Mais uma ação de solidariedade em meio à pandemia, nascida da própria sociedade organizada, levou mantimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social e risco de segurança alimentar em Porto Alegre. Nesta quarta-feira (29), os coletivos A Fome Tem Pressa e Multiplicidades articularam a entrega de 200 cestas básicas, com o apoio de diversas organizações, em três regiões da capital.
Pensando na saúde de todas e todos, foram montadas cestas com produtos orgânicos e agroecológicos, provenientes de agricultores familiares da região da Serra gaúcha e de Erechim. Os alimentos foram adquiridos pela Rede Ecoforte, a partir de recursos conquistados em um edital da Fundação Banco do Brasil. A Rede congrega no Rio Grande do Sul cerca de 70 grupos, entre produtores, processadores e cooperativas.
Parte das doações foram para famílias da região da Lomba do Pinheiro, bairro periférico da capital. Conforme explica o estudante da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul e morador da Lomba, Maister F. Silva, foram 100 cestas entregues nessa região. “Os beneficiados foram famílias do bairro Esmeralda, Cooperativa União do Vale, Coop15, Vale Verde e famílias organizadas pelo Comitê Contra a Fome e a Miséria da Lomba do Pinheiro”, destaca.
Das outras 100 cestas, 60 foram para famílias da vila Timbaúva, que pertence ao bairro Rubem Berta, na zona Norte de Porto Alegre. E 40 foram para famílias de catadores organizados pelo coletivo de reciclagem Ksa Rosa, onde a liderança atuou junto ao coletivo Fome Tem Pressa. Segundo Maister, na próxima semana, serão entregues mais 200 cestas a partir da mesma iniciativa.
Os coletivos que articularam as doações já têm uma história de atuação em prol dos mais necessitados na cidade. “O Fome Tem Pressa distribui quentinhas a moradores de rua em Porto Alegre, todas as terças-feiras. Já estão em atuação há mais de dois anos, fruto de pessoas que têm por princípio a solidariedade. O Multiplicidade, somente nesse período da pandemia, já atendeu mais de 370 famílias aqui de Porto Alegre com cestas básicas. A prioridade de atendimento do coletivo é ajudar trabalhadoras domésticas, pessoas com doenças graves que as impeçam de trabalhar, que são as mais prejudicadas e que têm que ficar em isolamento mais intenso, e mães chefes de famílias”, destaca Maister.
Na Lomba do Pinheiro, iniciativa teve apoio do MST
Parte das doações que chegaram na Lomba do Pinheiro ocorreram através do Comitê Contra a Fome e a Miséria da Lomba do Pinheiro, iniciativa que reúne líderes comunitários da região. O vice-presidente do Conselho Popular da Lomba do Pinheiro, Isnar Borges, ressalta a importância desse apoio, já que muitas famílias passam por dificuldades. “São comunidades muito pobres, quase sem saneamento básico, com problemas de irregularidade e sem acesso a ônibus. Na Quinta do Pontal, por exemplo, poucas pessoas têm água encanada. Na Santo Antônio, que chegou a ficar 16h sem água no verão, o saneamento é zero e é tudo estrada de chão”, conta.
O líder comunitário destaca ainda que, nas cestas provenientes da Rede Ecoforte entregues pelo comitê, foram inseridos mais alimentos saudáveis. “Nós fizemos uma parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que nos permitiu engrossar as cestas com verduras, mel, leite e sucos naturais.”
Desde o início da pandemia, mais de 800 famílias em situação de pobreza da Lomba do Pinheiro já receberam uma cesta básica através do comitê. “Temos duas mil pessoas cadastradas e cada liderança comunitária acompanha os cadastros, vendo as necessidades das famílias e também ajudando eles a pegar o auxílio emergencial. Além disso, tem a realização de oficinas para produção de sabão, o que vem contribuir para a higienização dessas famílias”, explica Isnar.
O Comitê Contra a Fome e a Miséria da Lomba do Pinheiro está ligado ao Comitê Gaúcho de Emergência no Combate à Fome, criado emergencialmente pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul (Consea-RS). Nasceu em 26 de março, quando diversas organizações da sociedade civil, da academia e representantes dos governos estadual e federal debateram a urgência de ações que possam garantir a segurança alimentar dos gaúchos frente a covid-19.
Edição: Katia Marko