Rio Grande do Sul

SUS

Documentário registra a importância do Sistema Único de Saúde

Em tempos de coronavírus, SUS ganha mais importância ainda, afirma o presidente do CNS, Fernando Zasso Pigatto

Brasil de Fato | Porto Alegre |
Curta-metragem mostra complexidade e abrangência e relevância do SUS para o país - Foto: Reprodução

Presente no cotidiano das pessoas em atendimentos domiciliares, postos de saúde, hospitais, exames, até mesmo nos ambientes comerciais através da vigilância sanitária, o Sistema Único de Saúde (SUS), há mais de 30 anos, presta um serviço essencial à sociedade. Nascido junto com a Constituição de 88, surgiu com o objetivo de garantir o acesso universal e gratuito para toda a população do país.

Consumindo 45% do total de gasto com saúde no país, atende 80% da população, ou seja, aproximadamente 190 milhões de pessoas. No cenário de pandemia, por conta do coronavírus, sua relevância fica mais explicita. Para instigar as pessoas a refletirem sobre o que é a Saúde como direito humano e o SUS como uma política pública, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) lançou, neste ano, o documentário “SUS, em defesa da vida”.

“A gente que mora nas vilas sabe da dificuldade que é. As doenças sociais geram doenças físicas, mentais”. “Antes não tinha, porque quando era nova não me lembro que tivesse o SUS”. Essas são algumas das falas de pessoas usuárias do sistema que relatam suas experiências no documentário de 18 minutos. Gravado em dezembro de 2019 e lançado em março desse ano, tem o roteiro, direção e produção de Guilherme Castro. O documentário faz parte do Projeto de Formação para Controle Social no SUS – 2ª Edição, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), coordenado pelo Centro de Educação e Assessoramento Popular (Ceap), com parceiras da Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS), realizado por GC filmes.

Controle de epidemia; notificações; controle da água de consumo humano; controle da dengue; controle de alimentos; produtos de limpeza; cosméticos e medicamentos; fiscalização de estabelecimentos tipo restaurantes, salões de beleza, escolas, hospitais, clubes, academias, parques e centros comerciais são algumas das inúmeras tarefas desenvolvidas pelo SUS. Destaca-se ainda a realização de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, cuidando do tratamento das pessoas já doentes, desde os serviços de Atenção Básica/Primária, através das equipes de Saúde da Família, das unidades de Saúde, dos Pronto atendimentos, até serviços de maior complexidade como os hospitais, que exigem mais equipamentos tecnológicos e que são de custo mais elevado.

“O grande desafio da produção foi entender e explicar em audiovisual, com síntese e narrativa, toda a complexidade, abrangência, visão estratégica, valores e volume do trabalho do SUS. Com muito método e planejamento, nossa abordagem foi observar e escutar testemunhos e situações reais, muito expressivas e contundentes, com clareza, beleza e ritmo”, relata Guilherme.

Além do retrato do cotidiano dos usuários do sistema, o documentário aponta os desafios, as dificuldades, principalmente de acesso as ações e serviços de saúde no momento oportuno e da urgência de cada um e cada uma, como também das dificuldades dos profissionais que atuam nos diferentes lugares. É o que destaca a Conselheira Nacional de Saúde e Coordenadora da Comissão Intersetorial de Educação Permanente para o Controle Social no SUS, Sueli Goi Barrios.

“Em parte estes desafios, estão relacionados com o histórico subfinanciamento da saúde, do SUS, que agora se tornou, após a Emenda Constitucional 95/2016, desfinanciado”, aponta Sueli. (A EC 95 congelou por 20 anos recursos para políticas sociais, desde sua vigência, já deixou de receber 22.500 bilhões, conforme dados da COFIN/CNS).

