Rio Grande do Sul

OPINIÃO

Artigo | Porto Alegre, a unidade em primeiro lugar

Com proximidade das eleições municipais, além da unidade partidária, é necessária uma confluência de cidadãos comuns

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Frente que reúne partidos de esquerda, entidades e movimentos foi lançada no RS no dia 7 de outubro
Frente que reúne partidos de esquerda, entidades e movimentos foi lançada no RS no dia 7 de outubro - Foto: Alexandra Garcia

Não é de hoje que os partidos de esquerda nos devem uma unidade para enfrentarmos as eleições em Porto Alegre. Creio que a maioria das pessoas progressistas e de esquerda de nossa cidade não aceitam mais que os diferentes interesses internos dos partidos estejam acima da construção de uma confluência de forças capaz de vencer as próximas eleições. Esse sentimento e significado de uma unidade entre o PT, PSOL e PCdoB, desde o primeiro turno, ecoa nas conversas das ruas e das redes e desperta um sentimento de otimismo com a possibilidade. Sim, assim podemos ganhar!

Acredito também que não podemos deixar que essa construção passe somente pelas instâncias internas dos partidos, pelas reuniões entre os dirigentes ou pelas ‘frentes de entidades’. Precisamos construir uma confluência de cidadãos comuns, filiados ou não aos partidos, que ajudem a empurrar por um amplo movimento político pela unidade. Essa confluência de cidadãos entra como um quarto elemento, além dos três partidos, nessa tentativa de unidade e talvez seja a mais importante nesse momento. Bora lá construir esse fórum!

A realização de prévias, defendidas publicamente pelo Tarso Genro e pelo PSOL, com a qual eu tenho grande simpatia, não garante a unidade real se não for precedida de um grande acordo pela unidade, vindo dos partidos políticos. Uma prévia que se torne uma disputa pública entre os partidos, cada um com seu candidato, pode resultar num efeito contrário. Foi assim nas prévias do PT em 2002 na disputa entre Tarso Genro e Olívio Dutra para um segundo mandato da Frente Popular. O debate público sobre as divergências entre os dois postulantes ganhou uma proporção e uma polarização interna destrutiva. Além de desmobilizadora internamente, a peleja respingou no eleitorado dando argumentos para a vitória da oposição da época. Então, uma prévia só pra bater chapas, uma contra a outra, não é do que precisamos nesse momento.

Mas um ‘processo’ de prévias que arranque com um sentimento de unidade e que possa mobilizar as bases partidárias e apoiadores comuns, sem partidos, para discutirmos os novos rumos da cidade nas principais áreas – democracia participativa, saúde, educação, segurança, transporte, cultura e valorização dos serviços públicos – acrescentará muito e deve ser o caminho para construção de nossa vitória na cidade. Também, creio que seja importante um compromisso comum dos partidos e candidatos em relação ao financiamento de campanhas e do combate a corrupção.

Atualmente, a Manuela d’Ávila aparece como a candidata mais preparada para encabeçar essa frente cidadã e nos levar à uma vitória. O nome dela na cabeça da chapa não desagrada o PSOL nem o PT, pelo contrário, e está na boca do povo. É um desejo reprimido de nossas bases de esquerda há algumas eleições e que os partidos não conseguiram realizar até agora. Então, creio que se não houver algo de novo, muito importante, esse é um dos pontos que já pode ser pactado entre as partes partidárias.

A questão concreta mais delicada nesse momento é de como formar uma chapa única no primeiro turno, com a escolha de umx vice, que garanta a unidade dos três partidos. O PT é o maior partido de esquerda, por isso e por sua história na cidade, deve ser levado em conta, obviamente. Miguel Rosseto, Maria do Rosário e uma renovação necessária com Marcelo Sgarbossa seriam ótimos nomes para compor a chapa majoritária. O PSOL, que nunca compôs uma frente com o PT e o PCdoB, e que seria a grande novidade positiva nesse cenário, precisa ser atraído para essa chapa de unidade. Também tem ótimos nomes como o da Luciana Genro, Fernanda Melchionna e Pedro Ruas.

Isso poderia se resolver nas negociações entre as partes e/ou numa prévia. O regulamento das prévias poderia prever, por exemplo, separar os votos para prefeita e vice sem vinculações, isso é, cada um vota numa pré-candidata para prefeita e vota num dos pré-candidatos à vice. O mais votado entra na chapa como vice. Outra opção seria os votos de prefeita e vice numa lista corrida, o mais votado entra como candidata a prefeita e o segundo mais votado seria o candidato a vice. Ambas opções podem construir a unidade, mas é inegável que cada uma delas representa interesses distintos entre o PT e o PSOL.

Outra questão importante pra mim, seria a tentativa de dialogar desde já com o PDT de Juliana Brizola e o PSB, num acordo mais amplo anti-Bolsonaro-Marchezan para o segundo turno. E, quiçá, mesmo que difícil, garantir o apoio e composição com eles já num primeiro turno.

Sim, nós podemos vencer essas eleições. Vamos resetar nosso sistema operacional, limpar os bugues e começar de novo. Temos a força da nossa história e realizações na cidade como aliados. Mas, o desafio maior será mostrar o futuro que queremos construir, nas coisas mais simples e cotidianas da cidade. Mostrar que vamos governar juntos, com as pessoas comuns, com mais participação direta e mais democracia. Mostrar que podemos fazer diferente, desde já, na construção dessa vitória possível.

* Profissional de TICs desde sempre e ativista pela liberdade do conhecimento. Softwarelivre.org, Campus Party Brasil, FISL, ConexõesGlobais. http://softwarelivre.org/branco. Twitter @marcelobranco – Facebook/marcelo.branco

Edição: Marcelo Ferreira