Há momentos na vida de um líder em que, diante de tremendos obstáculos, é preciso agir e tomar decisões graves. Grandes personagens enfrentaram situações assim. Franklin Roosevelt, Josef Stalin e Winston Churchill fizeram o nazifascismo morder a poeira na II Guerra Mundial. Não importa se os odiamos ou admiramos. Estavam à altura do momento histórico. No Brasil, Getúlio em 1930 e 1954, Brizola no episódio da Legalidade em 1961 e Lula na crise econômica mundial de 2008 mostraram sua aptidão para encarar desafios. Não é o caso do Brasil nos tempos que correm. Azar o nosso.
A começar pelo fato de que a figura no comando nem de longe se confunde com alguém que sabe o que faz. Muito menos com alguém apto a segurar o timão e fazer o barco atravessar a tormenta. Já estava péssimo antes, ao findar o primeiro ano do mandato patético, quando apenas avançou a destruição: economia parada, desemprego, precarização do trabalho, devastação ambiental, estímulo à violência, sucateamento da saúde e da educação, desprezo pela ciência e pela cultura, perseguição ao jornalismo, militarização da política e politização dos militares, ameaças ao Estado laico, culto da ignorância. E uma diplomacia de cócoras, envergonhando o Brasil aos olhos do mundo.
Mas agora ficou pior. A desaceleração da economia internacional e a progressão do coronavírus sinalizam brutais dificuldades, mesmo para gestores capazes. O que esperar então de uma direção politicamente inepta, um ministério de anedota e um aprendiz de feiticeiro na economia?
Pouco, na verdade. Bolsonaro gastou um ano e quase três meses de mandato com a vocalização de factoides - foram 608 declarações falsas ou desvirtuadas - e a afronta constante das instituições. Sem esquecer seu esporte favorito: a prática reiterada de crimes de responsabilidade que, fosse o Brasil um país civilizado, já teria resultado em seu afastamento do cargo. Ou seja, entramos numa zona de turbulência e descobrimos que o avião não tem piloto.
Uma de suas últimas proezas foi desprezar a pandemia, atribuindo-a “à mídia”. Suspeito de contaminação, utilizou máscara, tirando-a para se misturar a um grupo de apoiadores na contramão da orientação do próprio Ministério da Saúde. Antes, usou um humorista e bananas como biombo para fugir de comentar o mirrado PIB de 1,1%. Desta vez poderá ser mais difícil engambelar os brasileiros. Menos mal que não conseguiu, ainda, desmantelar o SUS, nosso melhor trunfo para enfrentar o que vem pela frente.
Edição: Ayrton Centeno e Katia Marko