A 2ª edição do Fórum Social das Resistências foi convocada e organizada por mais de 120 redes, plataformas, movimentos e organizações sociais do Rio Grande do Sul que, desde novembro de 2018, estiveram reunidas em Plenárias Abertas para discutir as propostas, a metodologia e a infraestrutura necessárias para mobilizar e articular as resistências no Rio Grande do Sul e no Brasil. Nunca se pretendeu um evento massivo. A prioridade era a dinâmica da articulação entre movimentos, iniciativas de resistências visando o encontro, a troca de experiências e a convergências de estratégias, agendas e mobilizações para barrar as ofensivas fascistas, neoliberais e neodesenvolvimentistas que estão retirando direitos, acabando com a democracia e com o meio ambiente. A sistematização final está sendo organizadas pelo grupo de relatorias, o que demorará algum tempo, mas parece fundamental apresentar de imediato um breve balanço inicial que, certamente, será complementado por outras memórias e informes e que deverão resultar no Documento Final.
Certo é que realizamos um excelente Fórum Social das Resistências 2020 com atividades em Porto Alegre, São Leopoldo e Eldorado do Sul. O Fórum reuniu mais de 3.500 participantes de 23 estados brasileiros e com representações de vários países como Alemanha, Argentina, Bélgica, Bolívia, Canadá, Colômbia, Itália, França, Marrocos, México, Moçambique, Paraguai, Peru, Portugal e Uruguai além de representações das mulheres Palestinas e Curdas.
O Fórum Social dia 21/01/2020 iniciou de baixo de chuva com a Marcha de Abertura realizada conjuntamente com a XII Marcha pela Vida e a Liberdade Religiosa e teve a participação de 1.200 pessoas. Já no dia 22/01/2020 foram realizadas 14 atividades de convergências, várias delas com auditórios lotados, como a Convergência sobre Trabalho, Saúde, Previdência e Seguridade Social, sobre Educação, Universal, Democrática e Libertadora, sobre Agroecologia e Agrotóxicos, Direitos de Organização e Economia Solidária, OcupaTudo – Redes e Ações Diretas para Resistir e Avançar no Direito a Cidade, dentre outras. Em outras atividades de Convergências a presença não foi tão massiva, no entanto, foram de grande importância como as convergências sobre Diversidade, Igualdade e Direitos Humanos, a Convergência para o Enfrentamento do Encarceramento em Massa, ao Genocídio das Juventudes e aos Feminicidios, a criminalização dos Movimentos Sociais e pela Defesa dos Defensores/as dos Direitos Humanos e a Convergência sobre o Futuro da Democracia e a Participação Popular.
Sobre a questão ambiental ocorreram duas iniciativas de convergências, uma sobre Mineração e Meio Ambiente centrada na denuncia e na articulação contra os projetos de mineração que estão em debate no RS e outra sobre as Emergência Climática e Ecológica. Algumas das convergências ocorreram em outros dias e horários, como as Convergências sobre Migrações, Mulheres por um Estado Laico e Democrático, sobre a Solidariedade a Palestina, aos Curdos e contra a Guerra no Oriente Médio, sobre Comunicação e Mídias Livres, e das lutas da Comunidade LGBTQI. Já no dia 23/01/2020 em São Leopoldo foi realizada a mesa sobre os Direitos da Terra e os Bens Comuns no Auditório Central da Unisinos e a tarde as mesas dos Direitos dos Povos e dos Desafios da Democracia Hoje no Auditório da FETRAFI em Porto Alegre.
Durante todos os dias do Fórum Social das Resistências houve a Feira de Economia Solidária instalada na Praça XV ao lado do Mercado Público de Porto Alegre e contou com mais de 100 empreendimentos vindos de várias cidades do RS, de Santa Catarina, Paraná e São Paulo e que foram distribuídos em 60 espaços de comercialização. Durante os cinco dias foram comercializados centenas de produtos da economia solidária com arrecadação de quase R$ 30.000,00.
