Os trabalhadores da área da Saúde no Brasil estão sofrendo duplamente com esta pandemia durante a dura conjuntura econômica porque estão passando. A afirmação é da diretora da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição, Carine da Fontoura Fernandes. Ela explica que com a Emenda Constitucional 95 passou a haver um sub-financiamento da área e um verdadeiro corte que atinge diretamente o pessoal. Que agora ainda sofrem com as situações criadas pela pandemia da covid-19, tendo que trabalhar sem os equipamentos de segurança necessários para manter a sua própria saúde, além de ajudar na sobrevivência dos pacientes internados nos hospitais.
Carine afirma que têm “várias negligências acontecendo neste processo e que vão além de um adoecimento clínico dos trabalhadores contaminados pela fragilidade dos EPIs, pela questão da sobrecarga, como vem sendo divulgado na mídia. Existe a situação de adoecimento mental também que já está acontecendo em função do processo de crise que está relacionado com a pandemia, mas também com as medidas que são assumidas pelo Ministério da Saúde que são repetidas nos estados e nos municípios nas instituições de Saúde pública”.
Segundo ela, isto não é somente nos hospitais, é na Atenção Básica também: “Porto Alegre é um reflexo disso, a questão dos trabalhadores do IMESF, que estão sob o risco de demissão em breve”. Carine explica que existe um processo de trabalho organizado amparado por uma Política Nacional de Atenção Básica, que foi modificado recentemente, onde fragilizam a atenção à saúde dos territórios e precarizam o trabalho das equipes. “Neste momento de pandemia, este projeto vem sendo tocado e vem se agravando, e as equipes de saúde já estão sentindo.”
No Grupo Hospitalar Conceição (GHC) são 12 Unidades Básicas de Saúde que atuam em territórios delimitados da zona Norte. Ali tem quase mil trabalhadores do GHC que não estão sob ameaça de demissões, mas trabalham com os agentes comunitários de Saúde que estão e isto acaba gerando sobrecarga aos trabalhadores. Uma situação de instabilidade muito grande onde “a cada momento surge uma determinação diferente quando a gente está construindo, algo possível dentro das determinações que chegam, elas já mudam”.
“Junto a este processo de desmonte que é um projeto organizado, tem um direcionamento claro que vem com o capital estrangeiro e nossos governos são subservientes a este capital.” Carine afirma que com a pandemia este processo se agravou porque os serviços não estavam organizados para isso, e os recursos que estão disponíveis “seguem sendo disponibilizados através de uma lógica de mercado onde quem dita as regras continua sendo o capital e não as necessidades de saúde que estão sendo apresentadas e isto reflete no nosso trabalho”.
A dirigente comenta que com a covid-19 aumentou muito o trabalho com doentes contaminados e eles precisam testagens, isto gera também um sofrimento das pessoas que estão ali, e que a gente ainda não tem um retorno sobre qual vai ser a ação efetiva das instituições para estas testagens. “Não é só uma questão do GHC. É claro que acompanho mais a questão do GHC. Mas no município de Porto Alegre, por exemplo, é uma problemática vivenciada por todos os trabalhadores da Saúde. Falta EPIS, falta recursos, falta possibilidades de medidas de segurança que deixem o trabalhador mais tranquilo e seguro para exercer sua atividade diária.”
Solidariedade de classe
Para a diretora da associação, o desafio que fica é seguir neste processo de construção da consciência de classe. “Mesmo porque a solidariedade de classe ainda é muito frágil. Os trabalhadores embora percebam e sintam quotidianamente, do ponto de vista das questões mais objetivas, a questão da precarização do trabalho, da vida, dos direitos sociais, eles ainda não conseguem ter a solidariedade de classe tão necessária para poder organizar uma luta coletiva enquanto classe trabalhadora mesmo.”
Carine ressalta que esta unificação não parte necessariamente da pandemia, mas frente ao governo que se coloca neste momento no Brasil. “O governo Bolsonaro e seu conjunto de ministérios e ministros mostram que existe não somente a necessidade de uma unidade entre os setores mais radicalizados da esquerda, mas tem que haver uma maturidade para a construção de um processo de unificação para um enfrentamento do inimigo maior. A conjuntura e o desenho deste governo estão nos levando a esta unificação que é importante, esta unidade é necessária para barrar as atrocidades e violências contra os trabalhadores.”
Edição: Katia Marko