2020 será um ano de travessia, tudo indica, sendo otimista.
É muito difícil fazer qualquer previsão sobre 2020 a esta altura do campeonato. Dizer isso em dez de janeiro já fala, por si só, da complexidade da atual conjuntura e momento histórico. Quem sabe o que vai acontecer com o mundo em 2020? Guerra mundial? E com o Brasil, com o atual governo federal e tudo mais? O que vai acontecer nas eleições municipais de outubro, se é que elas vão acontecer, e em que condições, com qual resultado? Quem há de saber?
2020 será um ano de travessia, tudo indica, sendo otimista. Travessia turbulenta, onde não se sabe quem vai chegar do outro lado do rio. Tampouco sabe-se como vai ser a travessia, de que forma vai-se, ou não, atravessar o rio. 2020 promete ser pior que 2019, ‘o pior ano de nossas vidas’.
Primeira ameaça concreta: uma guerra mundial aberta, junto com uma crise econômico-social-ambiental ainda mais profunda do que a já existente, mundial e brasileira. Os temas da paz e da soberania, cada dia mais, tornar-se-ão prioridade. Assim como o enfrentamento da fome, da miséria e do desemprego, nacional e internacionalmente.
Segunda ameaça concreta: a irracionalidade parece tomar conta de tudo e de todos. Trump, Bolsonaro e Cia. são hoje a ponta de lança desta ameaça. Não acreditam na democracia e, portanto, não acreditam no diálogo e no reconhecimento do outro como diferente. O outro sempre é inimigo a ser combatido e abatido. Os valores da tolerância, da solidariedade, da convivência parecem terem sido solenemente esquecidos, senão sepultados.
Terceira ameaça concreta: a morte da boa política, substituída, ou pelo ódio, pela intolerância, ou por um vazio de propostas e de futuro. A política não é mais a busca do bem comum da ‘pólis’, ou o exercício da caridade, nas sábias palavras do Papa Francisco. E/ou a política é conduzida exclusivamente pelos interesses pessoais e pela corrupção.
Quarta ameaça concreta: A desigualdade econômica e social aumenta rapidamente no mundo e também no Brasil. Aumenta em ritmo tão forte, e assusta tanto alguns, que até o trilionário Bill Gates vem dizendo que os ricos têm que pagar mais impostos que os pobres.
Quinta ameaça concreta: a crescente uberização geral da sociedade, com perda de direitos, e, como resultado imediato, pauperização em crescimento e suicídios em crescimento. Quem trabalha não sabe como será o dia de amanhã.
Sexta ameaça concreta: o ultraneoliberalismo sem alma e sem coração vem ganhando mentes e espaço. O Estado é apenas para os ricos, o resto é com o Senhor Mercado, sem freios e sem limites. Os pobres são apenas um detalhe, pois é gente que não sabe trabalhar e não quer ou não sabe ‘subir na vida’.
Alguma esperança no horizonte?
O Papa Francisco chamou para março um Encontro com jovens economistas do mundo, com presença de 73 brasileiras e brasileiros, com o título A ECONOMIA DE FRANCISCO, em Assis, Itália. No caso, Francisco é São Francisco de Assis. Vai discutir uma proposta de economia que não produza descartados e que pense na ecologia integral e no cuidado com a Casa Comum.
Em maio, em Roma, haverá outro encontro chamado pelo Papa Francisco, para discutir um Pacto Global pela Educação. E na sua convocação o Papa fala na construção do ‘humanismo solidário’, mais que urgente e necessário.
As mulheres e a juventude, em especial, são esperança. Têm se levantado no Brasil e no mundo, com o ‘ninguém solta a mão de ninguém’, com lutas, mobilizações na rua, na coragem de que é preciso resistir.
2020 será um ano de travessia, que será longa, cinco a dez anos no mínimo, se não bem mais. Não é uma questão de pessimismo, mas de leitura e compreensão abrangente da realidade e da conjuntura.
Em 2020, é fundamental e decisiva a unidade das forças populares, democráticas e de esquerda, não só nas eleições municipais, mas principalmente nas ruas, nas escolas, nas Universidades, nas comunidades, em todos os lugares. Sem unidade do campo popular, a travessia não acontecerá com um mínimo de segurança e garantia de sobrevivência pessoal e coletiva.
Da mesma forma, pensar um novo tipo de sociedade, pensar o futuro, como propõe o Papa Francisco, colocando no centro a ecologia integral, uma nova economia e a educação como pacto global, é decisivo nesta quadra histórica. As mulheres e os homens de boa vontade, aquelas e aqueles que não se movem pelo ódio no coração, mas sim pelo amor, pela justiça e solidariedade estão convocadas e convocados a fazer juntos, de mãos dadas, a travessia de 2020.
Edição: Katia Marko