Ainda que lembro de você, professor e professora, com apreço e carinho, desde a minha infância na escola, e julgo insuficiente lhe fazer homenagem um dia apenas no ano. Contudo, assim foi concebido no passado. Poucos questionam.
Na minha infância, o professor era uma pessoa importante, acima da média. Se destacava na comunidade. Era lembrado, bem-vestido, elegante, falava corretamente. Sua caligrafia dava inveja. Em sua casa haviam livros e, por isso, era visto como letrado. Sua orientação superava o que ouvia em casa. A família, a seu modo, ajudava a escola, porque acreditava que educar, ensinar e humanizar era uma tarefa para a vida toda.
Na atualidade, vemos perceptíveis mudanças, não para o melhor, infelizmente. O professor é desrespeitado, desconsiderado, mesmo que sem ele, não teríamos médicos, advogados, arquitetos, escritores, entre outras profissões. Todos passaram por bancos de escola, aprenderam as primeiras lições de pedagogia orientados por um professor.
O projeto hegemônico do capital desconsidera a importância desta nobre profissão da qual eu me orgulho, porque alcancei, com esforço pessoal, um conhecimento superior ao que o capital havia pensado para uma filha de camponeses. O projeto do capital desqualifica e desvaloriza o professor à medida que determina seu salário inferior a qualquer outra profissão. Quando admite que este trabalhe 60 horas para sobreviver, quando não é incentivado a ser pesquisador. Quando é machucado em sua dignidade, porque contratado temporariamente, sem nenhum direito legal de futuro. Sobretudo, quando é agredido pelas autoridades públicas, pelos alunos e/ou pais, e se vê fotografado nos meios de comunicação, ensanguentado e em lágrimas, a beira da depressão, da dor e do medo de na manhã seguinte retornar à escola.
Mas há uma esperança, porque lutamos! Paulo Freire, patrono da educação brasileira, sempre esteve ao nosso lado. Mesmo vivendo em outra dimensão, nos dirige uma palavra: esperançar é preciso! Em seu legado pedagógico encontramos lições de aprendizados de que vale a pena ser educador do povo, estudioso, comprometido com a classe trabalhadora, e persistente em seus sonhos. Aquele que dá aula pensando na transformação social, sem medo e com ousadia. Aquele cuja luta é sua munição cotidiana e que não se deixa abater por mais de cinco minutos.
Recentemente tenho lido sobre a Educação Russa no período de Lenin - 1919 a 1930. Os educadores Pistrak, Krupskaya, Shulgin, Makarenko, e outros, ousaram escrever sobre o papel dos educadores na escola, e como deveria ser a educação, o ensino e a formação humana na perspectiva socialista. Oxalá essa literatura pudesse alcançar a formação dos educadores brasileiros, aqueles e aquelas que buscam persistentemente construir uma nova escola, sem cercas e muros, em detrimento de casas de prisão, que aprisionam os sonhos de tantos jovens pobres e negros, com pouca escolaridade.
Que nesses dias de luta, e sempre, estejamos de cabeça erguida, marchando indignados contra as injustiças cometidas em qualquer parte do mundo contra um educador e educadora.
* Mestre e doutora em Educação pela UFRGS. Do Setor de Educação do MST.
Edição: Marcelo Ferreira