Rio Grande do Sul

ENTREVISTA

Leandro Demori: “A Lava-Jato é uma máquina de construção de narrativas”

O Brasil de Fato RS conversou com o editor do site jornalístico The Intercept Brasil durante o 4º ENDC

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Para o jornalista, é momento de investir na mídia independente para profissionalizar e tapar buraco deixado pela mídia tradicional
Para o jornalista, é momento de investir na mídia independente para profissionalizar e tapar buraco deixado pela mídia tradicional - Fotos: Divulgação FNDC

O editor do site jornalístico The Intercept Brasil Leandro Demori participou do 4° Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação, realizado no final de outubro, em São Luís, no Maranhão, para falar sobre o papel da imprensa na Operação Lava-Jato. Segundo ele, a imprensa e a Lava-Jato acabaram se tornando em algum momento quase um corpo jurídico nesses quase cinco anos de operação. E destaca uma reportagem no site do Intercept chamada Rede Atlas para entender o que aconteceu no Brasil pós-2013.

Confira entrevista concedida ao Brasil de Fato RS: 

Brasil de Fato RS: O que é essa Rede Atlas? Por que é importante conhecer?

Leandro Demori: Em 2013, quando o Brasil teve as manifestações, grupos de direita e extrema-direita internacionais ligados fortemente ao capital financeiro muito poderoso que estão nessa Rede Atlas, como vocês podem ver nessa reportagem, identificaram que a esquerda latino-americana estava perdendo suas vias, a esquerda que era governo em vários países na América Latina, inclusive o Brasil, e acabou sofrendo a convulsão social que a gente viu no país em 2013.

Esses grupos pegaram os jovens que estavam nas ruas naquela época que não tinham ainda ligações partidárias, políticas, ainda não tinham uma formação ideológica nem uma estratégia de tomada de poder muito clara, e acolheram esses jovens. Por esses jovens você pode pensar MBL, e grupos de Kim Kataguiri, Marcel van Hattem, todas essas pessoas que a gente vê aí hoje em dia. O que aconteceu nesse momento? Esses grupos treinaram essas pessoas para que elas usassem a internet para atacar instituições e pessoas físicas e criar uma estratégia para isso, não foi uma coisa feita por acaso.

E a estratégia foi a seguinte: foram monitorados no Brasil cerca de dois mil nomes de pessoas alinhadas à esquerda latino-americana, progressistas que estavam na cabeça das instituições brasileiras. Por instituições entende-se judiciário, classe política, mas também instituições não formalizadas, por exemplo, classe artística, classe jornalística, academia, que inclui, professores, mas também estudantes, movimentos sociais em geral. Houve esse monitoramento dessas instituições brasileiras e dentro desse monitoramento se chegou a esses mais ou menos dois mil nomes de brasileiros ligados à esquerda brasileira, ou com uma visão mais progressista de sociedade.

Esses grupos pegaram esses jovens e os treinaram para atuar na internet, colonizar a internet, popularizar a internet, e usar como ferramenta muito poderosa contra esses nomes dentro das instituições, e essa ferramenta é o escracho. Para vocês terem uma ideia nessa reportagem da Rede Atlas mostra que até mesmo concurso de vídeos de escracho e de ataques públicos foram feitos, para filtrar, por exemplo, as melhores cabeças que conseguiam ir para essa guerra, esse embate digital contra essas pessoas.

Então, se vocês puxarem pela memória e puxarem nomes que vocês conhecem, vão saber que desde 2013 não se atacou mais a imprensa enquanto instituição. Essas empresas começaram a ser poupadas em algum nível. Se a gente for pegar a relação do poder com a imprensa muitos anos atrás, o poder sempre detestou a imprensa, isso não é novidade, governos detestam imprensa, e se o governo não detesta a imprensa, tem alguma coisa errada no diálogo. Mas os ataques deixaram de ser contra a imprensa, enquanto instituição, e até mesmo contra empresas, começaram a atacar pessoas físicas. E o que o escracho e o ataque na internet a essas pessoas faz em relação à imprensa? Faz com que nossos colegas jornalistas sintam medo, angústia, eventualmente entram em depressão, fechem suas contas e se calem. Isso é um novo instrumento de censura.

