Uma corrente formada por servidores públicos gaúchos de diversas instituições está unida em solidariedade para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social no Rio Grande do Sul. Através de uma campanha de arrecadação de alimentos e de valores, que em quatro dias somou R$ 20.117,20, mais de oito toneladas de alimentos fizeram a diferença na vida de cerca de 400 famílias em sete cidades do estado. Além disso, servidores estão envolvidos na instalação de lavatórios de mãos nas ruas e projetando a distribuição de marmitas para pessoas que não têm onde morar.
A ideia da campanha de doação de cestas básicas partiu de funcionários da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), que inicialmente pretendiam realizar a ação em Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas, explica o presidente da Associação dos Funcionários Públicos em Defesa das Estatais e do Patrimônio Público (ADEFERS), Fabrício Vilneck Cavalheiro.
“Através da ADEFERS, que foi criada com a finalidade de unir forças para reforçar as trincheiras contra o desmonte do Estado, e por possuir associados em várias empresas públicas, somaram-se à campanha servidores do Banrisul, Sulgás, CRM, CGT-Eletrobrás, DAEB e Procergs, então expandimos esta primeira campanha para as cidades de Candiota e Bagé”, afirma Fabrício. Ele destaca que a grande maioria das doações foram feitas por servidores e seus familiares e amigos.
A partir desse esforço coletivo, já foram doadas cestas básicas a famílias da Aldeia Indígena Tekoá Jataí Cantagalo, em Viamão. Em Porto Alegre, doações chegaram na Cruzeiro, através da União de Vilas Grande Cruzeiro, na Vila Nazaré, através do Projeto Valentes, e também na Vila Maria. Em Rio Grande, as doações foram feitas em parceria com a Associação de Amigos e Pais de Autistas do município (AMAR). Em Candiota, através da Sociedade Espírita Irmãos da Fé. Em Bagé, através da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). E em comunidades dos municípios de Butiá e Minas do Leão, em parceria com o Corpo de Bombeiros Voluntário.
Já em Pelotas, através da ONG Anjos e Querubins, serão entregues mais 100 cestas básicas nesta sexta-feira (17), conta Fabrício. “É de fundamental importância, que esta semente do bem se multiplique”, afirma, lembrando que as doações seguem ocorrendo e novas entregas serão realizadas. “Muitos colegas continuam fazendo depósitos e transferências. Vamos intensificar no início do mês de maio com outras parcerias, como a Associação dos Funcionários da CEEE (AFCEEE) e a Associação dos Mineiros de Candiota (AFUCAN)”.
Fabrício faz questão de destacar que a campanha é de todos os servidores. Foi coordenada pelo eletricitário Sérgio Luiz, que também ficou responsável pela organização na região de Porto Alegre. André Lima da Silva ficou responsável pela região de Rio Grande. Carol Silva, com a região de Candiota. Edson Dione Souza, com a região de Bagé. E Maicon Bittencourt Lopes, com a região de Pelotas.
“Além de todas as preparações estruturais e técnicas do Sistema de Saúde, é necessário que todos se conscientizem da gravidade da covid-19. Não é só uma ‘gripezinha ou um resfriadinho’, como afirmou o presidente”, critica o entrevistado, lembrando que os pronunciamentos e atitudes de Bolsonaro vão contra as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde. “Tudo para atender aos interesses do mercado financeiro, conforme a cartilha do liberalismo econômico. Nós servidores pensamos diferente e vamos seguir priorizando a vida.”
Lavatórios nas ruas
Outra iniciativa que vem dos servidores é a instalação de lavatórios para as mãos nas ruas de Porto Alegre. O eletricitário Vinicius Pereira produziu e instalou de forma voluntária três pias, que contribuem para a realização da higiene por pessoas em situação de rua ou de quem precisa sair de casa para trabalhar. Segundo o presidente da ADEFERS, o projeto foi abraçado pelos colegas da CEEE de Porto Alegre.
Nas redes sociais, Vinicius informa que uma quarta será instalada, mas que pretende aumentar a produção, através de uma campanha de doações. “A galera pode me ajudar com material que esteja sobrando ou comprando algum material que prontamente irei buscar, até que consigamos juntar entre materiais o suficiente para pelo menos 12 lavatórios. Eu acredito que com R$ 2.500 podemos construir em torno de 12 ou mais lavatórios públicos.”
Quem quiser contribuir, pode doar materiais como canos, pias, torneiras, madeiras, tintas, garrafões de água ou sabão líquido. “Estou preferindo as doações em material e também com o apoio de vocês na divulgação desse meu pedido de doação, mas para quem preferir, há também um link que disponibilizo para doação em dinheiro (http://vaka.me/992004)”.
Sob ataque, serviço público mostra-se essencial
“Há também um projeto para distribuir alimentos a pessoas que moram nas ruas, que estamos desenvolvendo”, conta Fabrício. Ele aproveita a oportunidade para destacar que são os servidores públicos de áreas como Saúde, Segurança, Energia e Saneamento que estão mantendo o Brasil em atividade e garantindo a vida ao povo. “Nós servidores passamos de parasitas, conforme conceituou o ministro (Paulo) Guedes, a essenciais, pois somos nós que estamos na linha de frente. Também não podemos esquecer que são as universidades e instituições públicas, as mesmas que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, acusou de fazerem ‘balbúrdia’, que estão buscando e desenvolvendo soluções para mitigar e talvez extinguir o vírus que tomou conta do planeta.”
No caso do Rio Grande do Sul, como lembra o presidente da ADEFERS, o desmonte do serviço público iniciou ainda no governo Sartori (MDB), com a extinção das Fundações, “que hoje estão fazendo muita falta, pois estariam auxiliando no combate à pandemia”. O projeto seguiu com o governador Eduardo Leite (PSDB), que “retirou da Constituição Estadual, com a aprovação da maioria dos deputados, o direito democrático ao plebiscito, onde a população gaúcha, que é a legítima e verdadeira dona, poderia decidir sobre o destino das estatais. Estamos lutando juridicamente, para que esse crime não se concretize. As empresas públicas são estratégicas e essenciais, vendê-las é injustificável”, assegura.
Edição: Katia Marko