Rio Grande do Sul

Opinião

Artigo | Democracia invertida

"É momento de testar a maturidade dos democratas de todos os matizes e fazer prevalecer a democracia verdadeira"

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
É imprescindível ultrapassar os slogans piegas de “união de todos” das peças publicitárias e das afirmativas demagógicas das capas de jornais. - Reprodução

A democracia não é o predomínio da vontade da maioria? Então, que democracia às avessas é esta, na qual, no momento crucial de emergência mundial da pandemia letal,  um só governante se torna único mandante, julgador e executor das decisões sobre a vida e a morte de seus semelhantes?

Está mais do que na hora de se interditar o governante lesa-humanidade que vai às ruas e ocupa redes sociais para debochar dos doentes condenados e dos mortos que se empilham em caixões lacrados.

Não se trata de mera frase de efeito esquerdista orientada por desejo de golpe politico; impedir que ele continue tresloucadamente  usurpando um cargo de estadista, é uma impositiva ação civilizatória.

No entanto, no nosso Brasil de tantos governos derrubados pelas armas é imprescindível que os líderes das Forças Armadas, que se jactam de seu “nacionalismo patriótico”, dotados de senso de humanismo, sinalizem para os chefes de poderes constituídos e de entidades organizadas alhures que os temidos quartéis, sem imunidade ao vírus, serão parceiros na intransferível missão de defender a saúde dos brasileiros, ameaçada pela insanidade da autoridade maior do país.

Tal senha verde oliva deverá estimular e avalizar um grande pacto nacional da República incluindo a população e envolvendo mesmo os empresários que dimensionam esta crise mundial com a realidade dos protocolos internacionais da OMS e o estarrecimento dos números de vítimas infectados e de óbitos crescentes, de maneira inédita no planeta.

Este acordo majoritário, determinado pela urgência do enfrentamento à pandemia, poderá ser a base para um entendimento supra político para garantir a governabilidade imediata e definir eleições futuras em um ambiente novo traumatizado pelas perdas e cicatrizes que marcarão a todos nós, conduzindo a uma reflexão macrossocial de outra natureza que se indagará, fundamentalmente: como enfrentaremos a próxima epidemia?

Pois, certamente, este coronavírus de ocasião não é o único inimigo mortal que o nosso sistema  predador fortalecerá nos próximos anos,  aterrorizando as nações com a perspectiva da destruição em massa e, o pior, que seguramente não elegerá para ceifar somente velhos e pobres.

Agudamente, reforça-se, em países desenvolvidos, a constatação de que o Brasil padece, especialmente nos últimos tempos, com a falta de lideranças constituídas preparadas para contribuir com o bem estar dos brasileiros e dos povos em geral no cenário mundial.

Lista-se, como prova irrefutável deste assustador descaso, o aviltante desprezo do atual gestor com o desmatamento e  as queimadas da Amazônia,  cuja caudalosa diversidade ambiental embala o imaginário internacional de preservação  da natureza e decorrente salvação do universo ocidental.

No nível interno, é preciso rever, com urgência, a política de supervalorização do mercado que vem sendo imposta aos brasileiros, principalmente aos mais pobres, abalroados por reformas agressivas e medidas de limitação orçamentária dos recursos para áreas essenciais, diminuindo a já precária infraestrutura e cimentando a afrontosa desigualdade social que nos envergonha tanto.

É hora de agir, mesmo, e o mais rapidamente possível. É imprescindível ultrapassar os slogans piegas de “união de todos” das peças publicitárias e das afirmativas demagógicas das capas de jornais.

É momento de testar a estatura e a maturidade dos democratas de todos os matizes e partidos e fazer prevalecer a democracia verdadeira, que se compromete, vitalmente, com a preservação da vida do seu povo.

Edição: Marcos Corbari