Bom, Henry Reich, do canal no YouTube minute physics, produziu um vídeo brilhante explicando um jeito de descobrir. Eu resolvi olhar o caso do Brasil em detalhe, trazer a informação para o português e também atualizar os dados do vídeo, que estão já ultrapassados.
É praticamente impossível olhar um gráfico do número total de casos e dizer que existe algum padrão, seja de piora ou de melhora da situação.
Isso acontece porque estamos diante de um processo em que número total de casos inicialmente é exponencial em relação ao tempo. Mas o número total de casos não é exponencial em relação aos novos casos. Henry argumenta que devemos esquecer o tempo e fazer gráficos em escala logarítimica em que a variável dependente é o número de novos casos. O novo corona vírus não está nem aí para o tempo. Tudo que importa para ele é quantidade de pessoas infectadas.
Se analisarmos os dados de todos os países cruzando o total de casos confirmados pelos novos casos teremos um gráfico, nas palavras de Henry, lindamente horrível – a beautiful horrible graph.
Esse gráfico demonstra de forma extremamente visível que a esmagadora maioria dos países está sendo massacrada pela covid-19. O padrão é o mesmo em todos os países, rumo ao abismo das centenas de milhares de casos confirmados.
E isso é um reflexo das decisões que os países estão tomando, ou melhor, não estão tomando. Por isso eu chamei essa região do gráfico de “a vala comum da covid-19” ou “a vala comum das decisões“. É macabro, admito. Mas eu prefiro apenas ler algo macabro em um blog do que experenciar algo verdadeiramente macabro. Ao que consta, valas comuns já estão sendo empregadas em diversos lugares do mundo.
A boa notícia desse gráfico é que ele escancara quem conseguiu sair da vala comum. China, Coreia do Sul, Japão, Qatar e outros. Sabemos que as estratégias da China e da Coreia foram diferentes entre si, mas cumpriram seu objetivo – pararam o espalhamento da doença. Pelo menos até agora.
No vídeo do Henry, não é possível ver o Brasil. Então eu baixei os dados da epidemia e fiz meus próprios gráficos. E essa é a situação do Brasil, sozinho (as flechas apontam a direção do tempo):
Agora compare com alguns outros países relevantes (as flechas apontam a direção do tempo):
Destaque para alguns países que “saíram da vala comum” (as flechas apontam a direção do tempo):
Agora destaque para os países que ainda não saíram “da vala” (as flechas apontam a direção do tempo):
A questão é evidente: vamos sair dessa ou seguiremos atrás dos Estados Unidos?
Iporã Brito Possantti é engenheiro ambiental, mestre pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH e militante do Coletivo Ambiente Crítico de POA
Edição: Katia Marko