A linguagem das Culturas de Resistências tiveram um destaque muito forte em todos os momentos do Fórum Social das Resistências 2020. Houve a presença marcante das vozes e expressões do hip-hop, do rap, das danças, dos DJs, das cantoras e cantores da cultura popular gaúcha e latino-americana, do teatro de rua e da poesia do amor, do afeto e da solidariedade. Estas atividades ganharam maior destaque na Convergência sobre Culturas de Resistência e a Comunidade LBGT na Esplanada da Restinga, no Sarau das Resistências no Museu do Rio dos Sinos em São Leopoldo, a Cumbia das Resistências na Travessa dos Venezianos e o teatro do Povo da Rua na Feira Agroecológica da José Bonifácio, além de várias apresentações na Assembleia dos Povos. Por isso, o Fórum Social das Resistências também foi um espaço de acolhida, de convivência, troca de afetos e de fortalecimento da solidariedade entre as lutas, os povos em movimentos.
A síntese de todas as atividades foram apresentadas na Assembleia das Convergências que indicou uma agenda de lutas e de articulações dentre elas o 08 de Março – Dia Internacional das Mulheres, Dia 7 de Abril – Dia Mundial da Saúde, Dia 1o de Maio – Dia Internacional da Luta dos/as Trabalhadores/as, Dia 25 de Julho – Dia das Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, Dia 07 de Setembro – Marcha dos/as Excluídos/as, De 20 de Novembro a 10 de Dezembro – 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. A memória completa das denúncias, dos anúncios e das agendas de articulação estão sendo organizadas para apresentação na Plenária de Avaliação e Prestação de Contas que será realizada em fins de fevereiro ou início de março de 2020.
Importante ressaltar que, ao final do FSResistências2020 foi realizada a Reunião do Conselho Internacional do FSM que, como síntese, reafirmou a importância dos processo do FSM de 2001 a 2005 em Porto Alegre e sua capacidade de contraposição ao Fórum Econômico de Davos e que, na atual conjuntura, é fundamental que as redes, plataformas, movimentos e organizações sejam capazes de retomar a capacidade de aglutinação e convergência para resistir aos ataques e retrocessos dos direitos e de democracia em todo mundo. Nos debates foi reafirmado que o FSM não é um evento, mas um processo político que, como processo, cumpre um papel de ator global. Que o FSM segue sendo um espaço autogestionado, amplo, plural e radicalmente democrático, comprometido com a construção de um outro mundo possível.
Para isso, as organizações presentes na Reunião do CI-FSM em Porto Alegre comprometeram-se com a articulação e mobilização rumo a realização de um grande Fórum Social Mundial a ser realizado no México, tendo como data indicativa de 26 a 30 de janeiro de 2021. Para que isso ocorra, assumiram a tarefa de realizar encontros regionais em todos os continentes com os principais movimentos e as principais mobilizações que estão ocorrendo, de envolverem-se nos processos dos Fóruns Sociais Temáticos e Regionais que estão sendo organizados, em especial, o Fórum Social Panamazônico, o Fórum Social Mundial das Economias de Transformação, o Fórum Social Mundial de Saúde e Seguridade Social e o Fórum Social das Migrações.
Este processo deverá culminar com uma Reunião do CI-FSM Ampliada entre abril e junho de 2020 na Cidade do México ou em Barcelona, onde será realizada a Convocação Global para o FSM2021. Para dinamizar estes processos foram constituídos três grupos de facilitação, um para articulação e mobilização, outro para comunicação e um terceiro para finanças que já saíram com agendas de reuniões e de trabalhos a serem realizadas nos próximos dias.
Por tudo isso, acreditamos que o Fórum Social das Resistências 2020 foi um grande sucesso, porque reafirmou o FSM como anticapitalista, antifascista, antirracista, anti-patriarcal e anti-homofóbico, tendo contribuído para o fortalecimento das alianças entre nossos movimentos e organizações, articulando agendas comuns e as lutas de resistências em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, bem como, contribuiu para rearticular os processos internacionais do Fórum Social Mundial.
Neste momento da humanidade, em que o capital internacional banaliza a vida no planeta aprofundando as desigualdades e a crise ambiental e onde grupos de extrema-direita tentam impor uma sociedade da violência e do terror, a realização de um Fórum Social em Porto Alegre demonstra que a cidade segue sendo um espaço de articulação, lutas e resistências capaz de apresentar e construir alternativas de convergências dos movimentos sociais como saída para alterar a correlação de forças em prol de um outro mundo possível, urgente e necessário.
(*) Advogado socioambiental, membro da Diretoria Executiva da Abong e do Conselho Internacional do FSM.
Edição: Sul21