A Mostra Ela na Tela chega à sua quinta edição em Porto Alegre promovendo visibilidade à realizadoras audiovisuais, em meio a um mercado historicamente de maioria masculina e atualmente sob ataques do governo federal através de censuras a obras que tratam de temáticas como gênero e representatividade. Entre os dias 24 e 27 de outubro, o cinema da Casa de Cultura Mário Quintana apresenta filmes dirigidos e protagonizados por mulheres de vários estados brasileiros e de países latino-americanos. Neste ano, o evento conta com a exibição de 20 curtas-metragens, três longas e debates sobre a mulher e o mercado audiovisual.

“As mulheres são mais de 50% da população brasileira. Mesmo assim, segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine), o número de mulheres que produziu longas-metragens Certificados de Produto Brasileiro emitidos no ano de 2018 é equivalente a 20%”, explica Isabel Cardoso, realizadora audiovisual e uma das organizadoras da mostra. Para ela, esse cenário pode causar uma grande reflexão sobre que histórias estão sendo contadas, replicadas e para quem se destina. “É necessário que a gente tenha um espaço para conversar e expor as nossas narrativas. É necessário que evidenciemos e façamos pesquisas referentes ao número de mulheres, negros e negras, LGBTQI+ e indígenas que fazem cinema nacional”, aponta.

A busca pela igualdade de gênero no cinema é fundamental, opina Isabel. “Embora a maior parte das faculdades tenham mulheres se formando em cinema e audiovisual, quem tem mais oportunidade, quem tem mais visibilidade e mais credibilidade, por questões culturais, são os homens. Em qualquer cargo. São eles, inclusive, que contratam e definem quem são os outros homens que vão compor a equipe. Nós mulheres estamos há um tempo criando um movimento de se indicar e se contratar, que proporciona força e formas de nos mantermos no mercado”.

A mostra abre com um debate sobre "Mulheres na Direção", no dia 24, com as realizadoras Denise Marchi e a Dani Israel. Traz também três longas seguidos de debates com as diretoras: "Auto de Resistência", documentário sobre o movimento de mães e familiares na cidade do Rio de Janeiro que combate a violência policial, institucional e racista que mata jovens negros na capital carioca; "Vozes da Floresta", documentário que conta a história de mulheres indígenas, quilombolas e ribeirinhas que lutam contra a apropriação do agronegócio e das barragens em seus territórios; e "Torre das Donzelas", também documentário, sobre mulheres que enfrentaram a ditadura e dividiram a cela durante os anos de repressão, entre elas a ex-presidenta Dilma Roussef.

Durante os quatro dias da programação, sempre às 17h30, serão exibidos, separados em blocos, os 20 curtas-metragens selecionados entre mais de 240 inscritos. “Buscamos selecionar filmes que representassem as mulheres em todos os ambientes em que ela está presente. Temos filmes que pautam violência policial contra jovens negros, filmes que pautam a ocupação urbana, filmes que trazem a temática da mulher trans em momentos distintos da vida, filme que conta a vivência da mulher indígena artesã e a importância da ancestralidade”, conta Isabel.

A mostra tem ainda um caráter de resistência aos ataques à cultura promovidos pelo governo federal. “Muitos dos filmes selecionados seriam censurados de acordo com o que vem sendo colocado como apto a ser financiado enquanto obra audiovisual”, avalia. “Nosso posicionamento vem sendo claro desde o início. Sempre fomos contra o desmonte da educação, da saúde, dos direitos trabalhistas e também contra a censura. Nossa forma de combate é proporcionar uma janela de exibição com o maior número de representatividade de mulheres possível dentro dos filmes que foram inscritos. O governo Bolsonaro ataca todas as formas de liberdade e são muitas das formas de visibilidade que incomodam.”

Completando cinco anos de mostra, Isabel recorda das edições anteriores da Ela na Tela e do importante papel de promover espaços de força e resistência e proporcionar voz e lugares de fala.“Um momento marcante foi a exibição do longa-metragem ‘Café com Canela’, em 2017, onde trouxemos a Glenda Nicácio, que dirigiu o filme junto com Ary Rosa, para debater sobre o longa. Lotamos a Cinemateca Capitólio. Foi lindo! Foi uma noite de muitos compartilhamentos sobre o afeto e acolhimento que o filme traz. Acredito que esse seja um dos nossos maiores objetivos, para além de pautar sobre qual é o nosso espaço dentro dos sets de filmagem e de quem somos nas telas, queremos propor acolhimento para quem quer que se identifique com os movimentos de mulheres. Só é possível fazer a mostra por causa da força das mulheres jovens que iniciaram a quarta onda feminista”, conclui.

