Conceitualmente o conservador procura conservar o status quo (o estado das coisas): o definido, o estável, o estabelecido.
Na prática, o conservador quer conservar um lapso temporal, um pequeno pedaço do infinito do tempo (infinito e não eterno! – há uma grande diferença), justamente o pedaço que lhe convém conservar.
O conservador é, portanto, previamente rancoroso – ele nutre um ódio secreto e profundo – quanto àquilo que as modificações podem trazer.
Mas o conservador é, antes de mais, a descrição do contraditório: ele quer conservar aquilo que é fruto de mudanças de modo que estas mudanças não mudem mais. Por isso, o conservador é, essencialmente, religioso. A lógica teleológica (quer dizer, aquela que busca descrever – e doutrinar – as causas finais, os objetivos, as finalidades), da qual embebeda-se, confirma a sua busca por estabilidade. Mas, o conservador pode também ser científico: basta com que a ciência lhe dê uma causa eterna – matematicamente estável – de obviedades. Por isso, o conservador é, essencialmente, cético.
O contraditório do conservador é não reconhecer o infinito do tempo para se concentrar em um recorte temporal – o tempo da sua vida mesquinha – para justificar os valores sob os quais vive. Ao que parece, a vida começou com o seu nascimento e terminará na sua morte. Nada que excede as suas (in)competências são dignas de nota.
O conservador pensa que o mundo que ele vê é a clara transparência das coisas, quando na verdade o que entendemos por mundo é uma construção (objetiva ou subjetiva, tanto faz – ambas são fruto da capacidade humana de pensar) culturalmente reconhecida e, portanto, essencialmente, questionável e modificável. Mas o conservador não vê, apesar da clareza e da transparência, que ele é o que pode ser e não o que deveria ser. Inseguro, o conservador, é virulento.
É por isso que, no fim, o conservador é, essencialmente, egoísta porque é justamente o sujeito que quer que o mundo seja como ele quer (estável, objetivo, eterno e teleológico) e não como o mundo é (dinâmico e infinito).
O conservador, ressentido e recalcado, usa a ofensa como sistema defensivo; não ouve e não se cala, fala alto, grita e, se preciso, usa da força ou da piada. Faz troça. Pensa que reconhecer as mudanças e as qualidades das mudanças é sinal de fraqueza. Mas moralmente fraco é quem é, essencialmente, contraditório e intransigente na sua contraditoriedade.
O que o conservador conserva? A sua essência, e nada mais.
*Professor universitário, mestre em comunicação.
Edição: Marcos Corbari