Lá no alto, a bandeira Mapuche e um céu em chamas anunciam que precisamos saber quem somos. Na primeira carta, Américo Vespúcio já avisou o rei: “Se existe paraíso no mundo, este paraíso é a América”. Desceram da nau com espelhos e bíblias. Como escreve Galeano, mandaram os nativos fechar os olhos e rezar. “Eles tinham a Bíblia e nós a terra. Quando abrimos os olhos eles tinham a terra e nós a Bíblia”. E desde então a tragédia do assalto do império se repete. O nome geral é exclusão em troca de riquezas que esta terra produz e manda para o império. Já foi ouro, hoje é petróleo e outras jóias de mercado, mas o filme se repete e o final todos já sabem. Perdem pobres, índios e os que nada têm. Os juízes, os pastores, os ditadores tratam de encurralar o rebanho com outras bíblias e espelhos.
A história é feita de emblemas e esta foto de Santiago do Chile plasma agora o mais claro retrato destes tempos. Como se fosse um aviso: Abrimos os olhos, não nos iludam com a Bíblia e a retórica, queremos a terra. O sul da América, garrão do mundo, é pobre, camponês, herda dos povos da floresta a pureza ancestral mas há a dança de guerra e o alerta que não vingarão os espelhos e suas falsificações. As vezes uma imagem é apenas o espelho para saber quem somos. A bandeira Mapuche nos lembra a árvore Pampa e seus sinais de imensidão, insubmissão e liberdade. O céu incendiado avisa que o horizonte tem que mudar, clarear e oferecer esperança. O sinal está dado. Quem não entender, talvez não sobreviva.
* Renato Dalto é jornalista
Edição: Marcelo Ferreira