Rio Grande do Sul

PORTO ALEGRE

Congresso do Povo de Porto Alegre terá assembleias populares de janeiro a junho

Espaço aberto de construção coletiva e dialogada também terá conferências temáticas par debater com população da cidade

Sul 21 |
Ato de lançamento da Carta de Princípios do Congresso do Povo ocorreu no Sindicato dos Municipários
Ato de lançamento da Carta de Princípios do Congresso do Povo ocorreu no Sindicato dos Municipários - Foto: Giulia Cassol/Sul21

Representantes de partidos, entidades sindicais, movimentos sociais e coletivos culturais aprovaram nesta sexta-feira (24) a Carta de Princípios do Congresso do Povo de Porto Alegre, em um ato realizado no auditório do Sindicato dos Municipários (Simpa), dentro da programação do Fórum Social das Resistências. O Congresso do Povo de Porto Alegre se apresenta como “um espaço aberto de construção coletiva e dialogada, composto por pessoas e organizações” para debater propostas, junto com a população da cidade, que orientem um programa capaz de derrotar “as políticas de morte executadas pelo governo Bolsonaro e seus representantes locais, como é o caso de Nelson Marchezan Júnior (PSDB).

O Congresso se reunirá em uma série de encontros temáticos entre janeiro e junho de 2020, na capital gaúcha. Ao longo dos próximos meses serão realizadas assembleias populares, conferências livres (que poderão ser organizadas inclusive de modo autogestionário), conferências temáticas (março-maio) e uma grande sessão plenária do Congresso do Povo, no mês de junho.

Francisco Marshall: “Reivindicações de partidos são legítimas, mas menores do que a exigência da unidade”. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

Segundo a Carta de Princípios aprovada na manhã esta sexta-feira, a adesão ao Congresso do Povo implica também um “compromisso com a construção da unidade política da esquerda no processo eleitoral de 2020, seja para o primeiro ou para o segundo turno”. O documento detalha o significado da expressão “unidade política da esquerda” a partir das seguintes condições: i) cumplicidade tática, ii) respeito pelas posições alheias; iii) solidariedade ativa nos espaços de disputa contra a direita bolsonarista, amiga ou conivente com o bolsonarismo. Os desafios colocados para a construção desta unidade foram um dos principais pontos do encontro realizado nos marcos da programação do Fórum Social das Resistências.

Professor do Departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Coletivo Prosperarte, Francisco Marshall, destacou que há um verdadeiro clamor em Porto Alegre em torno da necessidade de construção de uma frente de esquerda. Para ele, a importância da formação dessa frente não está ligada tanto a uma estratégia eleitoral, mas sim ao fato de ela ser um símbolo de resistência para enfrentar o fascismo e as diversas formas de violações de direito que se espalharam pelo país. “Ninguém aqui é ingênuo para desconhecer as diferenças e divergências existentes entre as forças políticas de esquerda, em especial entre o PT e o PSOL, e tampouco negamos a legitimidade das aspirações de cada partido. Essas reivindicações são legítimas, mas menores do que a exigência da unidade”.

Marianna Rodrigues, do PCB, defendeu necessidade de construção de um programa radicalizado em Porto Alegre. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

Marianna Rodrigues, militante do Partido Comunista Brasileiro, defendeu que o debate colocado pela atual conjuntura política, perpassa o tema da unidade no campo da esquerda, mas vai muito além. “Mais do que somar letras de siglas de partidos a essa frente e debater quem será o vice, é preciso discutir e construir um programa para Porto Alegre”. A representante do PCB defendeu a necessidade de elaboração de um programa radicalizado para enfrentar o processo de desmonte e violação de direitos ao qual a população da cidade vem sendo submetida nos últimos anos, de forma progressiva.

Vice-presidenta do PCdoB no Rio Grande do Sul, Abigail Pereira afirmou que o principal objetivo do Congresso do Povo é constituir um espaço de mediação, de pactuação e de construção de propostas para enfrentar a “avalanche de retirada de direitos e construir uma cidade livre do fascismo”. Todos os nossos partidos, acrescentou Abigail, querem o campo de esquerda unido.

Abigail Pereira: “Todos os nossos partidos querem o campo de esquerda unido”. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

“É legítimo que partidos como o PDT queiram ter candidatura própria. Mas sabemos que, se a Juliana (Brizola) estiver no segundo turno, nós estaremos com ela, assim como ela estará conosco se nós estivermos no segundo turno. O que não pode ocorrer é que o nosso campo não vá para o segundo turno. Temos todas as condições de tornar Porto Alegre um polo avançado de resistência ao fascismo”.

O ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont (PT), lembrou as razões que levaram a capital gaúcha a sediar o Fórum Social Mundial. “Essa luta internacional de resistência nasceu para se contrapor ao centro de formulação de pensamento da burguesia mundial, reunido em Davos. E o Fórum veio para Porto Alegre por causa da decisão que tomamos de incentivar a soberania popular, fazendo com que a população passasse a decidir os rumos da cidade”.

Raul Pont: “a pior coisa que pode acontecer é gerarmos uma frustração nas pessoas que acreditam na gente”. (Foto: Giulia Cassol/Sul21)

Ao falar sobre os desafios colocados para a constituição de uma frente de partidos de esquerda visando a eleição municipal de 2020, Raul Pont disse que “a pior coisa que pode acontecer é gerarmos uma frustração nas pessoas que acreditam na gente”. Para que isso não ocorra, concluiu, é preciso que os partidos sentem juntos em torno de uma mesa para debater um programa para a cidade. Até agora, PT, PCdoB e PSOL não tiveram nenhuma reunião formal para debater esse tema.

 

Edição: Sul 21