A coordenadora espera que o documentário possa rodar o país e seja assistido por milhares de pessoas em todos os espaços possíveis, e que não sirva apenas como material político e pedagógico para as oficinas de formação. “Queremos que seja disparador de debates nas comunidades, nos sindicatos, movimentos sociais, populares, espaços acadêmicos, de ensino, pesquisa, gestão, profissionais de saúde etc.”, ilustra Sueli ao pontuar que a intenção da disseminação do documentário tem como foco tocar e sensibilizar pelo seu conteúdo, e para que a população se junte em um movimento intenso e sólido de defesa do SUS. “Ele é maior fortaleza que temos para enfrentamento, não só, da pandemia de coronavírus, mas de todas as condições que produzem doenças e agravos à saúde de toda a população”, afirma.

“O documentário ‘SUS, em defesa da vida’ foi dos mais desafiadores, motivadores e gratificantes que minha equipe e eu já realizamos. Um dos motivos da importância que demos a esse filme é a responsabilidade de participar de um projeto de excelência em defesa do SUS, iniciativa do Conselho Nacional de Saúde, com as instituições parceiras”, ressalta Guilherme.

A primeira apresentação do documentário aconteceu no dia 3 de março, em Santa Maria (RS), no auditório lotado da Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (CESMA). “Iríamos fazer a estreia em Porto Alegre dia 6 de abril, conforme estava agendado na Cinemateca Capitólio. Nesse novo contexto, o filme está circulando, foi postado pelas Instituições envolvidas”, expõe o cineasta

O documentário pode ser visto aqui.

Coronavírus, SUS e o governo Bolsonaro

Desde que o primeiro caso de coronavírus chegou ao Brasil, em 26 de fevereiro, a pandemia se espalhou com uma considerável velocidade. Os números no país são de 4.256 casos confirmados e 136 mortes, conforme dados do Ministério da Saúde divulgados neste domingo (29). Já no estado do RS, os números são de 241 casos confirmados, em 47 municípios, sendo a maior parte deles na capital gaúcha. O estado já registrou três mortes. Também no domingo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde, saiu pelas ruas do centro comercial de Brasília. No início da semana passada, em seu pronunciamento, o presidente contrariou especialistas e pediu fim do confinamento.

Para Pigatto, em vez de fazer sua parte no enfrentamento ao coronavírus, como fazer chegar recursos aos municípios e estados, e dinheiro na mão da população para que as pessoas consigam fazer o isolamento, Bolsonaro prefere fazer discurso de palanque eleitoral. “O discurso, como os atos irresponsáveis e até criminoso, e agora um comportamento que incentiva o genocídio da população brasileira do Presidente da República é algo que não tem somente a ver com a questão da economia é algo preparado, pensado. O projeto dele é um projeto de morte e não de vida”, afirma o presidente do CNS.

Ao comentar a realidade atual do SUS no país, confirma que o Sistema está fragilizado e o subfinanciamento já vem sendo feito há muito tempo. “O SUS nunca teve um financiamento suficiente como foi pensado desde a sua implementação, como foi concebido lá na década de 80”, ilustra o presidente ao destacar que o SUS vem entrando em um processo de desfinanciamento. Ele aponta que está se entregando boa fatia do que era público para iniciativa privada: “Esse desmonte é um projeto que estava em curso e que agora fragiliza o enfrentamento coronavírus, a saúde como um todo em nosso país tem muitas fragilidades.”

Assim como apontou Sueli, Pigatto frisa que é preciso que o SUS seja reforçado, que se revogue a EC 95 para que se consiga recursos para Saúde. “Em tempos de coronavírus ainda mais o SUS ganha importância, inclusive entre aqueles que estavam trabalhando para o seu fim e para o seu enfraquecimento. Sabemos que um sistema universal de saúde como o nosso é o único que pode dar conta para enfrentar essa situação. Ele significa muito, precisamos cada vez mais valorizar e fortalecê-lo. Precisamos de dinheiro novo para podermos enfrentar essa situação e quando saímos dela a saúde passar a ser realmente prioritária em nosso país”, conclui.

 

Edição: Marcelo Ferreira