Rio Grande do Sul

SINDICALISMO

Seminário debate mudanças no mundo do trabalho e a política sindical

Atividade promovida pela Federação dos Metalúrgicos do RS reuniu representantes de entidades de classe e patronais

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Evento foi realizado no auditório do Sindipolo, em Porto Alegre
Evento foi realizado no auditório do Sindipolo, em Porto Alegre - Fotos: Renata Machado

Em torno de 100 dirigentes sindicais, de diversas regiões do Rio Grande do Sul, lotaram o auditório do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petroquímica de Triunfo (Sindipolo), em Porto Alegre (RS), no seminário sobre relações sindicais “Mudanças estruturais no mundo do trabalho: Desafios para a reestruturação do movimento sindical e do sistema de negociação coletiva”, na manhã desta segunda-feira (28). A atividade reuniu representantes de entidades de classe e patronais e foi promovida pela Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (FTM-RS). O objetivo era debater e criar respostas para reestruturar a relação sindical.

O sociólogo e diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, enfatizou o processo de mudanças profundas que atravessa o processo produtivo no mundo todo. “O mundo do trabalho está mudando, não sabemos o que virá pela frente, nem os empresários sabem. Mais de 100 países já fizeram reformas trabalhistas e isso era uma demanda do setor industrial mundial”, conta. Outra alteração que, para Clemente, precisa ser levada em conta é há mudanças também nos proprietários das empresas e no investimento feito. “Atualmente, a taxa de investimento é de apenas 1/4 do lucro da indústria”.

Todas essas alterações se refletem nos mais diversos segmentos. “Há uma estagnação mundial, que impede o crescimento e faz com que o desemprego se torna estrutural, aumentando a flexibilização do trabalho e diminuindo os salários”, exemplificou. De acordo com ele, devido a desindustrialização no Brasil, estamos hoje, no mesmo patamar que na década de 1950.

“É um momento crítico e desfavorável. O mundo vai pegar fogo, pois os resultados desse modelo industrial não são aceitáveis”, declarou Clemente que afirmou ainda que, segundo dados do IPEA, nos próximos 10 anos, 60% dos trabalhadores terão mudanças nas suas relações de trabalho. “Tudo o que construímos e sabemos até agora de movimento sindical não pode ser referência para o movimento sindical aqui para frente”, garantiu.

Entidades patronais também enfrentam dificuldades

Estagnação mundial leva a cenário de desemprego e corte de direitos

Destacando as dificuldades que os empregadores enfrentam, o vice presidente do Sinmetal, coordenador da Comissão de Negociação da CCT do Sinmetal e vice coordenador da Contrab-FIERGS, Guilherme Scozziero, salientou o alto número de empresas fechando. "A indústria tem menos e paga mais, pois neste processo de desindustrialização, houve um aumento significativo de impostos e poucos investimentos", disse.

De acordo com ele, muitas empresas pequenas são de famílias e os filhos não querem dar continuidade, não querem empreender. Além disso, Guilherme acredita que a situação é ainda pior para os empregadores, pois as entidades patronais estão sendo muito impactadas a alteração no descinto compulsório, porém defendeu que a Reforma Trabalhista trouxe segurança jurídica para as empresas. "Há realidades muito diferentes até entre os municípios, quem perde tempo no trânsito pode gostar de ter 30 minutos de intervalo e sair mais cedo, por exemplo".

Ele também defendeu que os trabalhadores precisam ser ouvidos, pois acredita que muitos querem flexibilizar a jornada. Para Guilherme, a unicidade deixará de existir, porém ele também crítica também a pluralidade sindical. "Precisamos de interlocutores qualificados e de ponta, com capacidade de fazer com que os diálogos e as negociações evoluam. Tanto que estamos aqui reunidos, buscando o melhor para o movimento sindical", concluiu.

O coordenador da Comissão de Negociação da CCT do Simers, Edison Hauser falou da representatividade do sindicato e destacou o mercado gaúcho, que produz 62% das máquinas agrícolas de todo o Brasil. "O Simers prima por uma relação construtiva com todas as entidades. Para isso é importante reconhecer os papéis de cada um e buscar encontrar soluções conjuntas".

Já o advogado e assessor jurídico do Simers, Thiago Guedes, abordou aspectos jurídicos das negociações. Para ele, a reforma sindical que se avizinha pretende fazer o que diziam que fariam na Constituição Federal de 1988. "O risco neste momento, é que qualquer mudança legislativa pode dar errado", ponderou ele.

Thiago endossou a importância de uma reestruturação sindical com unidade. "Nosso maior impasse nas negociações e dar conta de atender demandas de grandes empresas como AGCO, John Deere e de inúmeras outras pequenas empresas que são atendidos pela mesma convenção". Segundo ele, é preciso deixar os sindicatos vivos, por isso, esse não é o momento de estabelecer posições duras.

"O nosso objetivo é fazer com que as convenções cheguem e sejam cumpridas por todas a empresas, para isso o pequeno empresário, assim como o trabalhador precisa entender o papel e a importância das entidades sindicais, sejam patronais ou de trabalhadores", enfatizou.

Repensar o movimento sindical

Movimento sindical passa por grandes transformações e requer transformações

Por fim, o secretário de Finanças da FTM-RS, Milton Viário recordou que há quatro anos, a Federação iniciou um trabalho diferenciado com as entidades filiados no que toca a representatividade e organicidade. "Não podemos ter ilusões com a relação sindical e para isso é importante entender o papel de cada um. O relacionamento sindical é pragmático, embora seja um relacionamento de diferentes”.

Outro aspecto salientado por ele é que estamos num período de transição, isso é difícil pois muda o paradigma. "O papel do Sindicato sempre foi de fiscal da lei, é isso está se modificando. Por isso, é necessário a construção de um novo dirigente, de um novo sindicato e de novas relações".

Milton apontou quatro elementos fundamentais na construção de uma nova cultura sindical: padrão que identifique os metalúrgicos da CUT, desenvolver a escuta, relação direta sem intervenção do estado e por último, a necessidade de preservar a figura do negociador.

“É consenso que a industrialização ou a reindustrialização é primordial para o desenvolvimento do país e também para o movimento sindical. Para que se reestruture e para que os trabalhadores adquiram capacidade de se tornar protagonistas no processo de transformação, colocando seus interesses e visão de mundo na construção da sociedade e da economia do futuro com justiça, igualdade, solidariedade e paz para todos”, finalizou Milton.

Após, o debate foi aberto para a plenária.

Edição: Marcelo Ferreira