A 14ª edição do Dia de Campo em Agroecologia foi realizada nas dependências da Estação Experimental Cascata (EEC) da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, RS. Cerca de 600 participantes, entre camponeses, estudantes e pesquisadores percorreram as cinco estações que apresentaram simultaneamente soluções tecnológicas voltadas à diversificação da agricultura familiar, em especial para aqueles e aquelas que estão dispostos a produzir alimentos saudáveis com base agroecológica. Também foi disponibilizado espaços temáticos para pelo menos duas dezenas de parceiros que tem contribuído com os trabalhos da unidade, entre os quais as cooperativas Cooperfumos e Cooperbio, vinculadas à base do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ), além e guardiões e guardiãs (de sementes crioulas, animais e ervas medicinais).
Sementes Crioulas
Uma das principais bandeiras do MPA - e também de outros movimentos sociais ligados ao campesinato – são as sementes crioulas. Técnicos da Cooperfumos (cooperativa sediada em Santa Cruz do Sul e com forte atuação na diversificação de culturas em áreas antes dedicadas exclusivamente à produção do tabaco) apresentaram em sua banca uma grande variedade de sementes crioulas produzidas a partir da Unidade de Beneficiamento de Sementes Crioulas Jose Gilberto de Oliveira Tuhtenhagem, localizada em Encruzilhada do Sul.
- Procuramos trazer a maior quantia de variedades dentro das espécies e o maior número de espécies possível – explica Josuan Schiavon, engenheiro agrônomo e integrante da direção estadual do MPA – citando como exemplos o milho, o feijão, a soja, o arroz, o centeio, o trigo, o nabo forrageiro e a crotalária, entre outros. “Apresentamos 8 materiais de feijão preto – alguns inclusive com a tecnologia da Embrapa – e 17 materiais de milho, representando o trabalho dos nossos guardiões de sementes e os programas que operamos através da Cooperativa, da UBS e dos espaços de feira onde atuamos”, acrescentou. Josuan destacou ainda que dentro do cenário atual da agricultura é preciso registrar que o interesse nas sementes crioulas vem crescendo cotidianamente e o protagonismo dos camponeses e camponesas em um dia de campo como este promovido na Estação Cascata reforça essa percepção.
Na banca além de grande variedade de sementes, os técnicos presentes compartilharam conhecimentos, distribuíram material informativo, divulgaram projetos e estabeleceram novos canais de contato com interessados em conhecer o método camponês de produzir em harmonia com o meio ambiente, respeitando o ciclo natural da vida, buscando sustentabilidade e evitando a utilização de insumos químicos, venenos agrícolas e sementes geneticamente modificadas.
Insumos agroecológicos
De Seberi, RS, veio uma equipe vinculada à Cooperbio, cooperativa camponesa que fomenta a agroecologia com forte atuação em pesquisas e desenvolvimento de insumos para a produção de alimentos saudáveis. Em destaque no espaço estavam o Pó/Farinha de Rocha (remineralizador) e a linha de insumos BioGea, especialmente desenvolvida para produção agroecológica e/ou orgânica. “O espaço destinado a cooperativa foi incluído na estação demonstrativa de bioinsumos e ali pudemos expor os trabalhos realizados junto à base do MPA que mantém relação com a cooperativa, em especial o que vem sendo feito na prática com os compostos de rocha”, afirmou Marcos Joni de Oliveira, engenheiro agrônomo, também dirigente do MPA, atualmente exercendo a presidência da Cooperbio.
Durante a apresentação do experimento foi demonstrado o remineralizador natural que proporciona um grande volume de minerais ricos em nutrientes necessários para a vida microbiana do solo, atuando a nível biológico, físico e químico, funcionando como uma reserva de nutrientes, fornecendo apenas o volume demandado pelas plantas e dispensando a necessidade de aplicação anual. Oliveira ressaltou que já são muitos os resultados positivos alcançados pelos camponeses assessorados pela Cooperbio. “Aqui no dia de campo temos a oportunidade de dialogar também com outros segmentos e pudemos notar que há interesse e procura muito grande da parte de agricultores, certificados ou não, tanto vinculados quanto externos ao movimento”, destacou.
