Hitler também foi eleito em segundo turno. Para se impor e fortalecer o Nazismo uniu seus seguidores contra inimigxs comuns (judexs, comunistas, LGTBs), responsáveis por tudo o que acontecia de ruim no País como a hiperinflação e a crise social. Seus/suas eleitorxs se comportavam como membros de uma seita seguindo e acreditando em tudo o que o mestre mandava. Contavam com o apoio de grandes empresas alemãs. Parte da população civil não sabia da existência dos campos de concentração.
As ditaduras latino-americanas foram resultado de golpes (cívico-militar-midiático-empresarial), com a participação ativa dos EUA e da maioria das grandes empresas internacionais. Também criaram um inimigo comum: os grupos de esquerda e centro esquerda.
Seus/suas apoiadorxs saiam às ruas sacolejando as bandeiras da TFP (tradição-família-propriedade). Essas ditaduras também ascenderam numa época de transformação, quando o Brasil, o Chile, a Argentina e o Uruguai tentavam organizar um Estado mais equitativo e mais democrático e contra a internacionalização das empresas estatais. Também torturaram e mataram seus oponentes. Ao mesmo tempo em que escondiam o número de pessoas brutalmente assassinadas, efetuavam prisões arbitrárias na frente de todos. Sem segredos e sem mistério. O objetivo era causar pânico.
Bolsonaro foi eleito em segundo turno, mas não com a maioria total dos votos (abstenções, brancos e nulos somaram 30%). Mas foi democrático se considerarmos que fake news, bombardeio da mídia contra xs oponentes e ausência total do candidato aos debates é democrático. Agora vivemos num cenário de medo e violência explícita contra trabalhadorxs, pessoas negras, lgbts, mulheres, indígenas. Destruição ambiental. Perda de direitos trabalhistas e destruição das instituições.
No Brasil de agora o capital encontrou mais um inimigo comum (o coronavírus) que veio salvar o mito do fiasco. O mito não adoece porque é macho, o mito não se impressiona porque 70% da população será contaminada porque é forte. O que importa é a economia voltar a crescer. Durante a eleição o inimigo comum era o PT e a esquerda em geral. Agora a culpa do desaquecimento é o isolamento social.
Culpa de que mesmo? Da crise econômica e do desemprego. O raciocínio é: melhor morrer de vírus do que de fome. Porém, o capital financeiro, as grandes empresas da nova ordem econômica (telecomunicações e informática, mineradoras e agronegócio) e do modelo anterior (como a automobilística) vão muito bem obrigado. Só precisam de um detalhe, poder demitir livremente xs trabalhadorxs que não querem se expor à contaminação ao invés de mantê-los licenciados com os seus salários.
Os grandes capitalistas que o tempo todo exploraram o trabalho humano, pagando salários inferiores ao valor produzido, se consideram prejudicados porque a classe trabalhadora precisa parar para não morrer. A mudança da legislação trabalhista, liderada pelo golpista Temer, flexibilizou o processo de demissão. Por isso, as empresas podem demitir para não pagar os salários durante a quarentena. E o trabalho informal? Não era isso que queriam na mudança da legislação trabalhista? O aumento da informalidade? A ascensão do empreendedorismo?
Mas, o governo não está surdo a esses apelos. Vai pagar de 600 a 1200 reais para essas pessoas. Graças aos comunistas do Parlamento... Só que até agora, parte das pessoas que vão em busca desse dinheiro, muitas delas não conseguem acessar... O sistema está com problemas...
Mas e os subsídios que o Estado brasileiro sempre pagou ao capital vão continuar? E a sonegação fiscal das grandes empresas? E o imposto sobre as grandes fortunas, não está na hora de sair? Não! O Estado vai continuar pagando para os ricos. E, atenção, o novo governo da nossa vizinha Argentina, depois de derrotar o macrismo está mostrando a diferença. Projeta criar o temido imposto sobre as grandes fortunas.
Para encobrir essas contradições, grupos de extrema direita organizaram as carreatas da morte para defender a economia (lembrando que os ricos vão de carro pra não se contaminar e os pobres vão a pé). Conforme eles: a economia em queda provoca mais males à saúde do que o vírus. Mas, saúde de quem? Das grandes empresas ou do povo trabalhador?
Ironicamente, o SUS é a única instituição capaz de fazer frente à pandemia, embora já esteja desestruturado e com a capacidade de resposta muito mais reduzida do que antes do golpe-impeachment. 4 anos atrás. E agora que o sr. Privatizar (o Guedes) vai ter que esperar um pouco mais pra privatizar o SUS?
Tudo isso esconde, ou desvia a atenção, do novo golpe em curso. O autogolpe que pretende recolocar a mesma pessoa no poder, porém sem as instituições republicanas e com o apoio das forças armadas!
Não aceitamos essa hipocrisia que o poder quer nos impor. Esse golpe atinge a todxs nós, mulheres, lgbts, pessoas negras e indígenas, pessoas idosas, em particular, trabalhadorxs em geral, e participantes de movimentos sociais. Esse golpe é contra nós e não contra o vírus. Para diminuir nosso poder de decidir. Para aumentar nossa exploração. Para divertir os conservadores que só se sentem bem em sua bolha de prosperidade, privilégios e preconceitos.
Reivindicar nosso direito à vida tornou-se subversivo.
Quem votou em Bolsonaro dizia: “ele não vai fazer isso que está falando. É só o jeito dele”. Então ... votaram num cara porque ele não ia fazer o que prometia? E agora que ele está fazendo?
Estranho esse povo brasileiro…
Não percebem que o governo não revela o verdadeiro número de mortes pelo coronavirus para esconder a real ameaça? Mas o aumento impressionante de mortes por pneumonia e o número de covas abertas na macabra espera de corpos insiste em mostrar o outro lado. Na Alemanha também não se falava no extermínio de pessoas. Mas os nazis estavam protegidos da morte, aqui todo mundo é passível de pegar o corona...
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7:00 da manhã. Da minha cama de quarentena ouço o mesmo ruído que ouvia no mês passado e que não ouvi nas últimas semanas.
O ódio e a inconsciência estarão vencendo?
* Economista
Edição: Katia Marko