Rio Grande do Sul

REFORMA AGRÁRIA

Futuros agrônomos do MST apresentam trabalhos de conclusão de curso

Qualidade da turma e do ensino é demonstrada pela nota média dos trabalhos: nove

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Os estudantes realizam estudos em grupos
Os estudantes realizam estudos em grupos - Foto: Divulgação/MST

Com o propósito de fomentar uma agricultura que respeita a vida, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Rio Grande do Sul, numa parceria entre o Instituto Educar e a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus de Erechim, forma no próximo ano a sua segunda turma de Bacharel em Agronomia com ênfase em agroecologia. O curso, que tem cinco anos de duração e ocorre em regime de alternância, é viabilizado por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).

A maioria dos 53 estudantes já defendeu o Trabalho de Conclusão de Curso (TCCs), de 28 de novembro a 1º de dezembro, em Pontão, na região Norte, onde ocorrem as aulas. Outros apresentarão à banca avaliadora até o dia 15 de dezembro. Até então, não teve nenhuma reprovação e a nota média dos trabalhos é nove. Todos estarão disponíveis para acesso na biblioteca virtual e física da UFFS.

Conforme Jacir Chies, um dos coordenadores do curso, os trabalhos são de alta qualidade, com mescla entre análises laboratoriais e pesquisas a campo. Segundo ele, isso possibilitou aos educandos aplicarem uma visão científica e identificarem potencialidades nos locais em que realizaram os estudos. “Houve um aprendizado múltiplo, onde educandos, orientadores e avaliadores compartilharam conhecimentos e análises”, declarou.

Os temas escolhidos pelos estudantes para seus TCCs são variados. Dizem respeito à caracterização dos solos dos assentamentos, viabilidade econômica das agroindústrias, análise de produtividade de feijão submetido em diferentes adubações orgânicas, produção de sementes crioulas, sucessão familiar e cooperação nos assentamentos e mercados alternativos no escoamento de produtos agrícolas.

Também tratam de apicultura, manejo de plantas espontâneas, uso de plantas espontâneas como indicador de qualidade, levantamento etnobotânico de espécies bioativas, conservação e uso de água, Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) e manejo de pastagens como potencializador da bovinocultura de corte.

Os trabalhos são avaliados por professores de Agronomia, que atuam no Instituto Educar, UFFS, Universidade Federal de Passo Fundo (UPF), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Centro de Ensino Superior Riograndense (Cesurg), Faculdade Santo Ângelo (Fasa), Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul Riograndense (IFSul). 

Nota máxima

Estudantes de Agronomia em trabalho a campo / Foto: Divulgação

Das pesquisas apresentadas na semana passada, três se destacaram e receberam nota 10. Uma delas é de Vinícius Santos Lima, 24 anos, filho de assentados em Planaltina (DF). Seu estudo é sobre “Plantas Alimentícias não Convencionais (PANCs) e Ritualísticas como estratégia de Soberania e Resistência no coletivo de mulheres 'As do Cerrado'”.

Lima explica que a promoção da soberania alimentar por meio do uso de PANCs e Ritualísticas insere o contexto agrícola e alimentar do Assentamento Oziel Alves III em uma proposta contra-hegemônica: a autonomia do grupo de mulheres “As do Cerrado” de buscar, através de seu conhecimento, nutrientes que nem sempre estão presentes na maioria dos alimentos, bem como uma alimentação libertária, ligada aos eixos culturais e sociais das agricultoras camponesas, de potencial econômico com menos custos e multiplicação do conhecimento com os demais assentados e moradores da região.

“Eu pude ver e reafirmar que, para muito além de uma relação econômica, entre as plantas e as mulheres investigadas nesse trabalho, existe uma relação de amparo e fortalecimento, uma nítida trajetória de coexistência que permite traduzir aspectos culturais e simbólicos e sua interface com o empoderamento, tratamento de doenças como depressão, autonomia e resistência individuais e do coletivo”, relata.

O jovem salienta que enfrentou muitas dificuldades durante o curso, uma delas foi não ter acesso à tecnologia, como o computador, para facilitar os estudos. Agora, com nota máxima no TCC, o futuro agrônomo conta que o sentimento é de dever cumprido. “Sem meus amigos de turma seria impossível chegar até o final. A nossa realidade é muito difícil, porém, é ao mesmo tempo a fonte de saber e reafirmar que eu devo ficar e caminhar junto com o Movimento, a agroecologia”, destaca.

Os outros dois trabalhos nota 10 são: “Caracterização da qualidade do solo em área de produção de leite no Assentamento Vitória da Fronteira – Tacuru (MS)”, de Tiago Dutra Favareto, e “Uso de diferentes fertilizantes na produção de feijão safrinha cultivado no Assentamento Nossa Senhora Aparecida – Pontão (RS)”, de Vitor Bruno Nunes Costa.

Quem é a segunda turma?

Segunda turma do curso de Agronomia, que acontece via Pronera / Foto: Divulgação

A segunda turma de Agronomia ingressou em maio de 2016 e reúne 53 educandos do MST, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento dos Pequenos Produtores (MPA). Eles são de 11 estados – RS, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Tocantins, Espirito Santo, Goiás e Minas Gerais – e do Distrito Federal. Após as bancas de TCC, as próximas etapas rumo à formatura são o estágio e a defesa dos relatórios. A colação de grau será em maio de 2020.

Chies, que também é orientador e avaliador das bancas, diz que também há nos atores envolvidos nessa formação o sentimento de dever cumprido, por estarem disponibilizando à sociedade profissionais críticos, capazes de pensar e ajudar na solução de problemas produtivos, agrícolas e agrários. “Hoje podemos garantir que os nossos assentamentos terão profissionais qualificados que auxiliarão na produção de alimentos de qualidade e no desenvolvimento dos assentamentos”, finaliza

Edição: Página do MST