Em Porto Alegre, existem cerca de 4 mil pessoas sem um teto para morar. A situação que em dias normais já é grave torna-se ainda mais dramática em meio à pandemia de coronavírus. O Movimento Nacional da População em Situação de Rua do RS (MNPR-RS) se manifestou a respeito da situação, cobrando medidas concretas e rápidas de proteção a essa população por parte dos governantes.
“Este momento exige o comprometimento de todos para que a população em situação de rua seja também incluída nas medidas de proteção e profilaxia, a fim de evitarmos muitas mortes destas pessoas que, na sua maioria, já sofrem de diversas comorbidades, doenças do sistema respiratório, baixa imunidade. Além disto, existe a dificuldade no acesso à água tratada, acesso a banheiros e mesmo a uma residência ou local adequado para realizar a quarentena – caso seja necessário”, diz nota do movimento lançada nesta terça-feira (24).
O MNPR-RS afirma que já foi entregue um Plano de Contingenciamento do Coronavírus para a População em Situação de Rua aos governos do Estado e municipal de Porto Alegre. Também destaca que diversos grupos da sociedade civil estão intensificando as ações que já promoviam, como a distribuição de alimentos, kits de higiene e outras ações.
“Reivindicamos aos prefeitos e ao governador do RS que abram os espaços subutilizados e ofereçam as condições para que as equipes de saúde e da assistência social possam realizar o seu trabalho, que é zelar e cuidar da vida das pessoas em situação de rua”, diz a nota (disponível na íntegra no final da matéria).
Gigantinho será usado como abrigo
O Gigantinho, ginásio do Internacional que fica ao lado do estádio Beira-Rio, será utilizado para abrigar pessoas em situação de vulnerabilidade durante a pandemia de coronavírus. O clube atendeu solicitação da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Além do Gigantinho, o Clube coloca o Centro de Eventos Arthur Dallegrave como suporte, assim como ocorreu em 2019 durante o acolhimento aos desabrigados nos dias mais frios.
Em nota, o Inter afirmou que está sempre à disposição para auxiliar. “É uma honra prestar ajuda e dar suporte à população do Rio Grande do Sul, que tanto já fez, e faz, pelo Inter". A OAS, em nome da Arena do Grêmio, também disponibilizou a estrutura para o que for necessário ao enfrentamento da pandemia.
Trabalhadora de abrigo pede valorização do SUS e do SUAS
A educadora social do Abrigo Municipal Bom Jesus, Veridiana Machado, destaca o esforço coletivo diário de trabalhadores e pessoas atendidas para mitigar o momento de crise e de maior transmissão do vírus. “Isolamento social, muita conversa, muitos cuidados de higiene: álcool gel, lavagem de mãos, banho, troca de roupas pessoais e de cama, cuidado com o tratamento medicamentoso, principalmente com os (as) idosos”.
Ela destaca a importância do direito ao acesso aos serviços de Saúde e Assistência Social e afirma que os serviços poderiam ser melhores se houvesse investimentos e valorização. “SUS (Sistema Único de Saúde) e SUAS (Sistema Único de Assistência Social) para quem precisa e em momentos de Pandemia, ao fim e ao cabo, são os serviços públicos e a ciência, tão atacados pelos governos e, principalmente, pelo presidente da República que temos hoje, que nega irresponsavelmente a gravidade do momento, que irão minimizar a crise”, afirma.
Nota do MNPR-RS
Porto Alegre, 24 de março de 2020.
O Movimento Nacional da População em Situação de Rua do RS vem a público se pronunciar a respeito da difícil situação que enfrentamos em função da pandemia do coronavírus – COVID19. Este momento exige o comprometimento de todos para que a população em situação de rua seja também incluída nas medidas de proteção e profilaxia, a fim de evitarmos muitas mortes destas pessoas que, na sua maioria, já sofrem de diversas comorbidades, doenças do sistema respiratório, baixa imunidade. Além disto, existe a dificuldade no acesso à água tratada, acesso a banheiros e mesmo a uma residência ou local adequado para realizar a quarentena – caso seja necessário.
O mundo todo se mobiliza e se envolve em uma força tarefa para diminuir o contágio do coronavírus. Neste contexto, mais do que nunca, se faz necessário que o Governo Federal, governos estaduais e municipais cumpram sua parte em relação à população em situação de rua. Em Porto Alegre, estimamos que cerca de quatro mil pessoas estejam nesta condição. Neste mês de março, grupos da sociedade civil, representantes de órgãos como a Defensoria Pública da União, movimentos sociais, entidades como o jornal Boca de Rua, a Pastoral do Povo da Rua, Escola Porto Alegre, Oscips e ONGs – tais como grupos que distribuem alimento e fornecem banhos solidários – estudantes, pesquisadores e professores universitários, trabalhadores dos consultórios na rua, da abordagem social e do acolhimento institucional, unem esforços para cobrar ações concretas para inclusão da população de rua nas medidas de prevenção a partir de um Plano de Contingenciamento do Coronavírus para a População em Situação de Rua – documento já entregue ao governo do estado e governo municipal. Por outro lado, os grupos intensificam as ações que já promoviam, como a distribuição de alimentos, kits de higiene e outras ações.
Reforçamos que cidades como Aracaju, Rio de Janeiro e São Paulo já dispuseram de espaços como escolas, vagas em hotéis e abertura de ginásios de futebol, que ficarão neste momento subutilizados, à disposição do acolhimento das pessoas em situação de rua que precisam fazer quarentena. Estão dispondo de alimentação, álcool gel, água potável e banheiros limpos. Medidas que entendemos como fundamentais para a prevenção e controle do contágio. No nosso Estado, o Rio Grande do Sul, percebemos que o a Prefeitura de Porto Alegre não age com a celeridade e transparência necessárias neste momento tão delicado. Ao invés da ampliação de espaços, oferece a adequação de um espaço de pernoite que já existia, mas que não teve seu contrato renovado, que é o caso do albergue Monsenhor Felipe Dihel, no bairro Navegantes. Diante de um cenário de calamidade pública, precisamos de mais respostas do poder público, cobramos agilidade, comprometimento e transparência nos processos. Da mesma forma, solicitamos que a sociedade e os movimentos sociais que estão preocupados com esta situação tenham voz e que se faça a devida audiência das pessoas que estão nesta condição. Reivindicamos aos prefeitos e ao governador do RS que abram os espaços subutilizados e ofereçam as condições para que as equipes de saúde e da assistência social possam realizar o seu trabalho, que é zelar e cuidar da vida das pessoas em situação de rua. Cientes do momento difícil e a fim de evitar o pior, solicitamos que sejam tomadas as devidas providências expressas no Plano de Contingenciamento do Coronavírus para a População em Situação de Rua.
TODAS AS VIDAS IMPORTAM!
Movimento Nacional da População de Rua do RS
Édison Campos, representante do RS na Coordenação Nacional deste movimento social
Edição: Katia Marko