A gente não pode mais imaginar a censura como a gente tinha anos atrás, nem a ditadura e nem a censura, a gente tem que mudar um pouco a lógica como a gente pensava nisso. Antigamente tinha um sistema ditatorial sendo implantado com tanques nas ruas, com fechamento de jornais, com prisão de jornalistas. Não estamos vendo isso no Brasil hoje, os instrumentos são outros, as ferramentas são outras. Então na internet que é onde todos nós temos a possibilidade de ter voz, essa ferramenta do escracho com grupos muito organizados, treinados por esses grupos como a Rede Atlas foi muito eficiente.

Eu faço parte da diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e recebemos no ano passado, e esse ano não mudou muita coisa, muito pedido de ajuda de jornalistas para saber o que eu faço: eu publiquei uma matéria e tem 800 pessoas no meu twitter falando as maiores barbaridades, e não são só ataques gratuitos que a gente eventualmente pode olhar e dizer, isso aqui é um xingamento gratuito, não, são coisas muito bem direcionadas para essas pessoas. Você tem certeza que é jornalista, você comprou o diploma aonde. É um escracho em cima daquilo que é mais caro para gente que é a apuração do fato, o tratamento da verdade, o equilíbrio.

Esse sistema acabou fazendo com que nossos colegas jornalistas no país todo, muitos deles, na internet, se calassem, tivemos muita gente fechando conta, como twitter, gente que parou de comentar assuntos mais espinhosos, só comenta amenidades, gente que parou de postar. Isso é um instrumento de censura pós-moderna que estamos vendo atuar no Brasil e no mundo, isso não é uma criação brasileira, esse sistema de ataque digital através do escracho está funcionando na Hungria, na Polônia, na Itália, nos Estados Unidos, está acontecendo em vários países do mundo.

Demori falou sobre o papel da imprensa na Operação Lava-Jato

BdF RS: E o que aconteceu no Brasil nesse meio tempo, entre 2013 e hoje?

Leandro: Além da gente ter essa nova ferramenta de censura aos jornalistas atuando, a gente teve um movimento do dinheiro que ia para financiar a grande imprensa. Este movimento é bastante conhecido nos meios acadêmicos, monitorado, objeto de pesquisas, mas a gente, no mundo fora da academia não costuma dar muita atenção para isso. O que é importante a gente saber, boa parte do dinheiro que financiava a imprensa até cinco, sete, oito anos atrás vinha de empresas privadas, ainda vem, mas era muito mais dinheiro do que é hoje. Para onde esse dinheiro foi? Esse dinheiro foi para a internet, o dinheiro que vendia antes margarina, automóvel e shampoo na imprensa, boa parte desse dinheiro foi para a internet. Mas ele não foi para a internet para o site da galera que está aqui fazendo o encontro, esse dinheiro foi para duas empresas no mundo, Google e Facebook.

Então você enfraquece a imprensa tradicional que, apesar de todos os seus pecados, muitas vezes faz jornalismo sério, e tem bons repórteres na mídia tradicional, a gente não pode negar isso, e você não tem nada para colocar no lugar porque esse dinheiro não vai para fomentar uma imprensa independente. Então você tem um buraco de informação. Esse dinheiro vai para corroer Facebook, sendo que principalmente o Google, com as suas redes sociais, com o whatsapp. Esse dinheiro é usado para fomentar o que a gente vê hoje que é basicamente uma máquina de ódio. As pesquisas já mostram há algum tempo que o que chama mais atenção das pessoas na internet é o ódio. O ódio é o sentimento humano que mais tem poder de engajamento social na internet, então se você olhar hoje a dinâmica no Twitter e no Facebook, por exemplo, você vê o período claramente da máquina do ódio.

É interessante para as empresas do vale do Silício, que lidam com redes sociais, que a gente fique o maior número de horas possíveis com seus aplicativos ligados. O que engaja mais e o prende mais a nossa atenção é o ódio. Então a gente teve o dinheiro saindo da imprensa e indo alimentar a máquina do ódio. Nesse meio tempo a gente não viu um ecossistema de mídia independente no Brasil que seja capaz de suprir esse buraco de informação e ai temos o crescimento de rede de fake news, de site de fake news, de redes gigantescas de whatsapp mandando contra-informação e desinformação, porque as pessoas são curiosas, elas querem ser informadas, querem saber das coisas.

