Rio Grande do Sul

COVID-19

Governo do RS anuncia novo modelo de distanciamento no estado

De acordo com o governador Eduardo Leite (PSDB) o RS conviverá com vírus e restrições por um ‘longo período’

Sul 21 | Porto Alegre |
Modelo consiste em segmentar medidas de acordo com cada região do estado e com cada setor da economia - Reprodução

Em transmissão pelas redes sociais realizada na manhã desta terça-feira (21), o governador Eduardo Leite (PSDB) apresentou informações do que será o chamado distanciamento social controlado, a nova fase do enfrentamento ao coronavírus que será implementada a partir de maio no Rio Grande do Sul.

Na abertura da transmissão, o governador  destacou que o número de casos confirmados no RS está menor em relação a outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas, Ceará e Pernambuco. Destacou também que o RS é um dos estados com o menor número de casos por 100 mil habitantes, com 7,8 casos. Para efeito de comparação, Amazonas tem mais de 50 casos por 100 mil habitantes.  Ele também salientou que o número de casos por semana apresenta uma tendência de queda. Na 12ª semana do ano, foram confirmados 96 casos de coronavírus. Na 13ª, 151. Na 14ª, 229. Na 15ª, 204. Na 16ª, a semana passada, 197. Segundo o governador, é a partir desse cenário que se torna possível avançar para a nova fase do distanciamento social.

Leite afirmou que a apresentação do novo modelo de distanciamento foi feito na noite de segunda-feira (20) a mais de 50 entidades da sociedade civil. Segundo ele, esse modelo precisa de um pacto com a sociedade para equilibrar a prioridade à vida com a retomada econômica. No entanto, frisou que não se trata de flexibilização aleatória, abertura desordenada ou volta à normalidade. “Tudo que nós fizemos até aqui sempre foi priorizando a vida e assim continuaremos”, disse.

O governador disse que, para evitar mortes, a população precisa compreender a necessidade de conviver com o vírus por um período maior de tempo do que se fosse adotada uma estratégia de deixar a população se contaminar e acelerar a chamada “imunização de rebanho”, cenário que acentuaria o número de mortes e deixaria o sistema de saúde em colapso. E essa convivência deverá implicar medidas restritivas.

“Não é razoável que nós mantenhamos restrições absolutamente rigorosas que não se sustentam no tempo, mas é importante também saber que, se nada for feito, muitas pessoas morrerão. E, se muitas pessoas irão morrer, mesmo que o governo diga que pode tudo continuar como está, a sociedade se encarregaria de parar pelo próprio instinto de preservação da vida da pessoas. Então, muitos setores econômicos que pressionam por uma abertura se equivocam na medida em que, se nós quisermos fingir que estamos vivendo numa normalidade, isso não se sustenta diante das mortes que podem acontecer pela omissão em relação a esses vírus”, disse.

Leite diz que é possível implementar a nova fase do distanciamento porque agora há um histórico do comportamento do vírus no RS, que passa pela pesquisa de prevalência realizada pela UFPel e por um novo estudo de monitoramento de leitos do sistema de saúde, e porque a capacidade de monitoramento e de atendimento a pacientes contaminados foi ampliada para evitar a sobrecarga do sistema. “Nós não podemos perder vidas por falta de capacidade de atendimento”, disse.

Segundo ele, o novo modelo consiste em segmentar medidas de acordo com cada região do Estado e com cada setor da economia a partir do impacto na movimentação de pessoas e na geração de riquezas. Cada região e setor deverá respeitar uma “matriz de protocolos”.

O governador citou a Áustria como um exemplo de país que já adotou medidas específicas por setores da atividade econômica. Disse também que se baseia em institutos nacionais e estrangeiros para a definição das estratégias.

Ao ser questionado sobre a possibilidade de reabertura das escolas militares a partir da próxima semana, defendida pelo presidente Jair Bolsonaro, Leite afirmou que isso não deve ocorrer no Estado antes de 1º de maio, que ela respeitará os protocolos definidos pelo modelo de distanciamento controlado e salientou que a abertura de escolas traz riscos elevados de transmissão da doença que exigem atenção específica para o setor da educação.

Como vai funcionar a segmentação

O governador disse que a segmentação regional se dará a partir de dois vetores: o nível de transmissão do vírus e a capacidade de resposta do sistema de saúde. Este último vai considerar fatores como o número de leitos de UTI disponíveis, número de ventiladores, testes feitos na região, disponibilidade de EPIs, entre outros itens. Já o nível de transmissão irá considerar a taxa de crescimento de novos casos e a taxa de crescimento de hospitalizações.

Para cada região, serão atribuídas bandeiras que determinarão o nível de risco momentâneo, que vão das cores verde (menor risco) a vermelha (maior risco). “Naquela região, se o nível de transmissão é alto e a capacidade do sistema de saúde é baixa, então nós temos nessa combinação de fatores e o risco é alto. Portanto, a bandeira poderá ser vermelha para essa região”, exemplificou.

Leite explicou que cada setor econômico será categorizado pelo risco de contaminação e importância econômica. Nos riscos de transmissão, serão considerados índices de circulação de pessoas para a realização da atividade, a necessidade de aglomerações e a natureza da atividade. “Se são serviços online, é um baixo risco. Se são eventos, é um alto risco”, exemplificou. Em termos de relevância econômica, serão avaliados critérios como número de funcionários, contribuição para a economia, a capacidade de arrecadação, entre outros itens. Ele afirmou ainda que mais de um setor pode ser agrupado dentro de um protocolo de medidas sanitárias de segurança que deverão ser implementadas para a retomada das atividades.

O governador explicou que a liberação dos setores ocorrerá a partir da bandeira que for atribuída para cada região. No caso de uma região estar com bandeira verde, todos os setores estarão liberados. A partir da bandeira amarela, começam restrições setoriais, que são ampliadas na bandeira laranja. Na bandeira vermelha, apenas serviços essenciais (principalmente segurança pública, hospitais, mercados e farmácias) poderão operar sem medidas restritivas mais duras. Cada bandeira também determinará qual o protocolo de medidas que precisará ser adotado, como, por exemplo, uso de máscaras, medição de temperatura, regras de distanciamento, entre outros.

O governador afirmou que, até o final da semana, o Executivo estará aberto para receber sugestões de entidades representativas de setores da atividade econômica e a ideia é que os protocolos comecem a ser implementados a partir de maio. “Estamos fazendo um grande esforço para que nós tenhamos um modelo de distanciamento que seja mais sustentável. Ou seja, já que nós vamos ter que conviver com o vírus por um longo período ainda pela frente, nós precisamos desta sustentabilidade de sistema de distanciamento que permita que a gente consiga proteger a vida e, de outro lado, mantermos a atividade econômica que gere riqueza. Este equilíbrio só é possível agora porque temos mais dados, mais informações”, afirmou.

Leite terminou sua apresentação afirmando que o RS é um caso de sucesso no controle do avanço da doença e disse esperar que esse modelo de distanciamento controlado possa se tornar uma referência para os outros estados.

Edição: Sul 21