Mais de cem servidores públicos em greve estiveram, na manhã desta quarta-feira (04), no Hemocentro, em Porto Alegre, para uma doação coletiva de sangue. No entanto apenas 60 grevistas tiveram o material coletado, número máximo de fichas distribuídas pelo órgão. O Hemocentro abastece em torno de 40 hospitais e mais de 100 municípios do estado. Toda bolsa é 100% do Sistema Único de Saúde (SUS), seja ela utilizada na rede pública ou na rede privada. É importante destacar que cada doador beneficia quatro pessoas.
Em greve desde o dia 26 de novembro, 30% dos trabalhadores grevistas garantem o atendimento mínimo na unidade de saúde. Para não prejudicar o estoque, que segundo a Assessoria de Comunicação Social da Secretária de Saúde do Estado está adequado, servidores em greve realizaram doação coletiva. A ação teve como objetivo de sensibilizar a população sobre o sucateamento dos serviços públicos e a retirada de direitos dos trabalhadores. Situação que ficará ainda mais dramática com o pacote da reforma administrativa encaminhado pelo governo Leite à Assembleia Legislativa.
Doadoras há anos, as servidoras da secretária da Agricultura, Maria Lúcia Conti e Márcia Conti, associadas da ASSAGRA e AFAGRO, respectivamente, frisam a importância da doação e a necessidade de que a população entenda o que significa os prejuízos que o pacote trará não só para os servidores como para o serviço público como um todo. “A paralisação não é só pelo salário, mas para a sensibilizar a população o que está acontecendo. A missão do servidor público é de servir a sociedade”, afirma Maria Lúcia.
“Já vínhamos de uma situação em que nos encontrávamos no limite, e esse pacote veio para aprofundar ainda mais”, observa Márcia, servidora há 13 anos, destacando a adesão nunca vista dos servidores, da secretaria de agricultura, em especial no interior com mais de 90% de paralisação.
Para Daiane do Santos Alegrete, da Secretaria do Planejamento, é importante que os servidores estejam mobilizados para impedir que a população fique desatendida. “Ações como essa são relevantes para sensibilizar a população, e também para fortalecer o movimento para que se tenha cada vez mais apoio e se fortaleça”.
“Mesmo estando em greve, e até por causa da greve, que talvez tenha afetado o banco de sangue do hemocentro, resolvemos fazer esse ato em prol da doação de sangue para auxiliar a população, os que precisam de sangue”, afirma Cristine Serva, pesquisadora da Secretaria da Agricultura.
A doação de uma única pessoa pode ajudar quatro. Servidores do hemocentro observam que, se cada pessoa saudável doasse sangue uma vez por ano, não se precisaria fazer campanhas de emergência. A validade de uma bolsa de sangue varia conforme o hemocomponente. Por exemplo, o concentrado de hemácias dura até 35 dias, conforme o anti-coagulante da bolsa, as plaquetas cinco dias, e o plasma pode durar mais porque é congelado.
De acordo com a Secretária de Saúde a média de doações nos hemocentros é de 60.000 ao ano. Mesmo considerando o estoque adequado, frisa a necessidade de mais doações, principalmente dos doadores tipo O positivo e O negativo.
As bolsas de sangue são 100% SUS, informa o comando de greve do hemocentro. “Não existe hemocomponente privado, mesmo que ele seja utilizado na rede privada, o sangue é 100% SUS”. Ainda de acordo com o comando, diante de uma possível privatização, que pode advir do pacote, as pessoas atingidas terão que pagar pelo sangue. “Toda a sociedade será atingida com o pacote”, afirma.
Professores, servidores da secretária de cultura também doaram. A ação também aconteceu nos municípios de Lajeado e Pelotas. Após a doação na capital, os servidores se reuniram na extinta Secretaria de Desenvolvimento Rural Pesca e Cooperativismo (SDR), para um almoço de confraternização e debate, onde fizeram relatos e trocaram experiências.
Atividades da greve
Nesta quinta-feira (05), na parte da manhã os servidores em greve voltaram dialogar com a população durante caminhada, que começou com concentração no Centro Administrativo Fernando Ferrari (CAFF), e foi encerrada no Largo Glênio Peres, no centro histórico da capital gaúcha.
Na parte da tarde os servidores da agricultura promoverão um debate com a psicóloga Cláudia Magnus, para falar sobre saúde mental no trabalho. O encontro será na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, às 14h.
Estudo realizado pela ULBRA, em parceria com o Sintergs, entre julho e setembro de 2018, constatou que seis em cada dez servidores públicos do Rio Grande do Sul estão estressados devido à falta de perspectivas no ambiente de trabalho – especialmente em relação à baixa possibilidade de crescimento na carreira e a práticas nocivas de gestão, como discriminação e favoritismo. Acesse aqui o relatório completo da pesquisa.
Na próxima terça-feira, acontecerá na Praça da Matriz, centro de Porto Alegre, a Assembleia Geral Unificada, às 9h30.
Edição: Marcelo Ferreira