E se elas não estão mais contentes com o que estão vendo na televisão, eu vi telejornal com meus pais três semanas atrás, uma experiência que eu nunca mais tinha tido desde quando eu sai de casa aos 19 anos, tenho quase 40, essas coisas cotidianas a gente não faz mais. Eu vi com eles o Jornal da Globo. Eles não entendem nada do que está sendo dito, todas as reportagens meus pais perguntavam o que é isso aqui, quem é essa pessoa, eles são completamente alheios a maneira como a grande imprensa sai, que é um módulo completamente usando linguagem burocrática, jargão jornalístico, não se aproxima da população, não tem a preocupação de explicar e de concatenar as coisas que estão sendo ditas, é como se fosse uma novela eterna contada capítulo por capítulo que você já deixou de acompanhar há muito tempo, e um belo dia você liga a televisão, olha um pedaço e não entende absolutamente nada, porque os personagens que você conhecia já morreram, tem personagens novos, aquilo não está explicado, não tem relação lógica entre uma coisa e outra.

BdF RS: E como pensar uma nova comunicação? Como fortalecer a mídia independente?

Leandro: Então, mesmo a população que não é especialista em imprensa, em mídia, está cansada desse jeito de fazer imprensa, e ela não soube onde buscar informação confiável porque o ecossistema de mídia independente brasileiro é muito pequeno e ele ainda perde de uma maneira muito amadora, a gente não se preocupa e não se preocupou até hoje em profissionalizar ele de fato. Jornalistas não sabem mexer com grana, não é a nossa, mas a gente também achou em algum momento que mídia independente era igual que mídia sem grana, mambembe, fazendo de qualquer jeito, e isso nunca vai dar certo. Nós temos que aproveitar esse momento que o Intercept deu de visibilidade para a imprensa pequena, independente, desconhecida no Brasil, quem está com ideia de fazer um site, ou quem já coloca sites independentes tem que se aproveitar, de levantar a mão e mostrar para a população brasileira: eu estou aqui também, sabe esse site Intercept que está dando essas coisas ai que é jornalismo, eu também estou aqui, eu até só mais antigo que o Intercept. Talvez a maioria dos sites que estão participando hoje aqui, ou que a gente conhece, Brasil de Fato, Repórter Brasil, Ponte, Lola (que há 12 anos está mantendo um blog), é o momento que a gente tem para levantar e falar, estou aqui.

"A gente não vai conseguir criar um ecossistema de mídia independente brasileiro se a gente ficar com essa de que ser independente significa ser meio mambembe"

Não sei se vocês têm notado, mas o discurso de parte da grande imprensa hoje é falar em imprensa profissional, jornalismo profissional. Sempre tem propaganda de jornalismo de grande imprensa, o quer dizer semioticamente que quem não está ali não é profissional, é amador, e jornalismo amador não vai fazer nada, não levar a gente a lugar nenhum. Jornalismo precisa ter grana para fazer jornalismo sério, jornalismo sério custa muito caro, a gente precisa ter repórter, checador, editor, arte. O que a gente produz tem que ser bonito, tem que chamar atenção das pessoas, tem que ser bem-acabado, não pode ser de qualquer jeito. Mesmo para gente economizar espaço, a gente economiza com whatsapp, onde a gente vai ter informação mais simples, mais direta, mais curta, com mais imagem, vídeos curtos, memes, mesmo para isso é preciso atuar profissionalmente. A gente não vai conseguir criar um ecossistema de mídia independente brasileiro se a gente ficar com essa de que ser independente significa ser meio mambembe, de qualquer jeito, que dinheiro é ruim, sou contra essa visão de mundo. Acho que a gente tem que aproveitar esse momento para profissionalizar o nosso ecossistema de mídia independente para suprir esse buraco que foi deixado pela falta de grana da mídia tradicional.

A editora Abril, uma das maiores editoras do mundo, tinha centena de revistas, era uma potência absurda, e faliu, a maior parte das revistas foram fechadas, e as revistas que estão sendo tocadas lá hoje, muitas delas, eu conheço por dentro a estrutura, estão sendo tocadas de maneira semi-amadoras. Se pegar revistas antigas, Exame, você vai ver cinco pessoas na redação, é uma penúria total.

BdF RS: E como entra a Lava-Jato nesse contexto?

