As candidaturas coletivas têm sido pautadas recorrentemente nos últimos dias em Porto Alegre, a exemplo do intenso Seminário realizado ontem pelo Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito que pude participar como palestrante e que lotou o Clube de Cultura. Em um cenário de intenso conflito entre as esquerdas por dificuldade de unificação e de diálogo dos partidos mais representativos, as candidaturas coletivas têm sido pautadas pelas juventudes do PCdoB e do PSOL na capital como uma alternativa para superar tal dificuldade.
O pioneirismo de candidaturas desse tipo acontece desde 2016 em Alto Paraíso em Goiás (PODEMOS) com a eleição de vereadores e covereadores em um mesmo mandato. Recentemente, a Bancada Ativista em São Paulo e o Juntas em Pernambuco, ambos do PSOL, demonstram que uma política eleitoral parlamentar com contornos que ampliam o sentido da representatividade e da participação nas comunidades pode impactar no aumento de demandas e de qualidade dos projetos públicos e ampliar a legitimidade da participação na política.
Os nomes e as práticas mudam com a mudança dos sentidos atribuídos a elas. E se debatidos e compartilhados amplamente com a sociedade, podem tornar candente e vigoroso o encontro com os anseios das juventudes, do movimento de mulheres, negro e LGBT. E essa é a liga necessária para a aliança dos corpos em uma Porto Alegre do bem viver, do Fórum Social Mundial, do Orçamento Participativo e das recentes lutas contra o Escola Sem Partido e contra a censura protagonizada pela Mães e Pais pela Democracia.
O desafio será construir uma candidatura pluripartidária para a Câmara de Vereadores que induza a unificação do campo progressista na eleição majoritária e que estabeleça novas balizas em acordo com os partidos. Com isso, creio, será possível difundir um novo modelo de eleições proporcionais para o Brasil – que mais do que reunir pessoas de um mesmo partido para lançar uma candidatura de vários por uma mesma causa, o que tem acontecido no país, o ideal seria que diversos partidos de esquerda ou centro pudessem compor uma agenda de candidatura ao legislativo para barrar o cenário de insegurança em relação retrocesso dos direitos e do gap existente entre o público-alvo das políticas públicas e os formuladores e tomadores de decisão.
É necessário que a esquerda consiga superar a resistência à inovação e vá ao encontro dos novíssimos movimentos sociais que tem pleitos de representatividade em outros moldes para os invisibilizados da política, como sugere Boaventura de Sousa Santos, nobilíssimo sociólogo português, e também para aqueles que não estão organizados na política partidária. Todavia, o caminho não passa pelas candidaturas avulsas, em debate no STF, pois os partidos são fundamentais na nossa democracia e constituição liberal.
O medo do coletivo e da ousadia das juventudes e dos que têm fome de pertencer não pode impedir o fortalecimento da nossa democracia equilibrista que se não for resolvido pode nos tirar do segundo turno das eleições à Prefeitura de Porto Alegre em 2020. Mais do que nomes precisamos de uma Agenda eleitoral unificada para a segurança dos direitos de todos e todas por uma cidade que seja refúgio e liberdade.
* Aline Kerber é socióloga, diretora executiva do Instituto Fidedigna e presidenta da Associação Mães e Pais pela Democracia.
Edição: Marcelo Ferreira