O planeta virou palco de uma pandemia que impõe às comunidades novas formas de viver o cotidiano e a busca por aprender lidar com o desconhecido. Assim como no clássico Dom Quixote, do escritor espanhol Miguel de Cervantes, a loucura e o idealismo configuram uma linha muito tênue. Priorizamos a vida ou a economia?
As circunstâncias imprimem a necessidade de anunciar e denunciar as mazelas sociais - dolorosamente sentidas por quem já vive injustiças refletidas do abismo entre classes. E é assim, em estado de isolamento social devido à pandemia de Covid-19, que chegamos ao Dia Mundial do Teatro e Dia Nacional do Circo, assinalados neste 27 de março.
E nada mais quixotesco que refletir sobre as guerras que estamos travando com a gente mesmo e, no ato de desconstrução de quem somos, nos situarmos como protagonistas disso que temos assimilado como sonho, ou realidade. Assim como o cavaleiro andante, caímos muitas vezes em nossas trajetórias. Mas a retórica freireana nos impulsiona - para além de nossas habilidades e competências já praticadas – a esperançar e a prosseguir, mesmo sabendo que “sonhos têm seus contra-sonhos”.
Dom Quixote nos autoriza a ver um mundo que não existe e a crer sermos quem não somos. Mas, então? Seremos “louco de juízo”, como diria Drummond? Ouso apostar que sim. Afinal, a questão de consciência é de foro íntimo, já a crise de responsabilidade é planetária e nos bate à face. Não há ceticismo que perdure frente esta crise. É como acreditar no famoso truque de mágica. A necessidade cria a utopia e ela existe para nos fazer caminhar, já dizia Eduardo Galeano. Sigamos por nossos sonhos, impulsionados/as pelo moinho de vento que habita em nós.
*Jornalista
Edição: Marcos Corbari