo que houvesse, existem outros fatores socioeconômicos e de aprendizagem que torna o processo ainda mais desigual entre os estudantes que estão para realizar a prova”.

O militante do Levante Popular da Juventude Vítor Martins destaca que a ação neste 15 de maio rememora os Tsunamis da Educação de 2019, “que levaram milhares de estudantes às ruas contra as aventuras autoritárias e obscurantistas de Abraham Weintraub, entre elas o Enem, que sempre foi um campo de disputa entre o MEC e as organizações de estudantes”. Na sua avaliação, desde 2019, o ministro vem interferindo de forma a descredibilizar o exame, que foi “uma das maiores iniciativas de democratização do acesso ao Ensino Superior dos governos do PT”.


Em Porto Alegre, os atos em defesa da educação reuniram dezenas de milhares de pessoas em 2019 / Marcelo Ferreira

“Nem a pandemia conseguiu frear o governo Bolsonaro e seu ministro de estimação de cometerem atrocidades contra a vida e o futuro do povo brasileiro, pelo contrário, o colapso do SUS e a suspensão das aulas presenciais em todo o país têm sido usados para justificar ou acobertar manobras que ferem tanto a integridade física imediata das pessoas quanto sua oportunidade de instrução”, aponta Vítor, criticando também o atraso no pagamento da segunda parcela da renda emergencial. Para ele, a realização do Enem é prejudicial aos estudantes que têm pouco ou nenhum acesso à internet, que são mais de 30% no país.

“Por isso, nessa sexta, destacamos algumas pessoas para irem às filas da Caixa Econômica Federal e comunidades de todo o Brasil, denunciando ambas posturas, que demonstram desprezo ao nosso povo trabalhador, levando o debate do #AdiaEnem aliado à solidariedade para com o povo. Estaremos distribuindo Equipamentos de Proteção Individual, levando cartazes e faixas exigindo o adiamento do Enem e #ForaBolsonaro, além da campanha nas redes já que não podemos estar juntos nas ruas”, explica.

Juliana Bimbi, da coordenação do coletivo Afronte RS, também destaca que o Tsunami Solidário aproxima os estudantes daqueles que estão passando necessidades e enfrentando burocracias para conseguir os auxílios. “A partir da nossa solidariedade é que conseguiremos abrir um diálogo sobre os novos ataques que estamos enfrentando e a necessidade de derrubar o governo de Bolsonaro”.

Para ela, é “inaceitável a política do ministro Abraham Weintraub que se utiliza da pandemia para aprofundar um projeto que torna o acesso ao ensino superior ainda mais desigual no Brasil”. A postura de não adiar o Enem favorece aqueles que têm condições de, em meio à crise sanitária, seguir estudando e acompanhando aulas EAD, critica: “É dizer que não têm o direito de entrar na universidade as estudantes que são mães e estão se virando para cuidar dos filhos 24 horas por dia, os estudantes que não têm acesso à internet ou a um equipamento de qualidade, aqueles que sofrem com problemas de saúde mental, os estudantes que estão doentes ou cuidando de familiares doentes”.

A memória do Tsunami da Educação nos atos pelo adiamento do Enem também foi ressaltada por Juliana. “É essencial que esse movimento siga vivo na memória dos brasileiros, pois foi a maior mobilização de massas contra o governo Bolsonaro até agora. Relembrar os dias 15 e 30 de maio, assim como o dia 14 de junho do ano passado é não esquecer, nesse momento de profunda desesperança, que a nossa ação conquista direitos, impede ataques e até derruba governos”.

Universidades e institutos federais do RS pedem adiamento

Na quarta-feira (13), reitores e reitoras de sete universidades e três institutos federais do Rio Grande do Sul lançaram uma manifestação conjunta pedindo o adiamento da data do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) de 2020. O grupo aponta que a manutenção da prova não está de acordo com a realidade de distanciamento social e com a suspensão das atividades escolares.

Abaixo-assinado

A UNE e a UBES lançaram um abaixo-assinado virtual pedindo o adiamento “para que nenhum estudante tenha seu ingresso na universidade prejudicado pela crise da covid-19 e pelo MEC”. Você pode assinar no site http://adiaenem.com.br/.

Edição: Katia Marko