A direção da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS) repudiou a pressão que vem sendo exercida por federações empresariais do Estado contra governos municipais e o governo estadual para acabar com a quarentena e o isolamento social, impostas para combater a pandemia do coronavírus.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e a Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio) lançaram, quinta-feira (26), o manifesto “Pela Reativação da Economia Gaúcha”. No documento, as três entidades propõem “um retorno gradativo às atividades a partir de 1º de abril”. O documento defende a necessidade de retomar a atividade econômica e fixa um prazo sem qualquer consideração pelo alerta das autoridades médicas que preveem, para as próximas semanas, o avanço do coronavírus e do número de óbitos.
Para o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, “trata-se de uma atitude irresponsável e vergonhosa, que coloca em risco a saúde e a vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras, no exato momento em que o número de mortes e infectados não para de aumentar, inclusive aqui no Estado, sendo que até mesmo hospitais de campanha estão sendo montados para atender pessoas contaminadas”.
“Em vez de retomar a economia, os grandes empresários deviam ter anunciado a destinação de parte de seus lucros para comprar equipamentos e material de prevenção, especialmente para os profissionais de saúde, muitos trabalhando em condições precárias para atender a população”, disse Amarildo. “Eles mostram que estão infectados pela pandemia da financeirização, que retira bilhões de reais da sociedade para engordar o sistema financeiro, que lucrou mais de R$ 110 bilhões no ano passado. Até quando ficarão omissos diante da sangria de dinheiro das pessoas para enriquecer um punhado de acionistas bilionários?”
O dirigente da CUT-RS salienta ainda que “a proposta das três maiores federações patronais do Estado vai na contramão dos esforços que vêm sendo feitos no Brasil e em todo o mundo, a fim de evitar a tragédia que já acometeu países como Itália, Espanha, China e Estados Unidos”. Em todo o mundo, são mais de 22 mil mortes e 510 mil infectados, No Brasil já são 77 mortes e 2.915 contaminados.
Embora contrarie as recomendações das autoridades, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a iniciativa dos grandes empresários gaúchos está em sintonia com a posição que vem sendo defendida pelo presidente Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes. “Eles parecem surdos aos apelos dos especialistas em saúde de todo o mundo e ao barulhaço cada vez maior das panelas e dos apitos nas janelas e nas ruas do país contra o governo Bolsonaro”, ressalta Amarildo.
“A Fiergs, a Farsul e a Fecomércio revelam que só se preocupam mesmo é com o lucro das empresas, ignorando o perigo que representa a disseminação do vírus para a saúde e a vida da população”, critica Amarildo, que também repudia a postura do presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, para quem a vida não tem “valor infinito”.
Para o presidente da CUT-RS, “é preciso salvar a vida das pessoas e, por isso, o Estado tem a responsabilidade social de garantir uma renda básica para a sustentação de todas as famílias, a exemplo do que vêm sendo feito em outros países. Também é fundamental injetar recursos no Sistema Único de Saúde (SUS) e revogar a Emenda Constitucional (EC) nº 95/2016, aprovada logo após o golpe de 2016, que congelou por 20 anos o orçamento público para a saúde e a educação”.
(*) Com informações da CUT-RS.
Edição: Sul 21