"Propostas para reduzir a violência
383) Redução da maioridade penal
(...)
385) Não permitir que pessoas sem condições financeiras adequadas tenham vários filhos que acabam virando marginais, visto que não têm como sobreviver."
No dia 8 de janeiro de 2020, ao menos dois jornais do Grupo Editorial Sinos (NH e VS) publicaram os trechos acima numa coluna chamada "1 Segundo contra a Violência - campanha com apoio do Grupo Sinos". A tal campanha foi lançada em maio de 2019.
No dia 18 de setembro de 2019, no auditório do Tribunal de Contas do Estado do RS, donos e diretores de veículos de comunicação ligados à Associação Gaúcha de Rádio e Televisão (AGERT) apresentaram e lançaram "o desafio para a comunidade", como informa reportagem do VS e do NH publicada online em 19 de setembro de 2019. Na matéria, descobrimos que a ideia surgiu por sugestão do presidente do Conselho de Acionistas do Grupo Sinos, Mario Gusmão, "congregrando de forma inédita as empresas de comunicação gaúchas em torno de uma causa única".
Primeiro, não é verdade que seja a primeira vez que as empresas de comunicação gaúchas, especialmente as maiores delas, se "congregam" em torno de uma causa única, haja vista o recente Golpe de Estado de 2016 e o discurso único ultraliberal que as alinha na defesa da "livre iniciativa" e na campanha contínua pela redução do tamanho do Estado.
O grave neste caso específico é a percepção de um movimento ultraconservador, com laivos fascistas, com pautas nazifascistas e com a chancela de um grupo editorial que, confortavelmente, raramente manifesta a opinião da família-proprietária em editoriais. Os jornais do Grupo Sinos aboliram a opinião editorial da empresa e, para dar impressão de "pluralidade", publicam diariamente breves artigos de diferentes colaboradores ou cidadãos numa editoria chamada "Opinião".
Pode-se argumentar que o Grupo Sinos apenas está reproduzindo, ao estilo de quem publica uma ata, todas as propostas insanas enviadas por "cidadãos de bem" para "reduzir a violência". No entanto, quando no cabeçalho lê-se "Apoio do Grupo Sinos", é legítimo questionarmos o quanto a empresa e a família-proprietária são também favoráveis à eugenia - que, no fundo é do que se trata o item 385.
*jornalista profissional
Edição: Katia Marko