Sob o título "Em defesa da vida, dos direitos e da democracia", federações e sindicatos filiados à CUT no Rio Grande do Sul lançaram uma nota, na manhã desta sexta-feira (28), defendendo as negociações coletivas e a manutenção da quarentena e do isolamento social para combater a pandemia do coronavírus.
As entidades manifestam surpresa diante do absurdo recuo de "algumas federações e entidades de classe do setor empresarial do RS, conclamando o retorno à normalidade".
Para as federações e os sindicatos, "fazer coro com o presidente Bolsonaro e incentivar o discurso que essa pandemia não passa de uma 'gripezinha' que está sendo utilizada para desestabilizar a economia do país é uma insanidade. Denunciaremos com veemência essa irresponsabilidade, cuja consequência será a morte de milhares de pessoas".
Leia a íntegra da nota:
NOTA DAS FEDERAÇÕES E SINDICATOS FILIADOS À CUT DO RIO GRANDE DO SUL
EM DEFESA DA VIDA, DOS DIREITOS E DA DEMOCRACIA
Assim que a Organização Mundial da Saúde (OMS) notificou a existência de uma pandemia causada pelo COVID-19 e, na sequência, fomos informados do primeiro caso de contágio no Brasil, as Federações e Sindicatos filiados à CUT/RS foram orientadas a estabelecer negociação com os empregadores para adotar as medidas emergencias de controle do contágio, como a dispensa temporária do grupo de risco, a proteção das gestantes e dos PCDs; dispensa de trabalhadores que apresentam sintomas do COVID-19, adoção de home office, gestão de aglomerações nos locais de trabalho, intensificação de práticas de higienização, disponibilização de kits de proteção e equipamentos de medição de temperatura, etc.
Vários segmentos da área pública e privada pactuaram ações de combate ao COVID-19, inclusive com assinatura de protocolos com as nossas Federações e Sindicatos. Os setores metal-mecânico e coureiro-calçadista, por exemplo, optaram pela antecipação de férias. Boa parte do setor da alimentação e da agricultura familiar aplicaram medidas rigorosas de proteção dos trabalhadores, sem colocar em risco o fluxo da produção.
Os setores químico, petroquímico e celulose aperfeiçoaram a gestão de turnos com o propósito de reduzir o número de trabalhadores nas unidades de trabalho. O setor financeiro limitou o atendimento externo e garantiu as operações essenciais, tais como a compensação de cheques, entrega de cartões e abastecimento de caixas eletrônicos. Na área da educação privada e pública, as nossas entidades sindicais negociaram com sucesso a suspensão das atividades presenciais.
Insistimos também com os empregadores da área da saúde, que já vinham sofrendo os impactos da reforma trabalhista e da diminuição do orçamento do SUS, que tivessem uma atenção especial com esses profissionais, aumentando o contingente e disponibilizando todos os recursos e procedimentos necessários para garantir o máximo de segurança.
Além disso, a CUT/RS acolheu denúncias e encaminhou judicialmente casos de empregadores da área de supermercados e farmacêutico que se recusavam a adotar medidas recomendas pela OMC e por portarias dos governos estadual e municipais. Por fim, disponibilizamos recursos financeiros e humanos em campanhas de publicidade na perspectiva de reforçar o “isolamento social” e contribuir com estratégia de deter a expansão do contágio.
Depois do pronunciamento desastroso do presidente Bolsonaro, fomos surpreendidos com o recuo de algumas federações e entidades de classe do setor empresarial do RS, conclamando o retorno à normalidade. Fazer coro com o presidente Bolsonaro e incentivar o discurso que essa pandemia não passa de uma “gripezinha” que está sendo utilizada para desestabilizar a economia do país, é uma insanidade. Denunciaremos com veemência essa irresponsabilidade, cuja consequência será a morte de milhares de pessoas.
O desenvolvimento econômico e a democracia são as condições essencias para que tenhamos vida digna. Submeter a natureza, a vida dos trabalhadores e da sociedade à ganância do mercado nos levará inevitavelmente a um grande desastre social. Se o setor empresarial está de fato preocupado com a recuperação da economia, que ataque o vírus da financeirização que sufoca os pulmões da produção e resseca o comércio.
A ausência de uma política industrial está levando amplos setores produtivos a convalescência. A diminuição da renda e o desemprego estão levando o comércio à UTI. A opção por um agronegócio predatório, além de “contaminar a casa onde moramos”, está eliminando a agricultura familiar. A volta a essa “normalidade econômica” não nos serve. Quando irão enxergar isso? O que mais é preciso acontecer para se darem conta que estamos à beira de um precipício global?
As Federações e Sindicatos da CUT/RS continuarão insistindo na preservação da vida, na contenção do contágio, na defesa dos direitos. Seguiremos exigindo a taxação das grandes fortunas e combatendo a ditadura dos endinheirados do sistema financeiro, que deviam neste momento custear a construção de hospitais, disponibilizar recursos para produção de kits de proteção e sinalizar com um fundo em apoio aos médios e microempreendedores.
Esperamos que as entidades patronais do RS revejam suas declarações e participem de um grande pacto de proteção da vida, de combate ao COVID-19 e de defesa de uma economia que esteja a serviço da vida e da democracia.
Porto Alegre, 27 de março de 2020.
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS METALÚRGICAS, MECÂNICAS E DE MATERIAL ELÉTRICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – FTM RS
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DA ALIMENTAÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL – FTIARS
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS RS – FETRAFI/RS.
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES EM ESTABELECIMENTO DE ENSINO – FETEESUL
FEDERAÇÃO DEMOCRÁTICA DOS SAPATEIROS DO RIO GRANDE DO SUL
FEDERAÇÃO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – FEESSERS
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA FAMILIAR DO RIO GRANDE DO SUL – FETRAF/RS
FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NO COMÉRCIO, BENS E SERVIÇOS DO RIO GRANDE DO SUL – FETRACS
SINDICATO DOS PETROLEIROS DO RIO GRANDE DO SUL – SINDIPETRO/RS
SINDICATO DOS ENFERMEIROS DO RIO GRANDE DO SUL – SERGS
SINDICATO DOS TELEFÔNICOS DO RS – SINTTEL/RS
SINDICATO DOS TRABALHADORES DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA DE TRIUNFO – SINDIPOLO
SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DE CELULOSE E PAPEL – SINPACEL
SINDICATO DOS TRABALHADORES DA SEGURANÇA PRIVADA – SINDIVIGILANTES DO SUL
SINDICATO DOS TRABALHADORES RODOVIÁRIOS INTERMUNICIPAIS, INTERESTADUAIS, TURISMO E FRETAMENTO DO RGS
SINDICATOS DE MUNICIPÁRIOS FILIADOS À CUT
SINDICATOS DE SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS E FEDERAIS FILIADOS À CUT
* Informações da CUT-RS
Edição: Marcelo Ferreira