Os murmúrios entre os pequenos agricultores do Rio Grande do Sul que vivem da produção do tabaco estão se transformando em forte clamor. É que a estiagem que vem desde novembro e entrou janeiro adentro no RS está afetando a produtividade desta cultura, provocando prejuízos que vão de 20% a 40%. Não bastasse isto, a indústria do tabaco estava pagando preços muito baixos para os produtores, o que vem sendo corrigido aos poucos nas últimas semanas.
"Mesmo com a pequena melhora nos preços, não vai dar para pagar as contas", afirma Gilberto Wink, liderança do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) do município de Vera Cruz. "A produção na região do Vale do Rio Pardo está em 8 arrobas por 1.000 pés, quando uma produção normal é acima de 12 arrobas por 1.000 pés plantados", afirma Gilberto Winck, que está acompanhando a “crise do fumo” pelo MPA.
Adilson Schuu, dirigente do movimento no município de Canguçu, afirma que o prejuízo da produção plantada no cedo já é irreversível e atinge mais de 30% em todas as culturas, com maior impacto para a produção de fumo. Segundo ele, os agricultores comentam a necessidade de um Crédito Emergência para a Manutenção Familiar por parte do Governo Federal e um aumento em 30% no preço do fumo, já que o dólar está alto e 90% do tabaco é exportado, de forma que as empresas podem repassar aos agricultores seus ganhos com a alta do dólar.
Os dirigentes do MPA das regiões fumageiras acompanham de perto a situação e percebem que muitas famílias terão problemas com a sustentação alimentar, pois as culturas de subsistência também estão sendo afetadas pela seca.
"Vamos debater a anistia e prorrogação das dívidas dos agricultores e um cartão alimentação por parte do Governo Estadual para evitar que a fome ronde os lares de muitas famílias", afirma Winck. "As empresas fumageiras precisam assumir sua responsabilidade social com os produtores de fumo, pois com dólar alto estão ganhando bem", completa o dirigente camponês.
Os próximos dias são de expectativa aguardando as condições climáticas para avaliar com mais precisão a extensão dos prejuízos e o que os agricultores vão fazer para cobrar das autoridades e das empresas soluções para a gravidade da situação.
Edição: Marcelo Ferreira