Rio Grande do Sul

RESPONSABILIDADE

SindiSaúde-RS considera morte de técnica em enfermagem como tragédia anunciada

Desde o final de março, trabalhadores da Saúde reclamam da falta de equipamentos de proteção individual

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Na segunda-feira (6), sindicato construiu acordo que estabeleceu que trabalhadores do grupo de risco sejam afastados - Foto: Divulgação Sindisaúde-RS

A morte da técnica em enfermagem do Grupo Hospital Conceição (GHC), Mara Rúbia Silva Cáceres, de 44 anos, ocorrida nesta quarta-feira (8), em Porto Alegre, podia ter sido evitada, lamenta Julio Appel, secretário-geral do Sindisaúde-RS. “É uma tragédia anunciada. Fizemos alertas e protestos, avisando que isso poderia acontecer”, afirma.

Em protestos realizados no final de março, os trabalhadores da Saúde reclamaram da falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) para combaterem a pandemia de coronavírus, como aventais, escudos faciais, máscaras e álcool gel. Também reivindicavam o afastamento das atividades de colegas com mais de 60 anos, gestantes e lactantes, além de portadores de doenças crônicas, caso de Mara Rúbia.

“Ela sofria com asma, fazia parte do grupo de risco e estava na linha de frente do Hospital Conceição. Trabalhou até a semana anterior a 29 de março”, afirma Valmor Almeida Guedes, diretor jurídico do Sindisaúde-RS e diretor de comunicação da Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição (ASERGHC).

Responsabilidade

Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, “não adianta bater aplausos calorosos aos profissionais de Saúde, que são realmente merecedores, e se esquecer de que se eles não recebem equipamentos adequados de proteção, ficam expostos ao risco de morte e enfrentam condições precárias de trabalho, segurança e higiene”.

Amarildo cobra a responsabilidade da direção do GHC, nomeada pelo governo Bolsonaro. “Se essa técnica em enfermagem era de grupo de risco, como é que trabalhava na triagem de pacientes?”, questiona. “É preciso investigar a morte da trabalhadora, além de exigir que sejam tomadas medidas eficazes para impedir que ocorram novos casos”, destaca.


Para presidente da CUT-RS, é preciso investigar a morte para impedir que ocorram novos casos / Foto: Divulgação

Ações judiciais

Após as manifestações, o Sindisaúde-RS entrou com ações na Justiça do Trabalho contra os hospitais. O processo contra o GHC teve uma audiência, por meio de videoconferência, na segunda-feira (6).

Foi costurado um acordo que estabeleceu que trabalhadores do grupo de risco sejam afastados, conforme norma da Organização Mundial da Saúde, nos setores de emergência do GHC, do Hospital da Criança, do Hospital Fêmina, do Hospital Cristo Redentor, dos centros de triagem covid-19, UPAs e locais de internação específica relacionada à doença.

Pelo acordo, esses funcionários serão realocados para áreas em que não fiquem expostos a risco maior. Se necessário, poderão ser afastados do trabalho. Serão mantidos os procedimentos específicos em relação ao afastamento das lactantes de locais insalubres.

Conforme o acordo, também foram acertadas medidas para fornecimentos de EPIs e higienização dos uniformes. Uma reunião de avaliação com as partes está marcada para 14 de abril.

Apesar do acordo, o representante do Sindisaúde-RS acredita que a realocação pode não ser suficiente para proteger os profissionais. “Os setores dos hospitais comunicam-se entre si, colegas e pacientes circulam por essas áreas. Além disso, não adianta restrição em ambiente hospitalar, as pessoas vão para casa e se expõem na rua”, reclama Guedes.

Dirigentes sindicais contaminados e internados

Nove diretores do Sindisaúde-RS enfrentam problemas respiratórios após protestos em frente a hospitais na capital. Júlio Jesien, presidente do sindicato, está em isolamento domiciliar, segundo ele, com diagnóstico confirmado para covid-19, doença que atingiu também a mulher dele.

Outros três dirigentes estão internados, conforme Jesien. Arlindo Ritter, tesoureiro do sindicato e presidente da ASERGHC, está internado no Hospital Nossa Senhora da Conceição, e os diretores do Sindisaúde-RS Maria Lucia Schaffer e José Luciano, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.


Hospital Conceição é uma das unidades de referência no tratamento de covid-19 no Estado / Foto: Divulgação

“Foi ela que se foi, mas isto está recém começando”

O marido Juan Cáceres, 48 anos, disse que o medo não se fazia presente na rotina de Mara Rúbia. “Ela estava há vários anos no Conceição. Trabalhou em vários setores até chegar na emergência, e foi passando em concursos diferentes, sempre para melhorar. Na emergência, estava há dois anos. Ela não tinha medo de se expor. Era muito corajosa, não via obstáculos. Tenho muito orgulho dela”, declarou.

“Homenageio todos os que estão nesta luta. Foi ela que se foi, mas isto está recém começando. Tem que ter muito cuidado”, ressaltou.

 

Com informações da CUT-RS

Edição: Marcelo Ferreira