Leandro: A Lava-Jato surge no pós-2013, nesse cenário de que a imprensa brasileira tradicional está em crise, uma crise econômica que acaba levando a uma crise de jornalismo de fato, porque sem grana a imprensa grande tem menos poder de fazer jornalismo, de levar repórter não sei para onde, isso tudo custa muito caro. A gente tem essa galera que foi para rua em 2013, que foi treinada para colonizar o meio digital e destruir reputações, criou-se uma máquina que funciona muito bem, que intimida mesmo, que faz com que as pessoas realmente pensem um milhão de vezes antes de voltar a carga na internet depois de sofrer esses ataques coordenados, pagos, financiados, muitas vezes com dinheiro público porque muitas vezes são assessores que estão trabalhando em Brasília e que estão tocando isso.

A gente tem a Lava-Jato surgindo nesse momento. O que ela faz? Ela surge para a imprensa quase como um salvador da pátria em termos de notícia, porque a Lava-Jato fornece para a grande imprensa brasileira um pequeno clube de repórteres que estavam próximos à Curitiba notícia diária, com alto poder explosivo, com altíssima audiência grátis. Em um momento em que o país está em eclosão social, a imprensa está muito enfraquecida, porque também depende de dinheiro público para se sustentar muitas vezes, e o poder de investigação dos nossos jornalistas independentes ainda é muito baixo porque é de pequeno alcance, não supre esse vácuo, a imprensa que cobriu a Lava-Jato vê nos procuradores, policiais federais, a salvação da lavoura. Além de ter um alinhamento obviamente ideológico, um alinhamento de visão de mundo, tem uma visão de mundo que é a cobertura da imprensa a partir do Estado não esqueçamos nunca, a Lava-Jato é o Estado, o Ministério Público Federal é o poder, uma instituição do Estado. Temos ali de novo a cobertura da classe política para se fazer cobertura policial dos jornais brasileiros dos anos 70, a partir do delegado, a partir do agente policial, e quando a história parte disso ela tem um viés, e quem está abaixo disso na história é o vagabundo.

A gente tem uma cobertura da Lava-Jato a partir do Estado, com alinhamento ideológico, com uma visão de mundo quase perfeito entre esses meios de comunicação e os procuradores, que são a elite brasileira. Eles tentaram vender essa farsa que são combatentes do Estado, é uma briga entre estados, estão tentando só substituir peças, mas não é revolucionário esse movimento deles, longe disso. Para a imprensa é isso, notícia grátis, todos os dias, você como um repórter numa fonte da Lava-Jato e pronto, você passa cinco anos participando dessa máquina que a gente viu hoje, pelas revelações do Intercept, que foi uma máquina de destroçamento de reputações, foi uma máquina de cometimento de injustiças, a gente não pode usar a palavra justiça para a Lava-Jato, passa longe disso.

Publicamos mais uma reportagem mostrando que o Sérgio Moro além de comandar o MPF, que é ilegal, comandava também as ações da polícia federal, temos aquele caso da polícia federal falando: “poh, Sérgio Moro pediu um negócio sem nenhum de nós ter requisitado”, e o delegado falar: “deixa quieto, não espalha”. Então assim, não é um sistema de justiça, é um sistema de produção de narrativas. A gente viu na reportagem que foi dada junto com a Folha de São Paulo, que, por exemplo, nos dias em que o ex-presidente Lula estava conversando para virar ministro da Dilma houve 22 interceptações telefônicas, e o Sérgio Moro só liberou uma de 90 segundos, que vocês sabem muito bem qual é, que o áudio que a Dilma fala do Messias, do papel, onde estão os outros grampos, onde estão essas outras interceptações que foram feitas? Ninguém sabe até hoje, elas se quer foram repetidas no Supremo Tribunal Federal (STF), então nós temos que destruí-las.

E a gente só conseguiu fazer isso graças as revelações da Lava-Jato, tivemos acessos aos policiais federais que estavam na escuta naqueles dias, e teve acesso as anotações deles, e ai a gente pega as anotações, liga para o ex-presidente Temer e fala: “presidente, você conversou com o ex-presidente Lula no dia X, em tal hora, sobre tal assunto? E ele fala, sim, como você sabe disso? Afinal era uma conversa privada”. E aí a gente teve a confirmação de que esses grampos existem. Cadê os grampos? Esses grampos nunca foram publicados porque eles quebrariam a narrativa que estava sendo construída, mostrariam que o interesse principal do ex-presidente Lula à época não era se blindar da Lava-Jato, era fazer com que o governo Dilma voltasse a funcionar, ele estava falando com vários líderes políticos para tentar organizar a bagunça que estava o governo Dilma na época. Então a Lava-Jato é uma máquina de construção de narrativas, está provado, não tem a mínima chance desses caras continuar a falar o que estão falando.

