Essa reflexão deriva de uma postagem no Facebook. A divergência com pessoas queridas que militam na lado da história oposto ao que sigo tem se intensificado nestes dias de crise sanitária e econômica. Escrevi como um desabafo, mas também para que o texto fosse expressão de um apelo, de peito aberto e coração sereno, à razão e sensibilidade de cada um. Esse texto deve ser lido levando isso em consideração.
Eu tenho muitos amigos, amigas, familiares, ex-colegas e também ex-alunos que estão no campo oposto ao meu, no que se refere à política. Mas não nutro contra eles nenhum tipo de mau sentimento. É do jogo democrático estar ora em situação de governo, ora de oposição. Digo mais, pelo contrário, tenho ainda tentado evitar polêmicas vazias que se transformem em ódio gratuito. A eles e elas digo que é seu direito apoiar este governo que aí está, assim como é meu direito fazer oposição. Mas não é seu direito, nem meu, abandonar a razão para defender ou para contrapor uma posição política.
Eu jamais aceitaria que para defender meu posicionamento político, colocasse a vida de qualquer uma dessas pessoas em risco. E digo que hoje é o que sinto que vocês estão fazendo, colocando suas próprias vidas em risco e também a minha, a das pessoas que eu amo e a de uma multidão de outras pessoas cuja existência ignoramos completamente.
Apelo aos amigos e amigas que militam no campo oposto ao meu: manifestem-se, mas tragam para suas manifestações a razão (no que concerne ao subjetivo) e a ciência (no concerne ao objetivo). Invés de guiar-se por discursos, mêmes e notícias publicadas em meios de questionável índole, busquem informar-se a partir de fontes confiáveis (e a Organização Mundial da Saúde é a principal delas) e com a mesma energia que estão debatendo comigo e com seus pares nas redes sociais, passem a cobrar de seus eleitos que tenham posturas mais sérias e dignas para com o momento sensível e com os riscos que corremos tanto individual, quanto coletivamente.
Repito: Cobrem de seus representantes políticos que assumam uma postura mais racional, pois especificamente neste momento, quanto mais cedo trabalharmos unidos, respeitando o isolamento, contendo a velocidade de contágio, oportunizando aos órgãos de saúde que procedam com racionalidade o enfrentamento à doença, estaremos mitigando as perdas humanas ao mínimo possível.
Eu espero que possamos superar esse momento difícil, que a economia também possa se recuperar assim como nós, nos recuperemos, enquanto coletividade. Pouco me importa se lá na frente o presidente que vocês elegeram for considerado o "salvador da pátria"... Me importa sim é que eu, você e todos os nossos mais queridos e queridas possam estar juntos e até mesmo retomar esse debate em um futuro comum.
Sei que aí dentro tem um coração, que você pode ter raiva de mim e das minhas opções políticas, mas que se fizer um esforço vai notar que estou aqui despido de carapaças ideológicas, pedindo que opte pela empatia nas relações e pela cientificidade nas leituras.
Eu estou com medo e acredito que você também esteja. Quero seguir tendo a tua companhia, ainda que para me contradizer. Por isso peço de coração aberto: dispa-se você também dessa casca de rancor ideológico, apele ao bom senso e - se ainda assim for difícil - preze pela racionalidade mais simples e pura. Todos somos vítimas nesse processo, todos somos vítimas do vírus Corona. Mas não precisamos nos sujeitar a ser vítimas do vírus da ignorância.
Edição: Marcelo Ferreira