A entrada para as sessões custa R$ 6 na quinta-feira e R$ 7 na sexta, sábado e domingo. O debate de abertura tem entrada franca. Confira a programação completa:

Dia 24/10 (quinta-feira)

14h30 - Local: Sala Sérgio Napp 2

- Debate sobre Mulheres na Direção com Dani Israel e Denise Marchi

​17h30 - Local: Sala Norberto Lubisco

Bloco de curtas selecionados:

- Apenas o Que Você Precisa Saber Sobre Mim – 2018. Santa Catarina, Brasil. Ficção. 15min. Direção: Maria Augusta V. Nunes.

- Ari y Yo – 2019. San Antonio de los Baños, Cuba. Documentário. 12min. Direção: Adriana de Faria.

- Só Sei Que Foi Assim – 2019. Rio Grande do Sul, Brasil. Animação. 7min. Direção: Giovanna Muzel.

- Como Ficamos da Mesma Altura – 2019. Alagoas, Brasil. Ficção. 17min. Direção: Laís Santos Araújo.

- Sem Asas – 2019. São Paulo, Brasil. Ficção. 19min. Direção: Renata Martins.

19h15 - Local: Sala Paulo Amorim

Longa-metragem convidado:

- Auto de Resistência – 2018. Rio de Janeiro, Brasil. Documentário. 104min. Direção: Natasha Neri e Lula Carvalho.

+ Debate com Natasha Neri

Dia 25/10 (sexta-feira)

17h30 - Local: Sala Norberto Lubisco

Bloco de curtas selecionados:

- SAMPLE – 2018. São Paulo, Brasil. Ficção. 15min. Direção: Ana Julia Travia.

- Brasil x Holanda – 2018. Brasil. Ficção. 19min. Direção: Caroline Biagi.

- Prefiro Não Ser Identificada – 2018. Rio de Janeiro, Brasil. Experimental. 20min. Direção: Juliana Muniz.

- Megg – a Margem que Migra para o Centro – 2018. Paraná, Brasil. Documentário. 15min. Direção: Larissa Nepomuceno Moreira e Eduardo Sanches.

- Peixe – 2019. Minas Gerais, Brasil. Ficção. 17min. Direção: Yasmin Guimarães.

19h15 - Local: Sala Paulo Amorim

Longa-metragem convidado:

- Vozes da Floresta – 2018. Brasil. Documentário. 95min. Direção: Betse de Paula.

+ Debate com Betse de Paula

Dia 26/10 (sábado)

17h30 - Local: Sala Norberto Lubisco

Bloco de curtas selecionados:

- Alfazema – 2019. Rio de Janeiro, Brasil. Ficção. 24min. Direção: Sabrina Fidalgo.

- Diriti de Bdè Burè – 2018. Goiás, Brasil. Documentário. 18min. Direção: Silvana Beline.

- MARCO – 2019. Ceará, Brasil. Ficção. 20min. Direção: Sara Benvenuto.

- Céu da Boca – 2019. Rio Grande do Sul, Brasil. Animação. 7min. Direção: Amanda Treze.

- Rua Augusta, 1029 – 2019. São Paulo, Brasil. Ficção. 10min. Direção: Mirrah Iañez.

19h15 - Local: Sala Paulo Amorim

Longa-metragem convidado:

- Torre das Donzelas – 2018. Brasil. Documentário. 97min. Direção: Susanna Lira.

+ Debate com Susanna Lira

Dia 27/10 (domingo)

17h30 - Local: Sala Norberto Lubisco

Bloco de curtas selecionados:

- La Flaca – 2018. São Paulo, Brasil/ Nova York, EUA/ Cidade do México, México. Documentário. 20min. Direção: Adriana Barbosa e Thiago Zanato.

- Nina – 2017. Argentina. Animação. 3min. Direção: Isabel Macias.

- Julieta de Bicicleta – 2018. Paraná, Brasil. Ficção. 15min. Direção: Juliana Sanson.

- MC Jess – 2018. Rio de Janeiro, Brasil. Ficção. 20min. Direção: Carla Villa-Lobos.

- Filhas de Lavadeiras – 2019. DF, Brasil. Ficção. 22min. Direção: Edileuza Penha de Souza

Edição: Marcelo Ferreira