Reafirmemos a luta e partilhemos o pão! na diversidade se faz comunhão!
Estigmersão e polinização foram dois ‘palavrões’ usados na análise de conjuntura da Ampliada Nacional da Pastoral de Juventude, acontecida entre o dia 7 e o dia 12 de janeiro de 2020, na cidade de Erechim (RS), com minha presença em nome da Coordenação nacional do Movimento Fé e Política.
A pergunta: “Vocês têm algo para comer?” (Jo 21, 5). A resposta, com o lema da Ampliada: “Te aprochega. Reafirmemos a luta e partilhemos o pão! na diversidade se faz comunhão!
Te aprochega é um termo gaúcho que significa chegar/estar junto, aproximar-se, abraçar-se, ‘ninguém soltar a mão de ninguém’, companheiras e companheiros, irmãs e irmãos de fé e caminhada.
Nos tempos históricos da Igreja Católica, o Papa João, anos 1960, Concílio Vaticano II, inaugurou um tempo de ‘abrir a janela’: respirar novos ares, dialogar com o mundo. Já com os papas João Paulo II e Bento XVI, os tempos foram de ‘porteiro’: portas fechadas, olhar para dentro, o porteiro protegendo a casa, cuidando de quem entra, ou impedindo de entrar, e quem sai. Já com o Papa Francisco, os tempos são de ‘pôr o fusquinha do Mujica na estrada’, ou o fusquinha do Chiquinho: abrir as janelas, retirar o porteiro da entrada, propor a Ecologia integral, a Economia de Francisco, o santo, e um Pacto Global pela Educação.
Os anos 2020 são, pois, de estigmersão: estigmergir, isto é, mergulhar fundo, ‘entrar de cabeça’. E de polinização, ou seja, semear, dar vida, para que os frutos, mais cedo ou mais tarde, floresçam em plenitude. Tempos e tarefas de todas e todos, mas, em especial, missão da juventude, das juventudes.
Muita gente não tem o que comer e precisa de cuidados. Na luta, reafirmada sem medo, com coragem, partilha-se o pão. E partilhando o pão, todas e todos juntos, iguais, diferentes, todas as cores, todas as raças, todas as etnias, todos os sexos, todos os credos se encontram e fazem comunhão.
A Pastoral de Juventude, representadas todas as Regionais de todo Brasil, encontrou-se para fazer a reflexão sobre os tempos que correm. Ver os assassinatos em série, especialmente de jovens negros e negras, ver as políticas públicas voltadas para as juventudes sendo destruídas, ver também as resistências em todos os cantos, esquinas e ruas. Julgar, entender, analisar as razões e os porquês de governos autoritários, que não defendem a democracia, que não entendem a vida que está na juventude, e enxergar a Boa Nova que está em muitos lugares, sendo anunciada e vivida, como se viu e ouviu esta semana no Fórum Social das Resistências em Porto Alegre e Região Metropolitana, Rio Grande do Sul. Agir, em tempos de esperançar, em que a fé precisa ser anunciada, agir para que não aconteçam mais mortes e chacinas, agir para que a vida e a manhã, sob a liderança dos jovens, possam acontecer com igualdade, paz, solidariedade, justiça, fraternidade e amor.
O belo hino da Ampliada, ‘Na diversidade se faz comunhão’, resume tudo, na letra e melodia de Andra Domingos: “Somos chamados para o Bem Viver ampliar,/ pois no Reino de Deus todos temos lugar./ Confirmados no amor, vivamos fraternidade,/ irmanados por Cristo na diversidade,/ como os membros do corpo que diferentes são um,/ no plural nós buscamos o sonho em comum./ ‘O que tens pra comer?’,/ vem Jesus perguntar,/ atento à fome do povo de pão, vez, lugar./ A ganância e o ódio cegam nosso olhar./ Neste tempo de extremos, desafio é amar!/ Mirando o Cristo Jesus, que ousou na lição:/ olhou com misericórdia, partilhou o pão!/ Reafirmemos a luta pela vida das companheiras,/ gerar sonho e igualdade é nossa bandeira!/ Contra os ciclos da morte e a chaga da intolerância,/não calemos a voz pela vida em abundância!/ Dá-nos tua coragem, Maria de Nazaré!/ Que as mulheres da luta permaneçam de pé!/ É hora de esperançar e viver a missão./ Ser Igreja em saída. Fazer mundo de irmãos./ Conservar o amor, resistir no lutar,/ sejam os horizontes de quem quer mudar./ Juventude PJteira, povo santo persistente,/venham mudar a história com o Cristo vivente!”
Foram dias de mística e celebração. Foram dias de reafirmar a Pastoral da Juventude do Brasil, na luta por igualdade e resistência contra a intolerância, comprometida com uma nova sociedade, com mulheres e homens novos que lutam por e sonham com um reino de justiça, paz, solidariedade, a civilização do amor.
Se aprochegando, um outro mundo é possível. Se aprochegando, a vida de todos os seres vivos acontece. Se aprochegando e colocando o fusquinha na estrada, com coragem, mãos dando-se as mãos, tempos novos se tornarão presentes e a comunhão de todas e todos na partilha do pão, da palavra e da paz será cultivada e estará viva.
Edição: Marcelo Ferreira