A impressão de afrouxamento no isolamento social que muitos porto-alegrenses têm tido nos últimos dias não é mera sensação visual. A principal orientação para frear o ritmo de contágio do novo coronavírus tem sido, de fato, deixada cada vez mais de lado na Capital e no Estado. É o que indica a análise feita pela empresa de geolocalização In Loco, que criou o Índice de Isolamento Social. Com base nos dados de mais de 60 milhões de dispositivos móveis em todo o Brasil, a empresa tem mapeado a movimentação de pessoas dentro de regiões específicas e, com isso, medido quais apontam o maior distanciamento social.
As informações são criptografadas e agregadas por bairro e, em seguida, os dados passam a indicar a movimentação desse grupo de pessoas dentro dos bairros. Por essa metodologia, o baixo percentual de isolamento representa um grande número de pessoas entrando ou saindo de determinado bairro ou região.
No Rio Grande do Sul, o maior índice de isolamento foi de 69,6%, no último dia 22 de março, um domingo. A partir desse dia, todos os finais de semana seguintes apresentaram queda no índice de isolamento social: 64,2% no dia 29 de março (domingo); 62,2% em 5 de abril (também domingo); e 51,7% no último sábado (11), o dado mais atualizado até o momento pela In Loco.
Desde que a tecnologia de geolocalização começou a ser aplicada no enfrentamento da Covid-19, os índices mais baixos de isolamento aconteceram agora em abril. No primeiro dia do mês, uma quarta-feira, o índice registrou apenas 47,2% de isolamento social. O segundo pior dia aconteceu na última quinta-feira (9), véspera do feriado de Sexta-feira Santa, quando os dados marcaram 47,4%. No domingo (12), o índice registrou exatos 50% de isolamento, 19,6% a menos em relação ao maior índice alcançado no Estado.
No ranking geral do país, o Rio Grande do Sul ocupa a 12ª posição. Os cinco estados com os melhores índices de isolamento social, tendo como base o último sábado (11), são o Distrito Federal, Goiás, Ceará, Amazonas e Piauí. “Com a nossa tecnologia, podemos ajudar no combate à disseminação do coronavírus. De forma criptografada e agregada, sem dados que possam identificar diretamente um usuário específico, nosso levantamento permite que os órgãos responsáveis atuem diretamente nas áreas de risco ou mais afetadas pelo vírus”, explica André Ferraz, CEO da empresa.
Vários estados do Brasil têm utilizado os dados estatísticos da In Loco, incluindo o Rio Grande do Sul, como forma de auxílio na elaboração das regras do isolamento social e em medidas de conscientização da população. Segundo a empresa, a privacidade das pessoas é preservada pessoas, não sendo possível identificar diretamente os usuários dos smartphones mapeados. “A única informação coletada é a localidade do aparelho, por meio de sensores presentes nos smartphones, como Wi-Fi, Bluetooth, GPS, entre outros. Portanto, não temos acesso aos dados de identificação civil como nome, RG, CPF e endereço de e-mail, por exemplo”, explica Ferraz.
Mais trânsito
Além do Índice de Isolamento Social criado pela empresa In Loco, outro estudo que mede a adesão a estratégia da quarentena é o projeto Monitora Covid-19. Elaborado pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), o projeto utiliza recursos computacionais e cientistas de dados da Plataforma de Ciência de Dados aplicada à Saúde do Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz (PCDaS), hospedada no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC).
O trabalho se utilizada dos dados do aplicativo Waze para analisar o fluxo do trânsito em algumas cidades do Brasil. Tendo como referência o dia 11 de março, data do primeiro caso de coronavírus confirmado em Porto Alegre, o gráfico mostra uma grande queda no trânsito da capital gaúcha. Por essa análise, o menor fluxo de veículos na cidade ocorreu entre os dias 24 e 27 de março, e entre 30 de março e 3 de abril.
Da mesma forma que indicam os dados dos celulares, as informações obtidas por meio do aplicativo Waze demonstram o relaxamento no isolamento social aos finais de semana. Desde o primeiro caso de coronavírus em Porto Alegre, os últimos três domingos — 29 de março, 5 e 12 de abril — apresentaram o pico do trânsito na cidade. Por outro lado, o uso de transporte público caiu vertiginosamente desde a confirmação do primeiro caso de coronavírus em Porto Alegre, e tem se mantido estável desde o dia 28 de março. A análise é apresentada no estudo da Fiocruz com base nos dados fornecidos pelo aplicativo moovit.
Edição: Sul 21