Entre as variadas capacidades de produzir aberrações, Jair Bolsonaro vem fazendo sucessivos ataques não só aos repórteres que cobrem o presidente e os atos governamentais. Seu alvo maior é a instituição Jornalismo e, paralelamente, a Ciência.
São ataques frontais às duas formas de produção de conhecimento que o bolsonarismo quer “dispensar”.
Quando desqualifica a Folha de São Paulo e agride as Organizações Globo, duas empresas afinadas com a direita e o liberalismo, Bolsonaro quer colocar na vala comum o Jornalismo.
Há uma orientação planejada dentro do governo para que algumas figuras, lideradas pelo presidente, façam ataques diretos aos repórteres com o claro objetivo de desqualificar a profissão de jornalista e os conteúdos veiculados nos meios de comunicação.
Nem Miriam Leitão, uma legítima representante da direita sofisticada, cogitou na pior das hipóteses ser vítima de algo tão grotesco como a última agressão de Bolsonaro aos jornalistas: “raça em extinção”.
O objetivo é claro: desqualificar os relatos jornalísticos e trocá-los pela crença ou fakenews. Soma a isso a negação da Ciência. Combinadas, essas duas violências germinam uma legião de fanáticos que só enxergam e entendem o que querem ver e “saber”, independente da verdade ou das provas concretas.
Bolsonaro é o representante máximo do obscurantismo que dispensa o Jornalismo como forma de mediação social. Ele vai direto ao seu público, sem intermediários, fala o que quer, sem filtros, e mente o quanto pode.
Não basta mentir. Tem de desqualificar o Jornalismo e a Ciência.
O bolsonarismo elegeu, entre seus inimigos, o Jornalismo como forma de conhecimento da realidade. Por outro lado, ataca a Universidade e tudo que a institucionalidade acadêmica representa: ensino, pesquisa, extensão, criatividade e pensamento crítico.
Onde não há instituições, brota a barbárie. O ataque ao Jornalismo visa destruir um dos pilares da democracia.
Não por acaso o espírito lavajateiro cresceu junto com a onda bolsonarista embalada na mentira.
Os movimentos de contornos fascistas repetem uma tragédia anunciada. A ciência, a política e a estética livre são inimigos primordiais dos intolerantes, avessos à verdade e ao encantamento.
O espelho deles quebra quando encaram os fatos concretos da realidade.
Assim, fizeram campanha disseminando fakenews. É uma forma de piorar as coisas. Se outrora manipulavam os fatos para distorcer os enredos, agora retrocedem ao nível da mentira deslavada.
A onda obscurantista é desumana. Os propagandistas de fakenews, do terraplanismo e de outras aberrações como a ineficiência da vacina são capazes de negar até a própria existência, embora haja testemunhas oculares do parto e o registro do nascimento em cartório. Contra Descartes, diriam: “minto; logo, não existo”.
Os movimentos de inspiração fascista são um terreno infértil, onde só brota o ódio e a intolerância. A verdade é uma ofensa. Eles não conseguem sequer lidar com um princípio básico do Iluminismo aplicado ao Jornalismo – a transparência, uma conquista da Modernidade no curso das revoluções burguesas.
*Doutor em Comunicação (PUCRS), graduado em Jornalismo e mestre em Educação, ambos pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária no Maranhão (Abraço-MA).
Edição: Marcos Corbari