Partilhando saberes
O Instituo Cultural Padre Josimo esteve presente com livros e outras publicações que resultaram de projetos sociais desenvolvidos junto ao campesinato e também de ações de preservação ambiental levadas a cabo na região da Campanha do RS. Em destaque no espaço de comercialização compartilhado com a Cooperfumos, estavam os livros dos freis Wilson Zanatta (Ervas Medicinais, Tenha uma Farmácia em Casa e O Poder Curativo da Guaçatonga, além da coleção Receitas Caseiras) e Sérgio Görgen (Trincheiras da Resistência Camponesa), bem como os livros voltados a saúde animal do médico veterinário Giovani da Silva (“Cuidando da Saúde dos Animais” e “Manual Prático da Saúde Animal”). Também estavam presentes na banca os primeiros três volumes da coleção Palno Camponês, que está em fase de publicação pelo ICPJ e MPA. Estes e outros títulos podem ser encontrados pelo site www.padrejosimo.com.br/loja .
- Sempre somos muito bem recebidos na Embrapa Clima Temperado, aqui percebemos que há uma interpretação da parte dos pesquisadores a respeito da importância dos saberes tradicionais, do reconhecimento da sabedoria acumulada de geração em geração pelo camponês e pela camponesa no seu cotidiano de lidar com as plantas, com o solo, com os animais, interagindo e aprendendo com a natureza e atuando com responsabilidade e sustentabilidade -, destacou o diretor do ICPJ, Frei Sérgio Görgen. “A pesquisa em muitos momentos vai até nossa base para buscar informações e, depois de construídos os resultados, retorna para compartilhar e democratizar os saberes que são construídos de forma conjunta e coletiva”, concluiu.
Uma grande rede
O 14º Dia de Campo em Agroecologia foi promovido pela Embrapa Clima Temperado com o apoio da Emater/RS, Capa, Senar e Sebrae, contando com atividades sequenciais que abordaram: 1) Sistemas Biodiversos de Produção; 2) Agrobiodiversidade; 3) Insumos e controle biológico; 4) Serviços Ambientais e sociobiodiversidade; 5) Agregação de valor. Para o pesquisador e coordenador-técnico da EEC, Luís Fernando Wolf, “essa atividade faz parte de uma articulação maior, trabalhando em prol da agricultura familiar e desenvolvendo bases científicas e tecnológicas focadas em alternativas para o desenvolvimento e geração de renda na agricultura familiar”, afirmou. O chefe-geral da Embrapa Clima Temperado, Roberto Pedroso de Oliveira, destacou que “a agricultura familiar é muito importante para o Brasil, cada agricultor familiar é importante para a Embrapa Clima Temperado”.
Da parte dos participantes, a percepção sobre o evento foi a melhor possível: “É uma atividade que está consolidada, que mostra a importância do trabalho da agroecologia, valorizando os agricultores que trabalham buscando esse sistema e reconhece mesmo as experiências que estão em fase de transição e também se puderam se fazer presentes”, aponta Josuan Schiavon. A presença das organizações que trabalham com a tecnologia da Embrapa e de alguma forma contribuem com o processo de pesquisa da também mereceu destaque na fala do dirigente do MPA: “Aqui se faz pesquisa e se coloca a tecnologia ao acesso dos agricultores, isso precisa ser destacado”. No mesmo sentido assinalou o presidente da Cooperbio, Marcos Joni de Oliveira: “Mais que um dia de campo, esse é um momento de repasse de tecnologia”, frisando ainda que “fica mais uma vez registrada a nossa participação e a relação de trabalho conjunto que existe a partir da Embrapa Clima Temperado e as entidades e organizações que atuam junto ao campesinato, com a preocupação em produzir alimento saudável e acessível a todos os segmentos sociais”.
Edição: Sérgio Görgen