Vivemos tempos dignos dos filmes do expressionismo alemão
Desde a eleição que tornou presidente Jair Bolsonaro, um luto tomou conta da Cultura brasileira. Numa de suas primeiras ações acabou com o Ministério da Cultura, um claro ataque a tudo que representava este ministério, criado em 1985, que era uma espécie de símbolo da redemocratização. E isso foi apenas o início do que tornou-se o maior processo de desmanche cultural vivido no país desde a ditadura, instalada no país entre 1964-1985.
Nós, do lado de cá, na lida como trabalhadoras das artes e da cultura, nos vimos cada vez mais encurralados e sem perspectivas, nós não somos bem vindos, nós não somos parte do patrimônio de um país, que é mundialmente conhecido pela riqueza de sua cultura e seus artistas. Nós fomos sendo colocados no escaninho dos “mamadores de teta”.
Políticas públicas, diga-se de passagem, de toda a ordem, não somente as de Cultura, desapareceram. Ironia ou não a direita é especialista em fazer desaparecer pessoas e instituições. Ainda hoje queremos saber onde estão os mortos e desaparecidos pela ditadura. Ainda hoje ninguém foi julgado e condenado por tortura (crime de lesa-humanidade, informação para os desavisados), mortes e desaparecimentos. Fecho aqui o aparte que concedi a mim própria.
Nós vemos, desde a posse, um jogo asqueroso de troca-troca de ministros. Porque pra ser ministro neste desgoverno é preciso ser como cão. Obedecer sempre o dono, mostrar a língua quando ele pede, abanar o rabo quando ele diz: ‘e daí?’. Caso contrário será trocado. Este governo não quer agentes públicos que pensem, que proponham, que debatam. Ele exige fé cega. Por isso rolaram as cabeças de aliados que, pra nós que estamos do lado canhoto da história, pareciam servir muito bem aos interesses da direita e seu projeto. Mas para o filhote da ditadura, não era suficiente. Obedecer, obedecer e obedecer deve ser lema para seus súditos.
O mesmo ocorreu com a Secretaria especial de Cultura e a FUNARTE, vimos um desfile digno de filmes do expressionismo alemão. Entre os mais célebres estão Roberto Alvim (ex-secretário especial da Cultura), nosso Goebbels tupiniquim, que caiu depois do patético pronunciamento/cena que pretendia marcar a nação com a ressurreição da Alemanha nazista dos trópicos, ao ponto de usar um trecho do próprio encarregado da comunicação de Hitler, parecendo querer rir de todos os trabalhadores das Artes, especialmente os de teatro. Mas não pegou muito bem e o “UBU” do Palácio da Alvorada fez com que ele rolasse rampa abaixo: “A la trampa!!!”
Tem ainda o patético Dante Montovane, o maestro terraplanista, que acredita, junto com o seu mestre astrólogo, que o rock é coisa do demônio. Demitido e quase reconduzido ao posto de Diretor da FUNARTE, salvo por um show de horrores da ex-atriz Regina Duarte, na CNN.
Nós, trabalhadores das Artes e da Cultura percebemos que era preciso nos reorganizarmos para defender a Democracia e a Liberdade de expressão e com elas o nosso ofício e direitos. A ATAC – Articulação dos Trabalhadores das Artes da Cena em defesa da Democracia e Liberdade reuniu desde o princípio agentes vindos de diversos estados da Federação. Tendo se constituído, efetivamente, em encontro realizado em dezembro de 2019. Na carta manifesto daquele encontro, esta articulação deixava clara a sua vocação: “(...) Nossa proposta de convocação visa a facilitar espaços de atuação unificados entre ações, movimentos e entidades que possuam como objetivo a salvaguarda e a ampliação do direito à arte, além da defesa da democracia e da liberdade de expressão no Brasil hoje.”
De lá pra cá, a pandemia fez revelar-se ainda mais ignominiosa a face deste projeto totalitário e de seus ridículos soldados. Estamos diante da iminência de um Golpe, com direito a SA (Sessão de Assalto do Partido Nazista ou em linguagem atual, milícia armada bolsonarista) e tudo mais como ameaças e intimidações as instituições democráticas. “Nós temos um comboio organizado para chegar a Brasília até o final desta semana. Pelo menos uns 300 caminhões, muitos militares da reserva, muitos civis homens e mulheres, talvez até crianças, para virem para cá e darmos cabo dessa patifaria”. Terror e Miséria no Terceiro Reich brasileiro. E havia quem pensasse que Brecht era ultrapassado. Seguimos na luta!
Edição: Katia Marko