Prefeito de Porto Alegre quer reduzir tarifa de ônibus taxando trabalhadores
Tudo começou com a intenção do prefeito Nelson Marchezan (PSDB) em acabar com os 3.600 cobradores de ônibus de Porto Alegre. O negócio não avançou na Câmara e ele retirou o projeto pra não perder.
Nas contas das empresas, se pudessem demitir os cobradores, a passagem “subiria” 5 centavos a menos. Sim, subiria de qualquer jeito. E muito. Os empresários estão pedindo aumento de 10%, ou seja, R$ 0,47, o que manteria a passagem mais cara do Brasil… a passagem mais cara do Brasil. Mesmo demitindo 3.600 cobradores e cobrando 5 centavos a menos. Entendeu?
Aí, de repente surge uma “proposta milagrosa” vinda do Paço Municipal. De passagem mais cara do Brasil, passaríamos a passagem de custo zero e as empresas, que hoje têm obrigação de fornecer o vale-transporte para seus funcionários, passariam a não mais fornecê-lo.
Qual é a treta? Quem passa a pagar por isto?
Aí é que vem a sacanagem. No projeto encaminhado para a Câmara, Marchezan mantém a demissão dos 3.600 cobradores.
Os motoristas de aplicativos passam a pagar R$ 0,28 por quilômetro rodado de cada corrida. E não pensem que é a empresa dona do aplicativo que vai ser taxada. Não. É o motorista, que já é superexplorado, sem direito trabalhista nenhum e com jornadas de trabalho extenuantes, embora ele se ache “empreendedor”.
Todos os trabalhadores de classe média que moram na Região Metropolitana, têm carro e trabalham em Porto Alegre passariam a pagar um “pedágio” de R$ 4,70 para vir trabalhar. São milhares.
E por fim, a solução definitiva para fechar a “tarifa zero” do Marchezan: mantém a demissão dos 3.600 cobradores de Ônibus.
O milagre estaria feito… para os empresários dos ônibus e empresários em geral. Passariam a não pagar mais nada, enquanto os trabalhadores dos aplicativos de transporte, os trabalhadores assalariados ou autônomos de classe média e os cobradores com seus empregos, pagariam a conta.
Os motoristas de aplicativo nem teriam como repassar o valor, pois a empresa (que não paga nenhum imposto e nenhum direito trabalhista) não permitiria.
Trabalhadores “prestadores de serviço”, que se acham empreendedores, até poderiam passar o custo pro tomador do serviço. Já os que têm carro, carteira assinada ou são servidores públicos da Região Metropolitana, e que recebem salários parcelados do Eduardo Leite, buenas, estes terão que arcar com o custo do “pedágio” diário, já que o projeto acaba também com o vale-transporte, pois a tarifa seria “zero”.
Tem que desenhar? Quem trabalha paga e quem não trabalha se beneficia. E tem gente que se diz progressista caindo nesta esparrela.
Este é o tal “neoliberalismo” do Guedes, do Bolsonaro, do Eduardo Leite e do Marchezan. Os empresários pagam cada vez menos e os trabalhadores têm cada vez mais custos e, portanto, têm que trabalhar cada vez mais.
Edição: Marcelo Ferreira