Rio Grande do Sul

Coluna

Derretimento

Imagem de perfil do Colunistaesd
Derretimento do "mito" é fato, mas é preciso cuidado, um golpe pela direita pode estar em preparação - Foto: Coletivo Projetação
Unidade popular de todas as forças populares e de setores progressistas e democráticos é fundamental

Escrevi mensagem, e espalhei, depois do Fórum Social em Salvador: “Me convenci: o que está acontecendo no Brasil é muito, muito, MUUUIIIITO mais sério do que conseguimos ver e antever agora, em 19 de março de 2018. PREPAREMO-NOS!”

A partir de então, escrevi uma série de artigos com o título PREPAREMO-NOS, entre os quais o de 16 de junho de 2018: ‘PREPAREMO-NOS: O DERRETIMENTO DE UM PAÍS’. “Estamos vendo o derretimento de um país, que finalmente estava começando a ser Nação.” E terminei assim: ”Único ativo, ainda e efetivamente disponível: o povo brasileiro.”

Espalhei mensagem na noite do dia 24 de março de 2020, no meio do ‘confinamento’ em casa de mamãe, depois do pronunciamento oficial do Presidente da República sobre o coronavírus, com sua interpretação e seus ataques a todo mundo, que imediatamente recebeu comentários e repúdio de todos os lados: “O pior pronunciamento que eu vi na minha vida. Na forma e principalmente no conteúdo. De um líder!!! Cruz credo! Horror dos horrores. Não dá mais!!!”

A direitização está em pleno curso, sob a ‘liderança’ de um fascista, ultradireitista neoliberal conservador. O derretimento de um país continua em pleno curso, até ontem apoiado por todo empresariado escravocrata, pela mídia golpista, por setores majoritários da classe média, pela maioria do Sistema de Justiça e do Congresso Nacional.

Os pedidos de impeachment e o ‘Fora Bolsonaro’ começam a correr celeremente em todas as redes sociais. O derretimento de um líder, mesmo sendo de ultradireita, no contexto do derretimento de um país e de uma Nação, é um fato. O ‘Mito’ se esfarela aos olhos do povo, que em boa parte nele acreditou, da classe média direitosa antipetista, até de setores do empresariado que só conseguem enxergar lucro e mercado e de setores da mídia que sempre apoiaram golpes e ditaduras.

Que fazer? Será hora do Fora Bolsonaro e do início do processo de impeachment?

Em primeiro lugar, o momento, acima de tudo, é de cuidado e solidariedade. Pessoas estão sendo infectadas, o número de mortos está crescendo, a vida está em perigo. Essa deve ser a primeira e quase única preocupação no imediato.

Em segundo, o desgaste crescente da política ultraneoliberal em curso, agora mais que nunca desnudada na crise do coronavírus, e de seu líder maior está evidente com os panelaços crescendo em todo país, nas conversas no cotidiano com as pessoas que nos cercam. De todos os lados surgem manifestações, repúdios, iniciativas.

Em terceiro, como se sabe de situações anteriores - o fim da ditadura e as Diretas-Já, o impeachment de Collor, mesmo o impeachment/golpe de Dilma, - é preciso criar/construir um clima de repúdio geral, de mobilização de massas, para que se possa efetivamente abraçar com todas as forças, e na certeza do resultado positivo, uma causa de nível nacional como o afastamento de um presidente eleito com 57 milhões de votos. E sem esquecer do coronavírus e suas consequências, bem como da crise econômico-social já em curso há anos, que está apontando fortemente para uma recessão, o que significa desemprego em massa, empobrecimento geral, volta da fome e da miséria.

Em quarto, reafirmo hoje o que escrevi em 5 de junho de 2018, como uma das iniciativas urgentes então: “Ir para a desobediência civil. Foi assim nos anos posteriores a 1964: greves proibidas eram feitas, ocupações urbanas e rurais não permitidas aconteciam, etc.” É o que está acontecendo hoje com governadores e prefeitos, que não obedecem às ordens do Presidente da República. A desobediência civil deve chegar às escolas, Universidades, deve acontecer de todas as formas e em todos os espaços, para que o derretimento do ‘Mito’ seja mais rápido: escolher entre a civilização e a barbárie, e salvar o povo, o país, a Nação.

Em quinto, é preciso cuidado por, pelo menos, duas razões. Um golpe pela direita pode estar em preparação: jogar as eleições municipais para 2022, declaração de Estado de Sítio e, junto com ele, medidas extremas contra os movimentos sociais e populares e contra a democracia. Sabemos pela história: a direita brasileira é capaz de tudo.

Por outro lado, qual a alternativa? O vice-presidente e os militares assumindo, até agora coniventes e sócios de tudo que está acontecendo? Ou qual outra opção e alternativa?

O derretimento do ‘Mito’ e do seu Gabinete do Ódio está em curso. O derretimento deve ser aprofundado rapidamente, para que se crie o clima do afastamento com amplo apoio popular e social, e com clareza do que colocar no lugar. O derretimento de um país, de uma Nação exige respostas imediatas, urgentes, mas também um projeto estratégico de médio e longo prazos, a ser construído.

Uma ampla unidade popular de todas as forças populares e de setores progressistas e democráticos é fundamental em qualquer hipótese, na luta e mobilização, na construção de uma alternativa, nos futuros processos eleitorais.

Termino a reflexão com as mesmas palavras do último parágrafo do artigo de 5 de junho de 2018: “O povo brasileiro continua sendo o maior ativo de que dispomos. O povo brasileiro, mais uma vez, em sua coragem, generosidade e capacidade de luta, não aceitará o derretimento do país. O povo brasileiro salvará o Brasil.”

Edição: Marcelo Ferreira