Rio Grande do Sul

FUNCIONALISMO GAÚCHO

Greve de funcionários e professores do RS reúne multidão na Praça da Matriz

Na terceira semana de paralisação, trabalhadores estaduais reforçam luta contra pacote que corta direitos

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Assembleia geral unificada dos funcionários e professores definiu manter a greve
Assembleia geral unificada dos funcionários e professores definiu manter a greve - Fotos: Iury Casartelli

O 15º dia de greve unificada dos servidores e servidoras públicos do estado do Rio Grande do Sul, da base do SINDSEPERS, SINDICAIXA, SINTERGS, AFAGRO e ASSAGRA, foi marcado pela realização de uma assembleia das categorias, juntamente com os professores e professoras do CPERS Sindicato, que estão paralisados desde o dia 14 de novembro. Uma multidão de pessoas ocupou na manhã desta terça-feira (10) a praça da Matriz, no Centro de Porto Alegre.

Os organizadores calcularam que mais de 20 mil pessoas estavam na assembleia, ocorrida sob uma temperatura alta e sol forte. Centenas de ônibus de várias cidades do interior, algumas a mais de 600 quilômetros de distância de Porto Alegre, engrossaram o movimento. Após a assembleia dos sindicatos que estão em greve, foi realizado um ato e caminhada até a sede da secretaria da Fazenda.

A greve reivindica a retirada do pacote de reforma administrativa, batizado pelos trabalhadores de "pacote da morte", da Assembleia, que tramita em regime de urgência, e a regularização dos salários, que vêm sendo pagos em atraso e parcelados há 48 meses. Também pede reposição salarial para funcionários e professores, sem reajuste há cinco anos.

Manifestantes fizeram caminhada até a sede da Secretaria da Fazenda

Devido ao regime de urgência, a votação na Assembleia deve ocorrer já na semana que vem – se o pacote não for retirado. “Estamos assistindo a umas das greves mais valorosas da nossa história, sem possibilidade nenhuma de recuo. Se o governador acha que vamos recuar pela ameaça do corte de ponto de um salário que sequer é pago, saiba ele que está acendendo um barril de pólvora”, disse o diretor de Política Salarial do Sintergs, Antônio Augusto Rosa Medeiros.

Os dados das entidades representativas dos grevistas não deixam dúvida de que o movimento continua forte. Cerca de 90% dos (as)servidores (as) da secretaria da agricultura e 60% dos (as) servidores (as) da secretária da saúde do Estado estão em greve. Nas secretarias do Planejamento, Obras, Cultura e Turismo a adesão também é muito grande.

“Categorias que historicamente nunca fizeram greve estão aderindo. Até no Planejamento, nas barbas da secretária Leany [Lemos, secretária do Planejamento], que é a mãe desse pacote, os servidores estão parados. A nossa unidade vai garantir a derrubada desse pacote”, afirmou Diva Costa, presidente do Sindsepe.

O presidente do Sindicaixa, Erico Correa, conclamou os grevistas a manterem a mobilização. “Na semana que vem esta praça vai se transformar no quartel general de funcionários e professores porque vai ter guerra contra esse pacote”, discursou.


Trabalhadores preparam nova mobilização na semana que vem, quando o pacote pode ir a votação

O principal alvo da manifestação foi o governador Eduardo Leite (PSDB). Chamado de “mentiroso” e “caloteiro”, o governador cumpriu agenda em Brasília e não viu o ato. “Estamos diante desse mar de gente graças à incompetência deste governo, que mentiu descaradamente durante a campanha sobre a situação dos serviços públicos no Estado. Ele não passa de um menino mimado que se esconde atrás da saia da mãe quando a coisa aperta”, discursou a presidente do CPERS Sindicato, Helenir Schürer.

O pacote, entre outras aberrações, taxa os salários mais baixos de aposentados com desconto de alíquota previdenciária, retira direitos históricos conquistados pelas categorias, congelando seus salários por vários anos.

O ato também teve uma performance artística, que representou os danos do pacote na sociedade gaúcha e nas famílias dos servidores, e uma caminhada. Durante o trajeto, a multidão cantou palavras de ordem contra o governador e pedindo a retirado do pacote da assembleia.

Na secretaria da Fazenda, os manifestantes foram recebidos por um forte aparato de segurança que envolveu soldados do batalhão de choque com armas e bombas de efeito moral. Os acessos ao prédio foram bloqueados. A manifestação terminou por volta do meio-dia.

Nesta quarta-feira (11), os servidores em greve farão a “Marcha dos Servidores Públicos Contra o Pacote da Morte e em Defesa da Saúde Pública”, a partir das 8h30, com concentração do Hospital Sanatório Partenon e no Hospital Psiquiátrico São Pedro, na zona leste da capital. A marcha irá em direção ao Centro Estadual de Vigilância em Saúde na avenida Ipiranga e terminará na Escola de Saúde Pública.

A próxima semana será decisiva e as categorias estão organizadas e mobilizadas para enfrentar a possibilidade de os projetos irem a votação no plenário da Assembleia Legislativa.

Edição: Marcelo Ferreira