Ontem mesmo o Deltan Dallagnol contou um negócio completamente absurdo, que é uma coisa que já vinha sendo anunciado como mentira, desde a semana passada, quando começou o julgamento da segunda instância. Ontem ele twitta, eu corrigi ele, mas ele não me dá a menor bola, ele posta: segundo a imprensa tem noticiado 190 mil presos poderão ser soltos caso o STF exija o julgamento de terceira ou quarta instância - não existe terceira ou quarta instância, existe transitado em julgado - e na Lava-Jato vão ser 38 pessoas, ou seja, 190 mil como eles gostam de falar, estupradores e assassinos, que viraram os párias da sociedade, serão soltos se o STF reverter a questão. Quer dizer se o STF respeitar a Constituição brasileira.

O que acontece? Não são 190 mil presos, são 4,8 mil, há uma pequena diferença matemática. Ele vai lá e corrige, retificando, mas não apagou. É uma máquina de construção de narrativas criada por um grupo de 20 pessoas, da primeira instância, do judiciário brasileiro que sequestrou membros da imprensa durante cinco, com notícias todos os dias. Eu tenho curiosidade de fazer duas coisas, e não tive tempo de fazer, e se alguém aqui quiser roubar a ideia, por favor, manda o link que eu vou ter o maior prazer em empurrar isso para frente. 1 - quantas e quais são as pessoas que foram pintadas como bandidos na televisão durante meses e hoje são inocentes, uma delas que lembro de cabeça é a esposa de Eduardo Cunha, Cláudia Cruz foi inocentada, gostasse dela ou não, não existem elementos probatórios suficientes para indiciá-la por corrupção, por exemplo. Qualquer pessoa que você abordar na rua e dizer o nome dela, vai chamar de bandida, corrupta, porque a imagem dela é essa. Veja isso não serve só para as pessoas que a gente gosta, a justiça serve para as pessoas que a gente não gosta também, ela é para todos.

A outra curiosidade que tenho é a seguinte, na Itália teve uma operação, que o Sérgio Moro se inspira, que é Mãos Limpas, mas quando o Sérgio Moro fala em um juiz italiano que o inspira ele quer ser comparado, chamado Giovanni Falcone, além de ser ridícula a comparação, ele comete mais uma vez uma fraude pública, porque o juiz Giovanni Falcone não atuou na Mãos Limpas, ele inclusive foi assassinado pela máfia antes da operação existir. O Falcone atua em uma operação na Sicília chamada Maxiprocesso que atacou a máfia siciliana Cosa Nostra. A Cosa Nostra foi ferida muito fortemente nessa época graças a um delator chamado Tommaso Buscetta, um italiano que morou no Brasil inclusive, e o Tommaso foi um mafioso durante a vida toda e quando ele é preso aqui no Brasil pela segunda vez durante a ditadura militar, o Giovanni vem até aqui, encontra ele, os dois eram sicilianos, se entendem e decide colaborar com a justiça, se torna Pepito, o que aqui no Brasil chamamos de delator. Ele dá um depoimento para o Falcone que dura dias, e depois durante anos colabora com o Falcone. O Falcone, com um delator, bota na cadeia mais ou menos 360 mafiosos. Eu tenho a impressão, hoje, que a Lava-Jato no Brasil, tem mais delatores do que réus, e não estou exagerando, só a Odebrecht tem uns 80,no Rio de Janeiro deve ter mais uns 100. Eu gostaria que alguém tivesse a capacidade de fazer esse cálculo e botar claramente que teve mais gente que se beneficiou da Lava-Jato enquanto delator do que gente presa. O paciente zero da Lava-Jato, Alberto Youssef, já tinha sido delator no caso Banestado. Uma das obrigações do delator depois que ele delata, é não voltar a cometer os mesmos crimes que estava cometendo antes, o Youssef, volta a cometer crimes depois do caso Banestado, cujo juiz era o Sérgio Moro, e eles dão uma nova delação, está solto.

 

 

Edição: Katia Marko