Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Aos estimados educadores: esperançar é preciso!

"Que nesses dias de luta, e sempre, estejamos de cabeça erguida"

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
"Todos passaram por bancos de escola, aprenderam as primeiras lições de pedagogia orientados por um professor"
"Todos passaram por bancos de escola, aprenderam as primeiras lições de pedagogia orientados por um professor" - Foto: Fabiana Reinholz

Ainda que lembro de você, professor e professora, com apreço e carinho, desde a minha infância na escola, e julgo insuficiente lhe fazer homenagem um dia apenas no ano. Contudo, assim foi concebido no passado. Poucos questionam.

Na minha infância, o professor era uma pessoa importante, acima da média. Se destacava na comunidade. Era lembrado, bem-vestido, elegante, falava corretamente. Sua caligrafia dava inveja. Em sua casa haviam livros e, por isso, era visto como letrado. Sua orientação superava o que ouvia em casa. A família, a seu modo, ajudava a escola, porque acreditava que educar, ensinar e humanizar era uma tarefa para a vida toda.

Na atualidade, vemos perceptíveis mudanças, não para o melhor, infelizmente. O professor é desrespeitado, desconsiderado, mesmo que sem ele, não teríamos médicos, advogados, arquitetos, escritores, entre outras profissões. Todos passaram por bancos de escola, aprenderam as primeiras lições de pedagogia orientados por um professor.

O projeto hegemônico do capital desconsidera a importância desta nobre profissão da qual eu me orgulho, porque alcancei, com esforço pessoal, um conhecimento superior ao que o capital havia pensado para uma filha de camponeses. O projeto do capital desqualifica e desvaloriza o professor à medida que determina seu salário inferior a qualquer outra profissão. Quando admite que este trabalhe 60 horas para sobreviver, quando não é incentivado a ser pesquisador. Quando é machucado em sua dignidade, porque contratado temporariamente, sem nenhum direito legal de futuro. Sobretudo, quando é agredido pelas autoridades públicas, pelos alunos e/ou pais, e se vê fotografado nos meios de comunicação, ensanguentado e em lágrimas, a beira da depressão, da dor e do medo de na manhã seguinte retornar à escola.

Mas há uma esperança, porque lutamos! Paulo Freire, patrono da educação brasileira, sempre esteve ao nosso lado. Mesmo vivendo em outra dimensão, nos dirige uma palavra: esperançar é preciso! Em seu legado pedagógico encontramos lições de aprendizados de que vale a pena ser educador do povo, estudioso, comprometido com a classe trabalhadora, e persistente em seus sonhos. Aquele que dá aula pensando na transformação social, sem medo e com ousadia. Aquele cuja luta é sua munição cotidiana e que não se deixa abater por mais de cinco minutos.

Recentemente tenho lido sobre a Educação Russa no período de Lenin - 1919 a 1930. Os educadores Pistrak, Krupskaya, Shulgin, Makarenko, e outros, ousaram escrever sobre o papel dos educadores na escola, e como deveria ser a educação, o ensino e a formação humana na perspectiva socialista. Oxalá essa literatura pudesse alcançar a formação dos educadores brasileiros, aqueles e aquelas que buscam persistentemente construir uma nova escola, sem cercas e muros, em detrimento de casas de prisão, que aprisionam os sonhos de tantos jovens pobres e negros, com pouca escolaridade.

Que nesses dias de luta, e sempre, estejamos de cabeça erguida, marchando indignados contra as injustiças cometidas em qualquer parte do mundo contra um educador e educadora.

* Mestre e doutora em Educação pela UFRGS. Do Setor de Educação do MST.

Edição: Marcelo Ferreira