Diante do enfrentamento ao coronavírus, sem respostas sobre como será o cenário do próximo mês, ou mesmo da próxima semana, são muitos os questionamentos sobre o futuro, seja em espaços domésticos ou entre lideranças mundiais. Para buscar algumas dessas respostas, um grupo de pesquisadores gaúchos se uniu para, a partir da modelagem computacional, traçar projeções sobre as tendências relativas à covid-19. A especificidade do PampaNerds, como o grupo foi chamado, é que os pesquisadores se dedicam especificamente ao contexto do Rio Grande do Sul.

O grupo é composto de pesquisadores de quatro universidades gaúchas. É integrado pelo professor Marcelo Pias, da área de Engenharia da Computação da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e pelos pesquisadores Jorge Audy, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Rodrigo Guerra, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Ricardo Araújo, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ainda fazem parte da equipe o economista Ely Mattos, professor da PUCRS, o epidemiologista Fernando Hartwig, professor da UFPel, e o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do estado, Luís Lamb, que é cientista da computação

“Diferentemente de estudos feitos por grupos do exterior para o Brasil, o nosso grupo focou nas peculiaridades do nosso Estado, e fortemente baseado na modelagem computacional”, explica o professor Marcelo Pias, da FURG. Ele completa: “Isso também significa que por estarmos na região, sermos ‘locais’, podemos conversar de forma mais direta sobre os nossos resultados aplicados ao Estado do Rio Grande do Sul”.

Conforme o professor, a ideia surgiu da necessidade de se ter dados de estimativas sobre a utilização de leitos hospitalares de UTI no Rio Grande do Sul. “Com isto, um dos integrantes do grupo conectou pesquisadores e com isto trouxe as disciplinas de epidemiologia, saúde, economia, computação e engenharia, que no nosso entendimento precisam ser combinadas em uma frente única de trabalho para avançarmos iniciativas de combate à pandemia da covid-19”, conta Pias. O grupo iniciou as atividades no dia 27 de março e só veio a público na última quarta, 6, quando foi lançado o site www.pampanerds.org http://www.pampanerds.org/ , já com o primeiro relatório publicado.

Distanciamento social foi mais efetivo no início

Com base em estudos sobre o avanço da covid-19, que incluem a pesquisa populacional realizada pela UFPel e trabalhos internacionais, o grupo analisa como a pandemia tem avançado no RS, para projetar o futuro, a partir de programação e milhares de simulações utilizando sistemas computacionais. Para isso, leva em consideração o histórico de casos confirmados no estado, a subnotificação e também o tempo entre o contágio e a confirmação (média de 5 dias).

Uma variável importante na pesquisa é relativa ao contágio, a quantas pessoas podem ser contaminadas a partir do contato com um doente. E é especialmente levando este número em conta que os pesquisadores chegam à conclusão de que no Rio Grande do Sul, “houve um efeito significativo decorrente da adesão da população às medidas restritivas de mobilidade e distanciamento social”, conforme aponta o relatório, indicando uma redução de contágio no período de 2 a 16 de abril.

O relatório destaca que “este é um resultado positivo, pois demonstra que a população gaúcha é capaz de alcançar os níveis altos de distanciamento necessários para enfrentar o avanço da pandemia de covid-19”. Porém, o documento também demonstra uma tendência negativa: no período seguinte a 16 de abril, os cientistas observaram uma elevação do contágio, “o que indica um relaxamento na adesão da população gaúcha às medidas de distanciamento social, mesmo antes do processo de flexibilização em curso, em especial no interior do Estado”.

UTIs podem lotar entre maio e junho

O relatório do PampaNerds também cruza o número de leitos de UTI com o avanço da pandemia. Nos cenários projetados, com a tendência de relaxamento no isolamento social, poderá haver a ocupação total dos leitos de UTI disponíveis no Estado entre o final de maio e meados de junho. Por isso, já na introdução do documento, os pesquisadores reforçam o pedido: se puder, fique em casa.

O relatório completo pode ser acessado no site do PampaNerds.

* Com informações da FURG

Edição: Marcelo Ferreira