Rio Grande do Sul

Demissões

Em meio à pandemia, empresas de calçados do RS demitem mais de 3 mil trabalhadores 

No cenário nacional setor contabiliza a perda de 11 mil empregos, conforme dados da Abicalçados

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Só na região Metropolitana e no Vale dos Sinos, pela empresa Beiro-Rio Calçados, foram 1.500 demissões - Reprodução CUT-RS

Com a justificativa da paralisação econômica advinda da pandemia do coronavírus, e sob a flexibilização na legislação trabalhista por conta da Medida Provisória (MP) 936, empresas do ramo calçadista demitiram mais de 3 mil trabalhadores até o começo de abril no Rio Grande do Sul. Metade das dispensas foram feitas na região Metropolitana e no Vale dos Sinos, pela empresa Beiro-Rio Calçados. Com mais de 16 unidades no território gaúcho, a empresa demitiu 1.500 trabalhadores em menos de um mês. Nacionalmente o setor teve um corte de mais 11 mil empregos, conforme dados divulgados recentemente pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

Na avaliação do presidente da Federação Democrática dos Sapateiros do Rio Grande do Sul, João Batista Xavier, o empresariado do ramo calçadista está se aproveitando da autorização dada pelo governo Bolsonaro para suspender contratos, cortar salários e realizar acordos individuais com os trabalhadores com o objetivo de extinguir empregos das camadas mais vulneráveis da população. "Os patrões estão se aproveitando da situação. Nós esperávamos que o poder público fizesse muito mais para preservar empregos, seja o poder municipal ou estadual, já que o governo federal não está preocupado em criar algum tipo de política pública com essa finalidade. O que estão fazendo é terrorismo. O único propósito é flexibilizar os mais sagrados direitos da classe trabalhadora, que são o emprego e a renda.”

Para o sapateiro e secretário de Administração e Finanças da CUT-RS, Antônio Güntzel, a responsabilidade social passa longe da maioria dos grandes empresários do setor calçadista. “Para eles, é lucro acima de tudo. Não importam o ser humano e as famílias que estão sendo jogadas ao desemprego. Alguém acredita que as demissões são por causa do vírus? É lucro e apenas lucro que interessa”, desabafa. 

De acordo com Batista, as entidades patronais não recebem os sindicalistas para negociações, mesmo após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizando a realização de acordos coletivos.  “A própria Abicalçados não está dialogando com a Federação. É um oportunismo sem tamanho. Enquanto nós conversamos com os sindicatos filiados, as entidades patronais estão ignorando os nossos representantes e estão demitindo e tirando direitos dos trabalhadores”, aponta. 

Ação cobra explicações da empresa

Na última quarta-feira (8), a Federação entrou com uma ação na Justiça do Trabalho cobrando explicações da Beira-Rio Calçados quanto às demissões em massa. Em despachado ocorrido nesta segunda-feira (13), a empresa tem prazo até esta quarta-feira (15) para prestar esclarecimentos. 

Segundo expõe Batista, a expectativa é que a a Justiça reverta as demissões, tendo em vista à situação de calamidade pela qual passa os trabalhadores do setor. "Não é possível os trabalhadores desamparados neste momento difícil que atravessamos”. 

"30 dias não vai quebrar ninguém"

Em artigo publicado no  Jornal Dois Irmãos, com o título "30 dias não vai quebrar ninguém",  o diretor da Calçados Wirth, Sérgio Wirth, afirmou que a paralisação das atividades por 30 dias não levará ninguém à falência. O texto critica os que dizem que "ninguém tem mais tem dinheiro".

"Nós tomamos a decisão de fechar a fábrica por 30 dias. Todo mundo foi orientado a ficar em casa. Somente 3 ou 4 pessoas ficaram, para serviço burocrático: a contadora, o serviço bancário e o serviço de exportação. Nem eu fui na fábrica, nestas duas semanas, e faço minha comunicação de casa", escreveu Wirth.

"Acho que fechar por 30 dias não vai quebrar ninguém. As férias também são de 30 dias. Não fizemos férias adiantadas. Fizemos um acordo de parada, por 30 dias, e todos vão receber o pagamento cheio. Depois, vamos negociar com os funcionários de como acertar, poderemos descontar até 5 dias por mês, quando voltarmos a trabalhar, ou podemos reduzir as próximas férias. Enfim, vamos deixar passar a quarentena e depois vamos negociar com os funcionários", apontou Wirth, revelando uma postura diferente de outros empresários do setor.

 

* com informações da CUT RS

 

 

Edição: Marcelo Ferreira