As três maiores federações empresariais do Rio Grande do Sul estão defendendo o fim da quarentena até o dia 6 de abril, quando o Estado e o Brasil, segundo o Ministério da Saúde, estarão em pleno pico da epidemia de coronavírus.
Com o título de “Pela Reativação da Economia Gaúcha”, seu manifesto propõe ”um retorno gradativo às atividades” já a partir de 1º de abril. É assinado pela Fiergs (indústria), Fecomércio (comércio) e Farsul (agropecuária). É uma iniciativa na contramão do que vem sendo feito em todo o mundo para travar a pandemia.
“Trata-se de uma atitude irresponsável e vergonhosa”, retrucou o presidente da CUT/RS, Amarildo Censi, para quem a intenção “coloca em risco a saúde e a vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras”.
Os empresários entendem que existe o risco, no curto prazo, “da falta generalizada de produtos, desde o campo até as lojas”. Querem colocar 50% do seu pessoal trabalhando no dia 1º e 100% em 6 de abril. Na sua avaliação, “o bom senso deve prevalecer nesse momento atípico, sem aprofundar ainda mais os problemas sociais decorrentes de um colapso econômico”.
Meio milhão de contaminados
Na mesma data (26/3) em que os patrões defendiam a medida, o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo dos Reis, anunciava “30 dias muito difíceis em abril”, quando a pandemia atingirá “uma fase crítica” no Brasil. Também a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgava a contaminação de meio milhão de pessoas no mundo inteiro.
O movimento das três federações visa pressionar o governador Eduardo Leite (PSDB) que, de perfil neoliberal, recebeu o apoio dos empresários na sua eleição em 2018. Leite, porém, até o momento não recuou da quarentena.
“Só se preocupam com o lucro”
“Eles mostram que estão infectados pela pandemia da financeirização”, atacou o presidente regional da CUT. Acentuou que bilhões de reais são retirados da sociedade “para engordar o sistema financeiro, que lucrou mais de R$ 110 bilhões no ano passado”. Para Cenci, “a Fiergs, a Farsul e a Fecomércio revelam que só se preocupam mesmo é com o lucro das empresas, ignorando o perigo que representa a disseminação do vírus para a saúde e a vida da população”.
Simers prefere o silêncio
Chamada a se manifestar diante de uma atitude que poderá agravar em muito a situação dos hospitais e sobrecarregar ainda mais os profissionais da Saúde, justamente no auge da epidemia, a direção do Sindicato dos Médicos do RS (Simers) preferiu não opinar a respeito. Segundo sua assessoria, a direção “está envolvida com outras demandas mais urgentes”, citando a disponibilidade dos EPIs, os equipamentos de proteção individual.
Edição: Marcos Corbari